Em
dezembro de 2011 facilitei uma oficina para um grupo de mulheres artesãs do
Tumucumaque, no Amapá (ver postagem daquele mês). Dando continuidade ao
trabalho iniciado de organização do grupo de artesãs, controle dos materiais,
de estoque de peças e financeiro, em especial a gestão do capital de giro, foi
feita uma reunião na Missão Tiryó, no dia 23 de agosto, com o grupo de mulheres
daquela aldeia que vai iniciar a produção das peças para comercialização no Rio
de Janeiro, durante uma exposição que o Museu do Índio realizará com as peças
que compraram delas.
Por volta
de 20 mulheres participaram da reunião, entre elas duas que estavam na oficina
em Macapá no ano passado, para decidirem se pagariam pelo material recebido do
Museu do Índio como forma de terem um capital de giro para a sustentabilidade
das atividades. Na primeira venda que fizeram ao Museu do Índio para o seu
acervo e que será exposto nos próximos meses, as artesãs receberam todo o
dinheiro arrecadado com a venda. A conseqüência disso foi não terem dinheiro
depois para comprarem mais miçangas e continuar comercializando as peças.
Além do
exposto acima, expliquei que, por exemplo, um comerciante, ao iniciar o seu
empreendimento, precisa ter um capital inicial para as instalações,
equipamentos, mercadorias e as despesas iniciais até começar a ter o retorno
financeiro de sua atividade. O dinheiro utilizado para a compra das mercadorias
e pagamento dos custos de comercialização e outras despesas é chamado de
Capital de Giro. Isso porque ele é recuperado quando a mercadoria é vendida; os
custos de comercialização e outras despesas, inclusive a remuneração do
comerciante, são pagos e o restante investido na compra de novas mercadorias
para que um novo ciclo se complete. Para que entendessem melhor disse que “capital de giro é o karakuri que vai passear e volta”.
“Imaginem se o comerciante levasse para a casa dele, para comprar
comida, roupas e outras despesas, todo o valor de suas vendas. Teria que fechar
a loja porque não teria mais dinheiro para comprar outras mercadorias e
continuar vendendo. O karakuri foi passear e não voltou, como o dinheiro delas que,depois
da primeira venda para o museu, foi ‘passear’ no mercado, na loja de roupas, de
utensílios e eletrodomésticos e ficou por lá.”
Todas
elas gostam de ter miçangas para fazer peças para si, para a família e para dar
de presente. Assim, parte do material do grupo é utilizada para fins pessoais.
Se pagarem apenas o material que utilizaram nas peças entregues para venda, o
que vai acontecer? Demonstrando claro entendimento do conceito, responderam que
o karakuri vai indo embora.
Naquela
oficina foi feita uma planilha de formação de preços que identificava o custo
com materiais, uma taxa administrativa e a remuneração do trabalho da artesã.
Foi dado um exemplo na reunião para que verificassem que não perdiam muito de
sua remuneração, que ficava em torno de 75% do preço de venda.
Como
poucas falam português, foi fundamental para que entendessem, a tradução e a
complementação de informações com base no que foi aprendido na oficina feitas
pelas duas mulheres que participaram daquela atividade e estavam na reunião.
O grupo
aceitou a proposta. Agora vão se organizar para a distribuição do material
recebido, para a produção e posterior comercialização, gestão financeira, etc.
O mesmo processo deverá ser feito nas outras aldeias.