Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




sábado, 15 de dezembro de 2012

Feliz Natal e Próspero Ano Novo também é para fazer juntos




Natal é para fazer junto com a família, com os amigos ou com a família e os amigos, para renovarmos juntos a boa notícia trazida no primeiro Natal; festejarmos as felicidades conquistadas em 2012 e nos prepararmos para as que conquistaremos em 2013.

Ano Novo, para ser novo de verdade e ser próspero, é preciso fazer junto com todos os que apostam no fortalecimento e soberania das organizações sociais, no empoderamento das lideranças comunitárias, na gestão participativa das unidades de conservação, na geração de renda através de atividades econômicas sustentáveis, na valorização das inúmeras culturas e saberes, tradicionais e não tradicionais, no uso sustentável de todas as riquezas para que o nosso planeta seja um bom lugar para nós e para as futuras gerações vivermos...

Desejo que possamos festejar muitas conquistas em 2013!

Ao terminar 2012, quero festejar com todos vocês que, neste primeiro ano, acessaram o nosso blog mais de 1.600 vezes, divulgaram para os amigos, postaram comentários e trocaram experiências a partir da América (Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Peru, Panamá e Canadá); da Europa (Portugal, Alemanha, Reino Unido, França, Noruega e Itália); da África (Moçambique, Angola, África do Sul e Senegal); da Ásia (Rússia e Israel) e da Oceania (Austrália).

Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos!!

sábado, 8 de dezembro de 2012

LIderanças validam o Planejamento Participativo da AMARJUMA



No dia 06 de dezembro, 32 lideranças de 23 comunidades da RDS do Juma, estiveram reunidas na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Novo Aripuanã para complementarem e validarem o planejamento participativo da Associação de Moradores e Amigos da RDS do Juma – AMARJUMA.

Facilitei o processo de diagnóstico e planejamento nas comunidades com o apoio de Francivane Fernandes da Silva e Rachel Ribeiro Lange (assessoras de campo do IEB em Manicoré e Novo Aripuanã). Participaram das reuniões nos meses de julho e setembro representantes de 21 comunidades dos rios Mariepáua, Arauá e Aripuanã. Também foram incluídas ações de desenvolvimento organizacional da associação, com base no diagnóstico organizacional feito em maio com diretores e lideranças.

Nesta reunião apresentei a sistematização do planejamento, que foi complementado e modificado pelas lideranças presentes que, dessa forma, se reconheceram nos objetivos e ações propostas e se apropriaram do Plano de Ação da associação para os próximos anos, com foco em Geração de Renda e Segurança Alimentar, Vigilância e Fiscalização da RDS, Atendimento à Saúde, Educação Escolar, Comunicação e Desenvolvimento Organizacional da AMARJUMA. Os objetivos e resultados a serem alcançados estão diretamente relacionados aos problemas enfrentados nas comunidades, reforçando o papel da associação em melhorar a qualidade de vida das famílias na reserva.

Também merece destaque a formação de grupos com representantes das comunidades para cada um dos eixos temáticos propiciando maior participação dos associados e aumentando a capilaridade da associação. Na articulação das ações terão um papel importante os representantes de setor, que deverão se reunir a cada quatro meses para manter viva a relação entre a diretoria e as comunidades. Os grupos e as lideranças setoriais contribuem para a divisão de tarefas, a potencialização da capacidade de ação da associação e a formação de novas lideranças, fazendo com que a associação “funcione como um corpo”.

Iniciando já o aprimoramento da gestão administrativa e financeira, previsto no Plano de Ação, nos dias 03 a 07 deste mês, eu e Raquel orientamos e apoiamos o atual presidente na elaboração de relatórios financeiros e na organização dos documentos contábeis dos quatro anos de sua gestão para a apresentação de prestação de contas na Assembléia Geral, que será realizada em janeiro de 2013 e elegerá uma nova diretoria.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Lideranças da APRAMAD discutem o futuro de suas atividades econômicas



Nos dias 03 de 04 de novembro participei com Francivane Fernandes da Silva (assessora de campo do IEB) da reunião de líderes de comunidades da Associação dos Produtores Agroextrativistas da RDS do Rio Madeira - APRAMAD, em Novo Aripuanã, sul do Amazonas. Participaram 49 lideranças de 39 comunidades.

As exposições e debates foram focadas no uso dos recursos da Bolsa Floresta Social e da Bolsa Floresta Renda e nas opções de mercado institucional para os produtos agroextrativistas das comunidades da RDS do Rio Madeira. Estava também previsto fazer a validação e aprovação do Planejamento Participativo, o que não foi possível uma vez que as reuniões, iniciadas em agosto, não foram concluídas pelos diretores da associação. No entanto, ficou claro que a organização da produção e da comercialização dos produtos comunitários para geração de renda é uma prioridade e demandará bastante esforço da diretoria, lideranças e associados em geral.

Marilson, da Fundação Amazônia Sustentável – FAS, gestora dos recursos do Bolsa Floresta, conferiu com os presentes os equipamentos e serviços adquiridos a pedido das comunidades com aqueles recursos. Tanis, da Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS, do governo do estado, apresentou o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE (do governo federal) e o Programa de Regionalização da Merenda Escolar – PREME (do governo do Amazonas) como boas opções de mercado para os produtos comunitários. Ficaram de discutir melhor em suas comunidades para definir qual será o principal produto (carro chefe) e o programa que procurarão acessar.

Durante os debates, em vários momentos foi citada a importância de planejar as atividades. Um dos participantes disse que “o ser humano só vive através de um planejamento”. Marquinho, presidente da APRAMAD, apresentou a proposta de cada comunidade escolher o seu representante entre os associados, já que o presidente da comunidade nem sempre é. Será também escolhido um representante do pólo, com a função de acompanhar a implementação e o uso dos equipamentos e infraestrutura adquiridos com a Bolsa Floresta e organizar a produção e comercialização dos produtos.

Foi sugerido que, ao invés de continuarem fazendo “uma lista de compras” para a FAS, planejem o que necessitam para o desenvolvimento das atividades econômicas e direcionem para isso os recursos da Bolsa Floresta.

A continuidade do trabalho de desenvolvimento organizacional da APRAMAD será em duas frentes: as fragilidades nas áreas administrativa e financeira apontadas durante o diagnóstico organizacional e o esclarecimento e fortalecimento da atuação dos representantes das comunidades e dos pólos.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Conversa sobre associações indígenas com os Arara e Gavião da TI Igarapé Lourdes



Enviado por
Henyo Trindade Barretto Filho
Diretor Acadêmico do IEB e
Coordenador do Projeto Conservação da Biodiversidade em Terras Públicas
na Amazônia Brasileira


No dia 27 de outubro, sábado, pela manhã, no mesmo centro comunitário da aldeia Ikoleng, na TI Igarapé Lourdes, em Ji-Paraná/RO, em continuidade a do Projeto GATI, Henyo Barretto (IEB) conduziu uma primeira conversa com os Arara e Gavião sobre associativismo indígena – dentro da linha de atividade de fortalecimento institucional das associações indígenas da região. A lista de presença registrou 71 presentes, dos quais, 15 mulheres, sendo 68 Gaviões, dois Zoró e um Arara (o que deve representar uma falha na circulação da lista, pois os Arara que haviam participado na reunião sobre o GATI continuaram presentes). Os presentes representavam a base de cerca de cinco associações existentes na TI Igarapé Lourdes: Paderéehj, Zavidjaj Djiguhr, Karo Paygap, APIA (Associação do Povo Indígena Arara) e APIL (Associação do Povo Indígena Gavião) – cada qual encontrando-se em circunstância distinta.

Henyo iniciou sua exposição com a pergunta “o que é uma associação e para que ela serve?”, registrando as respostas sugeridas pelos presentes, que também indicaram os papeis e as funções que as associações vêm cumprindo localmente. Ele enfatizou a posição que temos adotado nesse trabalho de associação com povos indígenas, qual seja: de que só vale à pena criar (ou ressuscitar) uma associação se esta vai ajudá-los a realizar coisas que a organização social tradicional não lhes permite fazer juntos – externando a nossa preocupação com a proliferação de associações indígenas e não indígenas que temos verificado.

Além disso, Henyo destacou quatro outros pontos em sua apresentação: o que diz o Código Civil sobre as associações (enfatizando que este nos dá muita liberdade para se organizar e que o estatuto de uma associação deve definir de modo muito claro como de faz para pertencer a uma associação – e que este é um vínculo voluntário); que uma associação é como um ser vivo e que, portanto, é necessário ter tempo para cuidar dela, para ela crescer forte e ativa; que uma associação é como um corpo, com cabeça, tronco e membros, e que, portanto, a cabeça (diretoria) não faz nada sozinha, sendo necessário suas lideranças e membros para fazer as coisas (pois, “associação é para se fazer juntos”); e que, por fim, ela é como uma pessoa, só que uma “pessoa jurídica”, sendo necessários vários cuidados para essa “pessoa jurídica” e regular (o que muitos chamam de “burocracia”).
Ao final, ficamos de retomar contato em duas semanas, quando retornaremos a Ji-Paraná para tentar definir uma agenda de trabalho conjunta. Como parte de suas atividades nessa linha de atividade do ConsBio, o IEB apoiará a assembleia geral da Paderéej, em data a ser definida.



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Assembleia avalia o presente e discute o futuro da Associação Doá Txatô



Nos dias 17 e 18 de outubro, participei com Henyo Barreto, Diretor Acadêmico do IEB, da Assembléia Geral Ordinária da Associação Indígena Doá Txatô que aconteceu na Aldeia São Luis, na Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste-RO. Participaram 27 indígenas, entre diretores, conselheiros e associados, além de alguns convidados.

Diferente do que acontece nas assembleias de boa parte das associações, quando são convidados muitos representantes de organizações apoiadoras e órgãos governamentais, esta se dedicou à discussão da situação atual da associação, em seus avanços e fragilidades, e a pensar o seu futuro.  Foi também o fechamento da primeira fase do trabalho de desenvolvimento organizacional realizado pelo IEB neste ano, com a apresentação e aprovação da proposta de reforma do estatuto e do planejamento para o próximo ano, feitos de forma participativa nos meses de junho e agosto.

A falta de informações consolidadas para a prestação de contas e as poucas atividades realizadas deixaram clara a necessidade de aprimoramento da gestão administrativa e financeira da associação, já detectadas no Diagnóstico Organizacional, realizado também em junho. Foi destacado também o fato do Conselho Fiscal não ter se reunido previamente para detectar que a diretoria não tinha feito o relatório financeiro e incentivá-la a fazer, além de não ter apresentado seu parecer para a Assembleia. Este será o objetivo da próxima atividade a ser realizada no início de fevereiro do próximo ano.

A discussão da reforma do estatuto propiciou um momento de repactuação dos objetivos e da forma de funcionamento da associação, depois de anos de sua fundação, que se deu com o incentivo de atores externos, como inúmeras outras associações da Amazônia e também outras várias associações da região.

Lembrando uma metáfora originada na Aldeia São Luis, durante o diagnóstico e planejamento participativos, da associação “funcionando como um corpo”, foi dada ênfase no planejamento à formação de grupos para a coordenação das atividades das quatro linhas de ação: Terra e Meio Ambiente, Saúde e Saneamento, Educação e Cultura e Produção e Extrativismo. Foi lembrada uma frase do “seu” Getúlio, da COVEMA, que conversou com vários deles no dia anterior: “Sem gente com vontade, a associação não chega a lugar nenhum.”

De acordo com alguns depoimentos durante a assembléia, a associação “anda um pouco desacreditada” por causa de sua pouca atuação. Isso explica também a ausência de boa parte dos associados e a pouca participação na assembléia da maioria dos presentes.

O desafio agora, tanto para os indígenas como para o IEB, é aprimorar o funcionamento da associação e implementar o planejamento aprovado, tornando a associação de fato uma organização daqueles povos indígenas em busca de sua autonomia para a conquista do bem viver em suas terras.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Diagnóstico Organizacional como base para o desenvolvimento das associações



Nos dias 02 a 05 de outubro estive no litoral sul da Bahia, a convite da Conservation International do Brasil, para fazer o diagnóstico organizacional de três associações de pescadores, indígenas e moradores “nativos”, dando continuidade ao trabalho de desenvolvimento organizacional depois da realização de uma oficina sobre gestão de associações em maio.

Vejo com muito entusiasmo que cada vez mais organizações estão apostando e investindo em um trabalho que vai além de atividades pontuais para adotar uma metodologia mais sistêmica.

O diagnóstico organizacional tem se mostrado, nas diversas ocasiões que tive a oportunidade de realizá-lo neste ano, uma importante fonte de informações sobre as fortalezas e fragilidades das associações para melhor identificar o que valorizar e o que desenvolver melhor em conjunto com os diretores e demais lideranças, tendo assim uma base mais clara para a elaboração de um plano de trabalho para o desenvolvimento das associações. Também para os dirigentes e associados tem sido importante para ter um olhar mais claro e abrangente sobre suas organizações, passando a considerar aspectos antes desconhecidos ou desconsiderados.

Algumas situações encontradas são oportunidades para breves momentos de formação sobre aspectos específicos sobre as exigências legais, fiscais e trabalhistas, a organização administrativa e financeira, a captação de recursos e a participação dos associados nos processos de diagnóstico, planejamento, monitoramento e avaliação das atividades e dos resultados alcançados. Tem servido também para estimular os dirigentes a executar esses processos como forma de conseguir mais qualidade nas ações da associação como forma de propiciar maior participação dos associados.

O desdobramento do diagnóstico organizacional e dos processos participativos de diagnóstico e planejamento é um processo de desenvolvimento organizacional que atua em duas frentes: o aprimoramento da organização administrativa e financeira por um lado e, por outro, a implementação do planejamento feito coletivamente.

Após a realização do diagnóstico, foi perguntado o que avaliavam que deveria ser feito para contribuir com o desenvolvimento da associação. Em uma delas os dirigentes, lideranças e associados presentes apontaram espontaneamente:
  • Capacitar os associados sobre o que é uma associação, como deve funcionar e qual deve ser a participação deles;
  • Capacitar os diretores e conselheiros para o desempenho de suas funções;
  • Orientar para a reforma do estatuto;
  • Contratar um contador para a regularização dos compromissos legais da associação;
  • Fazer um diagnóstico e planejamento participativos com os associados.




domingo, 30 de setembro de 2012

Oficina sobre Gestão de Associações em Humaitá



Nos dias 24 a 27 de setembro contei com apoio de Aurélio e Cassiano, assistentes de campo do IEB em Humaitá, no sul do Amazonas, para facilitar uma Oficina sobre Gestão de Associações naquela cidade. Participaram 28 diretores e lideranças de seis associações e da Comunidade Mirari, que está em fase de fundação de sua associação.

Foi tratado o papel e importância de uma associação, dando ênfase para a participação dos associados e a valorização das potencialidades das comunidades para a resolução de seus problemas, além de aproveitar as oportunidades oferecidas por parceiros, órgãos governamentais e financiadores.

Também foi ressaltada a importância da definição clara de objetivos que sejam relevantes para aquelas famílias para que sejam estimulados a se organizarem na associação. "Fundar uma associação e não ter objetivos claros é como entrar em um taxi e não saber para onde vai." O estatuto foi valorizado como a "constituição da associação", que deve conter, além dos objetivos, a estrutura e o funcionamento da associação de acordo com o que for definido pelos associados, depois de ampla discussão. O trecho do Código Civil Brasileiro foi mostrado e explicado para os presentes para que verificassem o espaço que a legislação deixa em aberto para que organizem a associação de acordo com seus objetivos e forma de organização. Os participantes se interessaram em continuar conhecendo melhor seu estatuto, discutir nas comunidades e reformarem no que julgarem necessário, depois de anos em que ele figurou apenas como uma peça formal para o registro da associação.

A organização interna, com diretores, conselheiros e associados organizados e atuantes, cada um com suas atribuições, além das exigências legais para a manutenção da associação também ganhou destaque. Em grupos, leram em cópias de seus estatutos quais são os órgãos de administração e suas atribuições, compararam com o que vem sendo feito na prática e discutiram formas de melhorar o funcionamento e a comunicação entre esses órgãos. Foi feito exercício para a elaboração de relatórios financeiros, a serem utilizados para a gestão dos recursos, contabilidade e prestação de contas para a Assembléia Geral.

Também despertaram o interesse nos participantes as técnicas de diagnóstico e planejamento participativos para que a atuação dos associados comece com a discussão de seus problemas, o planejamento das ações para resolvê-los, o monitoramento para a implementação satisfatória do que foi planejamento e a avaliação focada nos resultados alcançados.

Na avaliação, todos os participantes expressaram a importância da aquisição desses conhecimentos para o desenvolvimento de suas associações, a disposição em transmitir o que aprenderam para suas comunidades e a utilização no seu trabalho. Demonstraram também a expectativa de continuarem esse trabalho de desenvolvimento de suas organizações.

Também na Comunidade Nova Xioma Associação é para fazer juntos



Estive novamente em Boca do Acre, no sul do Amazonas, nos dias 17 a 21 de setembro, para dar continuidade ao trabalho de desenvolvimento organizacional de 12 associações de trabalhadores agroextrativistas, desta vez para fazer o diagnóstico organizacional juntamente com dirigentes daquelas organizações.

Chamou a atenção o relato das atividades da Associação dos Produtores Rurais da Comunidade Nova Xioma feito pelo seu presidente, Mário Souza da Cruz. Depois de atuar nos últimos anos no Conselho Fiscal, foi eleito em julho deste ano para o cargo de presidente.

Segundo Mário, moram nessa comunidade tradicional 42 famílias, que vivem da produção de castanha, extração de látex, farinha de mandioca, feijão, arroz, criação de porcos e galinhas, além de outros produtos da roça.

Relatou que nos seus anos de trabalho na associação, aprendeu que ao planejar atividades não se pode deixar indefinido quem serão os responsáveis: “Dizer que é para todo mundo trabalhar, não acontece. Combinar que metade trabalhará em um dia e a outra metade em outro, também não funciona. É preciso definir o nome de cada um que se propõe a ajudar naquela atividade. É preciso escrever o que vai ser feito, quem vai fazer e quando.”

De acordo com ele, a nova diretoria está entrosada e todos trabalhando para a associação funcionar bem. “O secretário está procurando compradores para os nossos produtos. Em toda reunião da diretoria, que acontece no último domingo do mês, tem coisa nova para contar.”

A Associação Nova Xioma faz parte do Fórum de Desenvolvimento Sustentável de Boca do Acre, que tem focado sua atuação na regularização fundiária através da Secretaria do Patrimônio da União e do Programa Terra Legal. Antes de ser feito o estudo pelos órgãos governamentais, reuniram-se para definir entre eles um plano de uso da terra para apresentar aos técnicos, evitando assim que desentendimentos entre eles prejudicassem o andamento do processo de regularização.

Ganharam uma caminhonete usada e, para apressar a doação, se propuseram e fizeram uma cotização entre eles para o conserto. Para a construção da escola, contaram com a doação de materiais pela prefeitura e a comunidade entrou com a madeira e a mão de obra. Divididos em grupos, se encarregaram da construção.

Estão negociando um empréstimo bancário para a compra de equipamentos agrícolas, para aumentar sua produção para a geração de renda. Como uma experiência piloto, um grupo de 10 produtores está plantando 1 hectare de banana e 1 de abacaxi. A produção deverá ser comercializada pela associação. Dessa forma terão melhores condições para negociar o preço, a forma de pagamento e escoamento, além de gerar recursos para a manutenção de sua organização.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

E quem vai fazer? Esse menino aí...


Nos dias 03 a 09 de setembro, junto com Rachel Lange, assistente de campo do IEB, acompanhados por Valdecy, recém empossado presidente da Associação dos Moradores e Amigos da RDS do Juma - AMARJUMA, em Novo Aripuanã, sul do Amazonas, realizamos mais uma etapa do Diagnóstico e Planejamento Participativos da associação. Fizemos 4 reuniões com representantes de 7 comunidades do Rio Aripuanã.

Em cada reunião, antes de iniciar o diagnóstico foi falado sobre os objetivos e funcionamento de uma associação, dando ênfase para a participação dos associados. Utilizamos a metáfora sugerida por uma liderança indígena da Associação Doá Txatô, em Alta Floresta – RO, da associação funcionando como um corpo. Ela tem se mostrado uma forma bastante eficaz para os associados entenderem que a associação não é só o presidente, que deve resolver todos os problemas, mas sim os associados trabalhando juntos para atingir seus objetivos. Ajuda também a entender que o trabalho dos associados deve ser organizado, por exemplo, em grupos por atividades nas comunidades, além de dividirem com a diretoria a participação em reuniões para a discussão de temas relevantes e as tarefas administrativas. Cabe à diretoria, que é “a cabeça”, identificar as pessoas com potencial e disposição, mobilizar e organizar essas pessoas para trabalharem juntas, afinal dividir tarefas também é fazer juntos.

Os problemas foram discutidos, algumas vezes em grupos, dependendo do número de pessoas, priorizados e transformados em objetivos: O que vocês pretendem fazer com os recursos da RDS para viverem felizes aqui? Atividades, recursos, prazos, responsáveis e parceiros foram definidos coletivamente.

Em vários momentos do planejamento, quando perguntados sobre quem era o responsável por realizar as atividades para atingir determinado objetivo, lembravam: É esse menino aí. Os associados trabalhando juntos.

Nas avaliações destacaram a importância de serem ouvidos sobre os problemas que enfrentam e como devem ser solucionados. Também ficou claro que devem valorizar as potencialidades das comunidades para a solução de seus problemas e melhorias que pretendem conseguir. Devem aproveitar as oportunidades que podem ser oferecidas por parceiros e financiadores, de forma complementar aos seus próprios meios, mas não podem ficar esperando só por isso. Ao reivindicar políticas públicas do governo, não devem apenas entregar um documento e ficar esperando indefinidamente por uma resposta. Devem ser criativos na elaboração de estratégias e persistentes. Lembrando a clássica música de Chico Buarque: Ouça um bom conselho / Que lhe dou de graça / Inútil dormir que a dor não passa. / Espere sentado ou você se cansa. / Está provado, quem espera nunca alcança.


Os planos propostos nessas e reuniões e nas outras realizadas em julho serão sistematizados. Em reunião a ser realizada no início de outubro com os conselheiros de setor, será complementado e validado para dar origem ao Plano de Ação da associação.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Os limites dos cursos e oficinas para o desenvolvimento organizacional


Como tem sido relatado em várias postagens, nos últimos meses tenho me dedicado à realização de diagnósticos organizacionais com diretores, conselheiros e outras lideranças da associação e a processos participativos de diagnóstico e planejamento nas comunidades. Isso se deve a uma proposta metodológica que visa estimular a participação dos associados nos diferentes momentos da vida das associações considerando que ela é uma ferramenta para se trabalhar juntos. A proposta vai de encontro também ao entendimento de que “o trabalho de desenvolvimento organizacional visa o aprimoramento das capacidades internas, a melhoria das práticas de planejamento, monitoramento e avaliação, visando o alcance da missão e dos objetivos da associação.” (Andrade, Roberta Amaral (org.) – Organização Social da Amazônia: uma experiência de associativismo na RDS do Rio Madeira, Brasília, IEB, 2011).

Vejo com satisfação que várias organizações que apóiam o desenvolvimento de associações comunitárias, regionais e étnicas aceitaram essa proposta, na contramão do forte movimento de muitos anos que privilegiou e, em muitos casos ainda privilegia, a captação de recursos através de projetos como elemento principal ou mesmo único para o “fortalecimento das associações”. Ela vai além dos cursos e oficinas, lançando mão também da “formação em serviço”, saindo dos escritórios e salas de curso para ir às comunidades.

Esta forma de trabalhar, para mim, foi se desenhando a partir da avaliação de um curso sobre gestão de associações dado há alguns anos em que vários dos participantes, dirigentes de associações, avaliaram que o curso foi muito bom, aprenderam coisas importantes, mas não se viam em condições de utilizar de imediato os conhecimentos e técnicas aprendidas em suas associações e comunidades. Precisavam de um acompanhamento técnico pelo menos por um tempo, até se familiarizarem mais com aqueles processos. Começamos, eu e o coordenador do curso, a pensar que cursos e oficinas servem mais como sensibilização para aspectos que não tinham conhecimento do que como capacitação no sentido do desenvolvimento de capacidades. Existe um espaço a ser vencido entre assimilar um conteúdo e conseguir colocá-lo em prática, adaptando-o às diferentes realidades ou situações que o dia a dia apresenta. Mesmo em atividades práticas nas oficinas, em geral, as questões colocadas são hipotéticas, nem sempre correspondendo às situações reais que serão enfrentadas no quotidiano. É muito maior ainda o espaço entre o aprender e o ensinar, objetivo de diversos processos que pretendem “formar multiplicadores”.

O que tem me chamado a atenção em vários lugares do Brasil, com diferentes populações e associações, apoiadas por diferentes organizações é que os participantes consideram todas as atividades até agora desenvolvidas como “aula”, que “estão lá para aprender”, porque “é muito importante adquirir novos conhecimentos e repassar para a minha comunidade”. Mesmo que eu explique diversas vezes que não se trata de curso, mas de uma reunião de trabalho; que não estamos fazendo exercícios, mas elaborando, por exemplo,  um diagnóstico e um planejamento que devem ser utilizados por eles, na avaliação “agradecem ao professor pelos conhecimentos transmitidos”.

Fico me perguntando e já conversei com algumas pessoas se isso não seria sinal de que os cursos e oficinas estariam sendo excessivamente utilizados como estratégia de desenvolvimento organizacional, supervalorizando a aquisição de conhecimentos em detrimento de outras estratégias e do desenvolvimento de capacidades que favoreçam mais efetivamente os resultados que se pretende alcançar. Também consideramos que “ser um bom aluno” exige menos do que se comprometer com as mudanças propostas ou as decisões tomadas. Terminado o curso, o “resultado esperado já foi alcançado”, já a implementação de um planejamento participativo, por exemplo, exige bem mais esforço para mobilização, gestão de conflitos, realização de atividades e avaliação de seus resultados durante um período mais longo.

O desafio é como reverter essa supervalorização da aquisição de conhecimentos que foi disseminada durante anos, demonstrar que aprender é bom, mas fazer é necessário para o desenvolvimento das associações e confrontar a teoria com a prática é a melhor escola.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dividindo tarefas com o Conselho Administrativo


Como tem sido feito com outras associações nos últimos meses, na última semana de agosto, com o apoio de Marcelo Franco e Joedson Quintinho, assessores de campo do IEB, moderei reuniões de diagnóstico organizacional com diretores e conselheiros da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio Purús – ATAMP e a Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembléia de Deus do Rio Ituxi – APADRIT, dando continuidade ao trabalho de desenvolvimento organizacional com associações de Lábrea, no sul do Amazonas.
 
Na RESEX do Médio Purus vivem 97 comunidades de trabalhadores agroextrativistas, agrupadas em 12 setores. A ATAMP tem em sua estrutura um Conselho Administrativo composto por um a três representantes de cada setor, dependendo do número de comunidades.

Os conselheiros disseram em uma reunião preparatória e durante o diagnóstico organizacional que não sabiam claramente quais eram as suas atribuições, sendo essa uma das razões para não estarem se reunindo. Verificamos no estatuto que este conselho tem atribuições relacionadas à gestão dos recursos financeiros e também de “estimular a organização social das comunidades.” Refletimos o que significava isso, como deveria ser dado esse estímulo e para que seria proposto que as comunidades se organizassem.

Já havíamos falado sobre a importância de dividir tarefas para não sobrecarregar a diretoria, para tornar as ações da associação mais participativas, potencializar a sua capacidade de trabalho e formar novas lideranças. Concluíram que a criação de grupos para a organização do trabalho nas comunidades seria a forma de estimular a organização das comunidades para a melhoria de sua qualidade de vida. Foi criado inicialmente o grupo de produtos agroextrativistas, que terá como função participar de discussões sobre o tema, informar as comunidades e organizar grupos e as atividades agroextrativistas nas comunidades da RESEX.

Como era a primeira experiência dos conselheiros nesse sentido, foi avaliado que seria precipitado criar vários grupos de uma vez. Com o amadurecimento da experiência deverão ser criados outros grupos como manejo de peixes, educação e saúde.

Sobre a fiscalização do uso dos recursos da associação, depois de um treinamento dos diretores, em especial o tesoureiro e seu vice, para a elaboração de controles financeiros, o grupo fiscal do Conselho Administrativo também será treinado em como analisar relatórios financeiros, comprovantes de receitas e despesas e extratos bancários. Também está programado realizar diagnóstico e planejamento participativos nas comunidades.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Capital de Giro "é o karakuri (dinheiro) que vai passear e volta"


Em dezembro de 2011 facilitei uma oficina para um grupo de mulheres artesãs do Tumucumaque, no Amapá (ver postagem daquele mês). Dando continuidade ao trabalho iniciado de organização do grupo de artesãs, controle dos materiais, de estoque de peças e financeiro, em especial a gestão do capital de giro, foi feita uma reunião na Missão Tiryó, no dia 23 de agosto, com o grupo de mulheres daquela aldeia que vai iniciar a produção das peças para comercialização no Rio de Janeiro, durante uma exposição que o Museu do Índio realizará com as peças que compraram delas.


Por volta de 20 mulheres participaram da reunião, entre elas duas que estavam na oficina em Macapá no ano passado, para decidirem se pagariam pelo material recebido do Museu do Índio como forma de terem um capital de giro para a sustentabilidade das atividades. Na primeira venda que fizeram ao Museu do Índio para o seu acervo e que será exposto nos próximos meses, as artesãs receberam todo o dinheiro arrecadado com a venda. A conseqüência disso foi não terem dinheiro depois para comprarem mais miçangas e continuar comercializando as peças.

Além do exposto acima, expliquei que, por exemplo, um comerciante, ao iniciar o seu empreendimento, precisa ter um capital inicial para as instalações, equipamentos, mercadorias e as despesas iniciais até começar a ter o retorno financeiro de sua atividade. O dinheiro utilizado para a compra das mercadorias e pagamento dos custos de comercialização e outras despesas é chamado de Capital de Giro. Isso porque ele é recuperado quando a mercadoria é vendida; os custos de comercialização e outras despesas, inclusive a remuneração do comerciante, são pagos e o restante investido na compra de novas mercadorias para que um novo ciclo se complete. Para que entendessem melhor disse que “capital de giro é o karakuri que vai passear e volta”.

“Imaginem se o comerciante levasse para a casa dele, para comprar comida, roupas e outras despesas, todo o valor de suas vendas. Teria que fechar a loja porque não teria mais dinheiro para comprar outras mercadorias e continuar vendendo. O karakuri foi passear e não voltou, como o dinheiro delas que,depois da primeira venda para o museu, foi ‘passear’ no mercado, na loja de roupas, de utensílios e eletrodomésticos e ficou por lá.”

Todas elas gostam de ter miçangas para fazer peças para si, para a família e para dar de presente. Assim, parte do material do grupo é utilizada para fins pessoais. Se pagarem apenas o material que utilizaram nas peças entregues para venda, o que vai acontecer? Demonstrando claro entendimento do conceito, responderam que o karakuri vai indo embora.

Naquela oficina foi feita uma planilha de formação de preços que identificava o custo com materiais, uma taxa administrativa e a remuneração do trabalho da artesã. Foi dado um exemplo na reunião para que verificassem que não perdiam muito de sua remuneração, que ficava em torno de 75% do preço de venda.


Como poucas falam português, foi fundamental para que entendessem, a tradução e a complementação de informações com base no que foi aprendido na oficina feitas pelas duas mulheres que participaram daquela atividade e estavam na reunião.

O grupo aceitou a proposta. Agora vão se organizar para a distribuição do material recebido, para a produção e posterior comercialização, gestão financeira, etc. O mesmo processo deverá ser feito nas outras aldeias.

Diagnóstico Participativo em aldeias do Tumucumaque


Dando continuidade ao trabalho de desenvolvimento organizacional das associações indígenas do Tumucumaque, no Amapá, promovido pelo Iepé, moderei nos dias 21 e 22 de agosto uma reunião com pouco mais de 30 caciques e lideranças para a realização de um diagnóstico de suas aldeias para a elaboração de um planejamento das ações da Associação dos Povos Indígenas Tiryó, Kaxuyana E Txikuyana – APITIKATXI.

Para contextualizar o diagnóstico, que será seguido do planejamento, iniciamos por refletir sobre o que é, o papel e a importância de uma associação, focando na participação dos associados, valorização das potencialidades e aproveitamos das oportunidades.

Os trabalhos caminharam lentamente porque poucos falam português. Tradutores indígenas, não só repassavam as explicações nas línguas Tiryó e Kaxuyana, como também complementavam as explicações para facilitar a compreensão. Durante ou após a tradução, os caciques davam também a sua contribuição. Se por um lado, isso levou a uma demora maior do que o esperado para a realização das atividades, por outro levou a uma participação mais efetiva e maior compreensão sobre os conteúdos tratados.

Os participantes foram divididos em quatro grupos para o levantamento de problemas. Essa metodologia tem se mostrado mais produtiva do que uma “chuva de idéias” feita com todos de uma só vez. Após a exposição dos grupos, foi feita a sistematização, dividindo os problemas em temas: terra e meio ambiente, saúde e saneamento básico, educação e transporte. Durante esse processo foi necessário que mais informações fossem fornecidas sobre os problemas, inclusive para que fossem elaborados de forma mais clara, cumprindo pelo menos em parte o que seria o papel da “entrevista semi estruturada”.

Como a dificuldade para entender ou falar em português se estende também para a leitura, para a escolha de prioridades foi necessário que o presidente da associação expusesse os problemas de cada tema na língua indígena para que os caciques pudessem fazer a sua escolha.

Foi explicado como será feito o planejamento em uma próxima reunião, ainda a ser agendada. Estava planejado que fosse feito também nessa semana, mas alguns contratempos além da dinâmica das traduções e debates inviabilizaram a realização. Foi opção de todos, inclusive do Iepé, fazer uma parte bem e com calma, respeitando o ritmo dos caciques, do que fazer tudo de forma apressada.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Na Comunidade Cachoeirinha, associação é para fazer juntos


A Associação dos Moradores Agroextrativistas da Comunidade Cachoeirinha – AMAC foi criada “para trazer benefícios para a comunidade” como outras dez associações da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira e as mais de 100 do Município de Manicoré, no Sul do Amazonas.

Como em outros tantos casos, os incentivadores de sua criação foram embora e os dirigentes e moradores ficaram com a associação criada, sem saber o que fazer com ela e os cuidados que deveriam ter com suas obrigações administrativas e legais, além do potencial que essa “ferramenta” tem para o desenvolvimento comunitário. Francisco Udson Oliveira da Conceição, seu primeiro presidente, mantido no cargo pelos mandatos que o estatuto permitiu, não se conformou e buscou informações do que precisava ser feito e do que poderiam fazer com ela.

Os moradores da Comunidade Cachoeirinha contribuem com R$ 5,00 mensais para a manutenção da associação e mais R$ 10,00 anuais para a APRAMAD, associação que reúne 44 comunidades da RDS do Rio Madeira.

Com essas contribuições, além de cobrir as despesas administrativas da associação, criaram um fundo de micro crédito que empresta até R$ 500,00 para os associados, a ser pago em três vezes sem juros. Se for pago fora deste prazo, há uma taxa de juro estipulado pela assembléia. O fundo começou com R$ 8 mil e hoje tem R$ 16 mil, “fora o que está emprestado”, segundo o Sr. Udson. A taxa de inadimplência é zero. Segundo Marquinhos, presidente da APRAMAD, “ninguém deixa de pagar porque não deixaria de pagar para ele mesmo”. Essa é uma demonstração da consciência plena de que a associação é o conjunto dos associados e não uma “entidade” descolada da comunidade.

Entre outras coisas, fizeram um convênio com a Secretaria de Produção Rural do Estado do Amazonas – SEPROR para a compra de um micro trator. Reivindicando junto à prefeitura conseguiram recentemente a construção de uma unidade básica de saúde. Os jovens fazem até o Ensino Médio na escola da comunidade. Com pouco mais de R$ 5 mil da Bolsa Floresta Social, acrescidos de recursos da associação e mão de obra voluntária da comunidade, construíram um excelente salão social para diversas atividades da comunidade.

A Cachoeirinha é uma das comunidades que se destacam na RDS do Rio Madeira pela sua organização e benefícios trazidos para seus moradores. No dia seguinte, em reunião em uma comunidade próxima, dentro da mesma reserva, fui questionado se conhecia alguma associação que funcionava da forma que eu estava explicando que deveria funcionar. Pude dizer com alegria, que bem próximo deles havia uma associação que, pelas informações que obtive na véspera, conseguia muita coisa mobilizando os associados para trabalharem juntos.

Diagnóstico e Planejamento Participativos na RDS do Rio Madeira


Nos dias 10 a 13 de agosto estive na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira, nos municípios de Manicoré, Novo Aripuanã e Borba, no Sul com Amazonas, com Rachel Ribeiro Lange, assessora de campo do IEB e Marcos Paulo de Lima Barros (Marquinhos), presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas da RDS do Rio Madeira – APRAMAD para a realização de reuniões de diagnóstico e planejamento participativos nas comunidades Bracinho, Cachoeirinha e Delícia.

A oportunidade foi aproveitada para aprofundar o conhecimento daquelas comunidades sobre o que é, qual a importância e como funciona uma associação, destacando que a participação dos associados é fundamental para que ela atinja seus objetivos. Essa prática estava sendo estimulada já nesses encontros para diagnóstico e planejamento e deve se estender também para a execução das atividades, seu monitoramento e avaliação.

Os participantes das reuniões foram divididos em grupos para inicialmente levantarem os problemas enfrentados pela comunidade. Depois de expostos, tiveram a sua formulação corrigida quando necessário, em especial para que não fossem confundidos com recursos ou atividades. O passo seguinte foi planejar ações e recursos necessários para a superação dos problemas. 

Em alguns casos, as reuniões não foram produtivas como esperávamos, levando em conta o planejamento que pretendíamos obter como produto. No entanto foram fundamentais para iniciar a consciência de que a associação é uma organização da comunidade, que a sua principal força está no trabalho conjunto de seus associados, começando com a discussão sobre seus problemas e como solucioná-los e não ficar esperando recursos externos para tentar resolvê-los

Essas reuniões serviram também como capacitação, em especial para o Marquinhos, em processo de diagnostico e planejamento, feito pela primeira vez de forma sistemática na APRAMAD. Como é inviável para mim e Rachel realizar as reuniões em todas as 44 comunidades que fazem parte da RDS do Madeira e tem associados à APRAMAD, o presidente e outros diretores, depois de terem participado e atuado nas reuniões iniciais farão nas demais comunidades.

Os planejamentos serão consolidados, discutidos e complementados em uma reunião com os líderes das comunidades nos dias 03 e 04 de novembro.

Aos poucos estamos consolidando uma metodologia mais participativa de desenvolvimento organizacional de associações comunitárias, que passa pelo Diagnóstico Organizacional, um Plano de Ação pactuado entre dirigentes e consultores, o Diagnóstico e Planejamento Participativos nas comunidades e a assessoria para a implementação desses planos.

domingo, 5 de agosto de 2012

"Associação é como curumim que você faz na sua esposa"


No dia 30 de julho participei junto com Henyo Barreto e Josinaldo Aleixo, coordenador de projeto e consultor do IEB respectivamente, de uma reunião com lideranças Gavião na Coordenação Regional da FUNAI em Ji-Paraná, Estado de Rondônia, sobre a possibilidade de atuarmos no desenvolvimento organizacional de suas associações.
Durante a conversa, Welinton Gavião, da Terra Indígena Igarapé Lourdes, disse que “o amadurecimento de uma associação é como o de uma pessoa. Quando você faz um curumim na sua esposa, você começa a se preocupar com ele desde que está na barriga da mãe. Precisa ter leite, fraldas, roupinhas, médico. Depois ele vai crescendo e precisa de comida, escola, outras roupas. Índio não pensa nisso. Quem incentiva o índio a criar associação não pensa nisso. Quem trabalha com associação indígena não fica depois para ajudar a massa a virar pão. Quem sofre com isso é a diretoria. Precisamos nos preocupar com isso, capacitar, sensibilizar os parentes para isso.
No mesmo dia fomos para a Aldeia São Luis, na Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta, para fazer o diagnóstico e planejamento participativos (ver postagem abaixo). Durante a reflexão sobre o papel e importância da associação, um dos participantes disse que é preciso que a associação se desenvolva como um corpo.
Perguntei qual era o corpo da associação e esquematizei o corpo de uma pessoa. Juntos fomos definindo quem representava as diversas partes:

A diretoria é a cabeça. O presidente é o cérebro porque ele é o responsável por conduzir a discussão sobre a organização e as estratégias de ação. Ele coordena e incentiva os demais em seu trabalho. Mas não basta apenas o cérebro funcionar. Os olhos, nariz, boca também precisam funcionar bem, ou seja, todos os membros da diretoria;

O tronco e os membros são formados pelos associados. Estes podem ter diferentes funções, contribuindo nas atividades administrativas, representando a associação em fóruns de temas diversos e nas atividades na comunidade;

O pescoço é representado pelos coordenadores de atividades e de temas. Eles são os responsáveis pela ligação entre a cabeça e o restante do corpo. Josi lembrou que, se o pescoço quebra, o corpo fica sem movimentos, perde a necessária ligação com a cabeça. Então, os coordenadores de atividades e temas precisam estar sempre dialogando com a diretoria. É através deles que a diretoria vai dar suas orientações para o funcionamento dos grupos e para manter a unidade do corpo;
Contei para eles o que o Welinton tinha falado na reunião em Ji-Paraná. Uma liderança disse carinhosamente:
- A gente também precisa dar para o curumim uma meinha, um sapatinho, um bonezinho...
Respondi para ele:
- Assim o curumim fica contente, não é?

Eu sempre digo nos cursos, oficinas e reuniões que aprendo muito com as lideranças e comunidades e insisto que não é demagogia. Eles tendem a pensar que nós sabemos de tudo porque temos títulos universitários e eles por não ter não sabem nada, o que não é verdade. Os exemplos acima confirmam. Não tenho dúvidas de que, quando abandonamos a arrogância e a prepotência em favor da construção coletiva do conhecimento, temos um resultado muito melhor para todos, nós e eles.