Como tem
sido relatado em várias postagens, nos últimos meses tenho me dedicado à
realização de diagnósticos organizacionais com diretores, conselheiros e outras
lideranças da associação e a processos participativos de diagnóstico e
planejamento nas comunidades. Isso se deve a uma proposta metodológica que visa
estimular a participação dos associados nos diferentes momentos da vida das
associações considerando que ela é uma ferramenta para se trabalhar juntos. A
proposta vai de encontro também ao entendimento de que “o trabalho
de desenvolvimento organizacional visa o aprimoramento das capacidades
internas, a melhoria das práticas de planejamento, monitoramento e avaliação,
visando o alcance da missão e dos objetivos da associação.” (Andrade, Roberta
Amaral (org.) – Organização Social da Amazônia: uma experiência de
associativismo na RDS do Rio Madeira, Brasília, IEB, 2011).
Vejo com
satisfação que várias organizações que apóiam o desenvolvimento de associações
comunitárias, regionais e étnicas aceitaram essa proposta, na contramão do
forte movimento de muitos anos que privilegiou e, em muitos casos ainda
privilegia, a captação de recursos através de projetos como elemento principal
ou mesmo único para o “fortalecimento das associações”. Ela vai além dos cursos
e oficinas, lançando mão também da “formação em serviço”, saindo dos
escritórios e salas de curso para ir às comunidades.
Esta
forma de trabalhar, para mim, foi se desenhando a partir da avaliação de um
curso sobre gestão de associações dado há alguns anos em que vários dos
participantes, dirigentes de associações, avaliaram que o curso foi muito bom,
aprenderam coisas importantes, mas não se viam em condições de utilizar de
imediato os conhecimentos e técnicas aprendidas em suas associações e comunidades.
Precisavam de um acompanhamento técnico pelo menos por um tempo, até se
familiarizarem mais com aqueles processos. Começamos, eu e o coordenador do
curso, a pensar que cursos e oficinas servem mais como sensibilização para
aspectos que não tinham conhecimento do que como capacitação no sentido do
desenvolvimento de capacidades. Existe um espaço a ser vencido entre assimilar
um conteúdo e conseguir colocá-lo em prática, adaptando-o às diferentes realidades
ou situações que o dia a dia apresenta. Mesmo em atividades práticas nas
oficinas, em geral, as questões colocadas são hipotéticas, nem sempre
correspondendo às situações reais que serão enfrentadas no quotidiano. É muito
maior ainda o espaço entre o aprender e o ensinar, objetivo de diversos
processos que pretendem “formar multiplicadores”.
O que tem
me chamado a atenção em vários lugares do Brasil, com diferentes populações e
associações, apoiadas por diferentes organizações é que os participantes
consideram todas as atividades até agora desenvolvidas como “aula”, que “estão
lá para aprender”, porque “é muito importante
adquirir novos conhecimentos e repassar para a minha comunidade”. Mesmo
que eu explique diversas vezes que não se trata de curso, mas de uma reunião de
trabalho; que não estamos fazendo exercícios, mas elaborando, por exemplo, um diagnóstico e um planejamento que devem ser
utilizados por eles, na avaliação “agradecem ao
professor pelos conhecimentos transmitidos”.
Fico me
perguntando e já conversei com algumas pessoas se isso não seria sinal de que
os cursos e oficinas estariam sendo excessivamente utilizados como estratégia
de desenvolvimento organizacional, supervalorizando a aquisição de
conhecimentos em detrimento de outras estratégias e do desenvolvimento de
capacidades que favoreçam mais efetivamente os resultados que se pretende
alcançar. Também consideramos que “ser um bom aluno” exige menos do que se
comprometer com as mudanças propostas ou as decisões tomadas. Terminado o
curso, o “resultado esperado já foi alcançado”, já a implementação de um
planejamento participativo, por exemplo, exige bem mais esforço para
mobilização, gestão de conflitos, realização de atividades e avaliação de seus
resultados durante um período mais longo.
O desafio
é como reverter essa supervalorização da aquisição de conhecimentos que foi
disseminada durante anos, demonstrar que aprender é bom, mas fazer é necessário
para o desenvolvimento das associações e confrontar a teoria com a prática é a
melhor escola.
Concordo que "formação em serviço" é muito mais adequada para as necessidades dessas associações, Strabeli! Esta relação com os cursos, ou com o conhecimento que adquirem da nossa sociedade, está historicamente informada não apenas pela relação que eles mantém no campo do Fortalecimento Institucional, mas também pela formação escolar (com currículos não adequados, muitas vezes) e outras experiências que esses grupos tiveram.
ResponderExcluirDiante disso tudo, acredito que está na hora das organizações que apóiam e investem no fortalecimento de associações comunitárias, étnicas e outras avaliarem o impacto do que têm feito e adotar estragégias mais eficazes.
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