Peço permissão àqueles que viram no
final da última Crônica de Itupeva que eu falaria dos requerimentos feitos
pelos vereadores e aprovados pela Câmara Municipal para abrir parêntesis e falar
agora sobre informação e participação popular para vivermos de fato em uma
democracia.
Várias pessoas têm achado estranho que
eu leia as atas das sessões da Câmara Municipal para tabular e sistematizar
informações sobre as atividades legislativas e fiscalizadoras dos vereadores;
que assista aos vídeos das sessões para saber o que os vereadores e cidadãos
que ocupam a Tribuna Livre falam, já que isso não é registrado nas atas, mas
está disponível nos vídeos; que vez ou outra “visite” a Lei Orgânica do
Município e o Regimento Interno da Câmara para tirar alguma dúvida antes de
publicar aqui ou no Facebook.
Eu não acho nada estranho e, mais,
avalio que é uma tarefa de todo cidadão estar bem informado sobre como funciona
e o que acontece em sua cidade, assim como no seu estado e no Brasil.
Informações qualificadas são a base para a nossa manifestação e participação na
gestão. Afinal, a Constituição Brasileira define no Parágrafo Único do Artigo
1º que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Isso quer dizer que os
200 km2 de Itupeva é terra nossa, assim como os 248 mil km2
do Estado de São Paulo, e os 8,5 milhões de km2 do Brasil. A cada
eleição escolhemos entre nós aqueles que ficarão encarregados por alguns anos
de legislar e administrar em cada um desses níveis. Então, a cidade, o estado e
o país são nossos e não dos chamados políticos.
Por isso não podemos deixar tudo nas
mãos deles e ir cuidar apenas das nossas questões pessoais. Todos nós já
ouvimos dizer que “o porco engorda com o olho do dono”, quer dizer, se queremos
que o que é nosso se desenvolva bem, temos que tomar conta. Além de nos
mantermos informados, temos que utilizar essas informações para avaliar como aqueles
que elegemos estão trabalhando e manifestar a nossa vontade de como as coisas
devem ser. Para isso, contamos com a organização de associações populares, de
classe ou por tema de interesse, além de observatórios, fóruns e outras
organizações para fiscalização e proposição, já que é difícil ou até impossível
que milhares ou mesmo milhões de pessoas interfiram diretamente de maneira
individual.
Quando comecei a acompanhar a
prefeitura e vereadores nas redes sociais e escrever as Crônicas de Itupeva
para questionar a atuação dos agentes públicos, cobrar informações, dar a minha
opinião e fazer propostas, amigos têm perguntado se “vou entrar para a política”.
Eu estou na política, como cidadão, exercendo o meu papel, mas não tenho a
menor intenção de me candidatar a cargos eletivos, se é a isso que estavam se
referindo.
Já perguntaram também se vou aceitar
algum cargo público. Também não.
O que é público está tão desvalorizado entre nós que parece impossível que alguém se dê ao trabalho, mesmo que seja de só falar sobre isso, sem buscar alguma vantagem pessoal em troca. Pelo que me disseram isso tem acontecido na cidade: uma pessoa começa a se manifestar e logo se candidata a um cargo eletivo ou aceita um na Prefeitura ou na Câmara Municipal. Algumas vezes a oferta de cargos tem servido para cooptar e “fechar a boca” de quem está incomodando.
O que é público está tão desvalorizado entre nós que parece impossível que alguém se dê ao trabalho, mesmo que seja de só falar sobre isso, sem buscar alguma vantagem pessoal em troca. Pelo que me disseram isso tem acontecido na cidade: uma pessoa começa a se manifestar e logo se candidata a um cargo eletivo ou aceita um na Prefeitura ou na Câmara Municipal. Algumas vezes a oferta de cargos tem servido para cooptar e “fechar a boca” de quem está incomodando.
Isso tem servido para desqualificar manifestações justas, alegando que a pessoa está querendo aparecer para logo
ter vantagens pessoais.
Um vereador me disse recentemente no
Facebook – eu sigo 9 dos 13 vereadores – que via em mim “uma pessoa apenas
querendo espaço para aparecer. Espero que consiga chegar onde planeja”.
Respondi a ele que “Eu não tenho nenhuma razão nem interesse em buscar espaço
para aparecer. Onde eu planejo chegar é que a cidade que escolhi para ser minha
a 10 anos, tenha pessoas que se organizam e se mobilizam para conquistar o que
tem direito em termos de qualidade de vida; onde os vereadores legislam e fiscalizam
para melhorar as relações e o funcionamento da cidade; onde a prefeitura
utiliza adequadamente e com eficiência os recursos para que as políticas
públicas atendam às necessidades da população. E qual é o meu interesse nisso?
Quanto melhor for a cidade, melhor eu também vou viver nela.”
Os vereadores e o prefeito utilizam
frequentemente a rede social para divulgar suas atividades e fazer propagando
eleitoral, principalmente em um ano como este, mas quando utilizamos a mesma
rede para discordar do que falam ou fazem ou para cobrar informações e
atitudes, alguns nos chamam para conversar no gabinete, “olho no olho, como
deve ser, ao invés de ficar se escondendo atrás de um teclado". Outros ignoram
completamente as perguntas feitas.
O que eu espero é incentivar outras
pessoas a buscar informações qualificadas, debater e cobrar uma atuação
adequada dos agentes públicos e, melhor ainda, ajudar no fortalecimento da
organização e atuação da sociedade civil, mas não tenho encontrado eco nem na
minha cidade e não é possível melhorar a organização da sociedade sozinho...
Algumas pessoas da cidade já me
disseram que têm medo de represálias se se manifestarem de forma mais clara e
contundente ou se participarem de organizações sociais que forem contra algum
interesse de quem está no poder. Têm medo de ameaças ao seu emprego, comércio, a
si próprias ou à sua família. Eu não ouvia falar em medo de se manifestar ou se
organizar desde o fim da ditadura militar em 1985. Voltei a ouvir aqui em
Itupeva, cidade de 57 mil habitantes, onde o conhecimento e a proximidade entre
as pessoas são bem maiores do que nos grandes centros.
Como pode haver democracia sem o livre
exercício da cidadania e com pouca ou nenhuma transparência por parte dos
poderes públicos?
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