Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Metodologia utilizada para a elaboração de um Plano de Vida



Como prometido na postagem anterior, compartilho aqui uma experiência que, recentemente, tive a oportunidade de iniciar de um processo de elaboração participativa do Plano de Vida de um povo indígena no Pará. Várias metodologias já foram experimentadas em diversos lugares do Brasil, com diferentes populações, de forma que o que relatarei é apenas uma delas.

Em qualquer das metodologias de que já tive notícia é fundamental que o processo seja iniciado com a sensibilização da comunidade ou comunidades para a importância que um Plano de Vida construído de forma participativa tem para a vida da comunidade e seu desenvolvimento. A sensibilização é fundamental para que sejam mobilizados para participar das reuniões. Dessa forma, busca-se uma participação ampla e efetiva para que o Plano tenha a devida legitimidade. Para que ele saia do papel, é fundamental que o maior número possível de pessoas se envolva, se comprometa e enxergue a si e a seu futuro nele, para que esteja estimulado a executá-lo depois de elaborado. Neste caso, a sensibilização e mobilização ficaram a cargo dos dirigentes e conselheiros da associação. O consultor pode participar desse processo, mas é muito importante que lideranças da comunidade estejam à frente.

É fundamental não limitar o número de participantes. Se o que está sendo discutido é o presente e, principalmente, o futuro dessas pessoas, todos os que estiverem dispostos devem ter a oportunidade de participar. Quanto mais pessoas participando, maior a legitimidade. Por isso a opção foi fazer reuniões por aldeia, abrindo a participação a todos os interessados.

Em cada aldeia em que as reuniões já foram realizadas, foi explicado que um plano de vida é olhar o presente, pensar o futuro e discutir o que precisa ser feito para chegar ao futuro desejado. Foram apresentadas três perguntas orientadoras para as discussões:

  1. Como estamos vivendo hoje: o que está bom e o que está ruim?
  2. Como queremos viver no futuro para sermos felizes em nossa terra?
  3. O que precisamos fazer para termos o futuro que desejamos?

As respostas a estas perguntas poderiam ser discutidas em grupos. Em especial para a terceira pergunta, poderiam ser organizados grupos temáticos, com as pessoas mais envolvidas e interessadas em cada tema. Como estávamos trabalhando com um grupo não muito grande eles mesmos optaram por discutirem todos juntos. Primeiro conversaram em sua língua materna. Depois, ao terem chegado a algum consenso, traduziam. Quando havia alguma intervenção a ser feita ou informação complementar a ser dada, voltavam a conversar na língua e a tradução era feita no final. Esse processo se repetiu todo o tempo.

O resultado das conversas foi sistematizado no quadro negro da escola indígena ou em folhas de flip chart, de forma que podiam acompanhar e opinar sobre o resultado. É preciso que o consultor assuma a posição de quem facilita um processo que é da comunidade. O Plano de Vida não é do consultor, é deles. Apenas orientamos o processo.

Ao responder o que estava bom ou ruim, surgiram os temas relevantes para a comunidade. Eles foram a base para pensar o que queriam para o futuro: valorizar e dar continuidade ao que estava bom e planejar ações para melhorar o que estava insatisfatório.

Para a definição de estratégias para melhorar as condições em que estavam vivendo foi ressaltado que deveriam pensar não só nas políticas públicas, parcerias e financiamentos (oportunidades), mas também naquilo que eles tinham condições de resolver com seus próprios recursos (potencialidades). Compuseram o Plano de Vida, o problema enfrentado, o objetivo que o solucionaria, as atividades, responsáveis pela sua organização e os parceiros para cada um dos temas: saúde, educação, fiscalização e proteção da terra indígena, cultura tradicional, alimentação e geração de renda.

Foi interessante notar que algumas ações, como o fortalecimento das práticas culturais no quotidiano da aldeia e a solução para o lixo espalhado foram planejadas com base nas potencialidades. Também ficou claro que as atividades internas da aldeia devem ficar a cargo da liderança tradicional e as negociações com órgãos governamentais, parceiros e investidores, a cargo dos dirigentes da associação.

Ainda serão realizadas reuniões em outras aldeias e, depois de sistematizado, o Plano de Vida será validado em uma reunião com as lideranças.

Em uma das aldeias, terminamos o trabalho com cantos e danças tradicionais no centro da aldeia, para as quais fui convidado e aceitei com alegria.




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