Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




terça-feira, 24 de junho de 2014

Precisamos "colocar cupins" na estrutura de dependência

Recentemente voltei a pensar na fábula da águia e a galinha e na necessidade de estimularmos organizações soberanas, já publicadas neste blog.

Em uma dinâmica com lideranças e dirigentes de associações comunitárias em que poi proposto um desafio a ser vencido coletivamente, ficaram alguns instantes paralisados, esperando que alguém dissesse o que fazer. Notei que nas atividades, boa parte deles ficavam também esperando a orientação dos “assessores” de organizações presentes. Estes, zelosos em ajudar, orientavam as discussões, se enarregavam da sistematização e organizavam as apresentações. Com excesso de cuidados, sufocavam a criatividade e a iniciativa das lideranças.

Em outra ocasião, ouvi do presidente de uma associação com 6 anos de existência, criada para captar recursos de projetos, que os associados não se sentiam frustrados por não terem conseguido nenhum financiamento até aquele momento. “A gente, às vezes, consegue um equipamento com parceiros, combustível com a prefeitura, conserto de motor de popa, a associação faz delcaração para recebrem Bolsa Família, salário maternidade...” 

Mais dependentes do que autônomas e soberanas, essas comunidades e organizações se contentam em ser beneficiárias de recursos de organizações privadas e governamentais, apesar de seu grande potencial de recursos naturais, de pessoas e conhecimentos. Não enxergam a sua capacidade para a melhoria de vida das famílias nos seu próprios recursos, mas na “ajuda” de fora. Para muitas organizações interessa mais ter as comunidades beneficiárias de seus projetos “no galinheiro” do que se reconhecerem “como águias” e baterem asas em seus voos próprios. Há alguns anos, facilitando um processo de diagnóstico e planejamento participativos em uma comunidade, que quase não se manifestava, ouvi: “Moço, quando a gente tem um problema, a gente procura um político para ajudar. É a única coisa que a gente sabe fazer.”

Construída durante décadas e internalizada por muitas comunidades, essa dependência é hoje uma forte estrutura que dificulta o desenvolvimento comunitário autônomo e soberano.

Ao lado disso, penso nas atividades eventualmente desenvolvidas por alguns profissionais e organizações no sentido do empoderamento das comunidades, frente às práticas sistemáticas no sentido contrário e concluo que, se não são suficientes para derrubar de pronto a dependência em que as comunidades e suas organizações têm sido mantidas, fazem o trabalho silencioso dos cupins, que corroem a madeira por dentro até torná-la frágil.

Precisamos de consultores e técnicos, organizações e lideranças que sejam cupins, dispostos a corroer e derrubar a forte estrutura de dependência e liberar as comunidades para voarem livres como águias que são.

Já tive a alegria de publicar aqui alguns casos de organizações que apoiaram iniciativas verdadeiramente empoderadoras e comunidades que desenvolvem processos autônomos de desenvolvimento. O caminho existe e é possível de ser trilhado. Lembrando alguns trechos do “Guia Pés Descalços”, em publicação de janeiro de 2013:

No entanto, a situação está longe de ser desesperadora. Existem organizações e movimentos de soberania em todos os continentes resistindo a esta tendência, muitas vezes apoiados por financiadores e organizações sociais com uma abordagem de desenvolvimento diferenciada. O setor social precisa procurá-los e aprender com eles. Existem muitas iniciativas, programas e projetos que são muito promissores, desde que possam se ajustar ou se transformar no sentido de integrar uma abordagem mais organizacional.

Os profissionais de desenvolvimento, incluindo os financiadores, devem prestar mais atenção ao conceito de organização em si e também à prática de facilitar o desenvolvimento de organizações locais e de movimentos sociais autênticos e soberanos. Pode haver um crescente corpo de profissionais de desenvolvimento organizacional trazendo essa abordagem de desenvolvimento, mas acreditamos que isso precisa ser aprendido por mais gente e se tornar o foco da prática do setor de desenvolvimento social como um todo e não apenas em uma parte deste segmento.

É necessário olhar com calma para aquilo que está vivo nas comunidades, o que é autêntico, o que tem potencial, acompanhado de um profundo respeito pelo que é local e nativo e de uma prática sutil que possa dar um suporte bem pensado e cuidadoso onde for preciso. Isso também exige a presença de facilitadores e financiadores que estejam trabalhando em sua própria soberania, observando seus propósitos e valores derivados das necessidades e direitos das pessoas e organizações que eles escolheram apoiar.

Se você me der um peixe,
Você terá me alimentado por um dia.
Se você me ensinar a pescar,
Então você terá me alimentado
Até que o rio esteja contaminado
Ou sua margem tenha sido ocupada pelo desenvolvimento.
Mas se você me ensinar a me organizar,
Então, qualquer que seja o desafio,
Eu poderei me unir a meus pares
E, juntos,
Inventaremos nossa própria solução.

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