Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




sexta-feira, 5 de julho de 2013

Como a elaboração de projetos pode contribuir para o desenvolvimento organizacional



Já comentamos algumas vezes sobre a dependência financeira de muitas associações em relação a financiadores de projetos, como é um erro criar uma associação apenas para captar recursos, etc. Hoje quero partilhar com vocês uma experiência muito interessante de como a elaboração de projetos pode levar a associação a se repensar, rever suas estratégias de ação e os resultados que vem alcançando. Isso me levar a crer que os financiadores também têm um papel importante para o desenvolvimento organizacional das instituições que financia.

Recentemente dei consultoria para uma associação comunitária do Pará para a elaboração de um projeto, respondendo a um edital de demanda espontânea.

Chamou a atenção alguns requisitos exigidos pelo financiador, como uso criativo dos recursos comunitários; participação significativa dos beneficiários na identificação do problema, método escolhido para resolvê-lo, formulação do projeto, execução e avaliação das atividades; contrapartida da associação, dos beneficiários e de organizações parceiras; parcerias com o governo, empresas e sociedade civil; potencial para fortalecer as organizações envolvidas e melhorar a capacidade de autogovernança; potencial para gerar aprendizado e resultados mensuráveis.

A associação com a qual eu trabalhava, preocupada em captar recursos para suas despesas institucionais e prover as comunidades de sua base com bens de consumo, percebeu logo que projeto não é apenas uma forma de se “ganhar dinheiro”, mas é uma proposta de trabalho, que deve ser realizada por todos, juntos, desde a discussão do problema até sua avaliação; que a associação não pode ficar isolada, precisa buscar parceiros; que financiadores apostam em boas propostas e financiam o que a comunidade não tem, mas quer que ela, em contrapartida, disponha daquilo que tem como mão de obra, matérias primas, alimentos, etc.

Algumas informações pedidas no formulário sobre a associação levaram os dirigentes e lideranças a repensar o que a organização tinha sido até aquele momento e o que pretendia ser dali para frente: missão, estrutura de gestão, estrutura operacional, o que já tinha realizado, inclusive com relação ao objetivo do projeto.

Suas práticas também foram colocadas em cheque com algumas perguntas sobre as comunidades e o projeto:

  • Como os membros da comunidade ou grupos representados participarão do projeto?
  • Já trabalharam juntos no passado? Como e por quê?
  • Como este enfoque foi determinado e quem participou?
  • Que parceiros ou organizações participarão deste projeto e o que se comprometeram a contribuir?
  • Indique os resultados previstos, tanto imediatos como de longo prazo. Como você saberá se os alcançou? Como você os medirá?
  • O que torna seu projeto inovador ou diferente?
  • Explique por que o projeto é viável.
  • Indique possíveis desafios para o projeto e como sua organização os abordará.
  • Como as atividades continuarão uma vez terminado o financiamento?

Não duvido que a primeira reação de muitas pessoas seria dizer que o financiador é muito exigente e com isso inviabiliza o financiamento para organizações pequenas, especialmente as comunitárias.

Essa é uma maneira de encarar os projetos, que leva a propostas mal formuladas ou “com aquilo que o financiador quer ouvir” e que ao final poucos benefícios reais levam às comunidades, muitas vezes deixando um rastro de problemas atrás de si.

Outra maneira de encarar, que eu prefiro, é tomar isso como aprendizado: elaborar projetos não é tão fácil como pode parecer para quem não tem experiência e ouviu falar que é fácil; a associação precisa estar preparada para executar um projeto; precisa ter clareza do problema que quer resolver, como fazê-lo, como monitorá-lo e como avaliá-lo; precisa ter um trabalho enraizado na comunidade para que as pessoas participem do projeto desde a sua elaboração e dêem continuidade às atividades depois de terminado o financiamento.

Um projeto entendido desta forma, mais do que um valor em dinheiro, é uma proposta de trabalho, é um sonho partilhado entre financiador e financiados, cada qual dispondo daquilo que têm para que seja alcançado.

Financiadores assim contribuem para o desenvolvimento organizacional. Não geram dependência, mas colaboram para a soberania. “Promovem” as comunidades da posição de carentes para a de comunidades com potencial que precisam de investimento.


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