Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




segunda-feira, 27 de maio de 2013

Recuperando o significado de mobilização e articulação política nas organizações sociais



Nos dias 21 a 23 de maio moderei, com o apoio de Cassiano de Oliveira, assessor de campo do IEB em Humaitá, a primeira reunião da Coordenação Executiva da Organização Padereéh, eleita em fevereiro deste ano. Foi realizada na Aldeia São Luis, na Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste – RO, para favorecer a aproximação e articulação entre os coordenadores e as aldeias e associações daquela Terra Indígena. A Padereéhj congrega aldeias e associações indígenas das Terras Indígenas Rio Branco e Igarapé Lourdes

A pauta incluía a apresentação do levantamento feito sobre a situação fiscal e legal da associação, monitoramento das providências que foram tomadas desde a assembleia realizada em fevereiro; fazer o Diagnóstico Organizacional; monitorar a realização das atividades previstas na agenda interna e externa; as atividades atribuídas a cada coordenador nesse momento de reorganização da associação e atualização da agenda para os próximos meses.

Segundo o coordenador geral, O que queremos hoje é fazer essa articulação dentro das comunidades é levar o nome da Padereéhj nas comunidades, apresentar a coordenação, seus objetivos. Essa deve ser uma atividade coletiva da coordenação executiva e não só do coordenador”. Para isso contam também com os nove membros do Conselho Geral, sendo três do povo Gavião, três do Arara, da Terra Indígena Igarapé Lourdes, e três dos povos da TI Rio Branco.

Revisitando os objetivos definidos no Estatuto, que foi reformado também na assembleia em fevereiro, ficou claro que o objetivo da Padereéhj vai muito além da mobilização e articulação política, que é apenas um dos seus objetivos. A associação se propõe também a atuar nas áreas de formação e informação; garantia dos territórios indígenas; formulação e implementação de políticas públicas para a gestão territorial e ambiental, educação, saúde; incentivar atividades econômicas sustentáveis e respeito à cultura.

Tenho ouvido de forma recorrente lideranças de associações que congregam várias comunidades ou associações micro-regionais sobre a importância e sua dedicação à “mobilização e articulação política das bases.” Nessas ocasiões sempre me pergunto se as lideranças têm clareza sobre esses conceitos e qual é o impacto no desenvolvimento de suas organizações. A mobilização e articulação são fundamentais para as associações de base comunitária, principalmente se vão além de seu papel formal e se propõem efetivamente a ser organizações sociais, mas em geral, se limitam a passar informações sobre eventos que aconteceram e os que vão acontecer os diretores têm participado.

Perguntei aos coordenadores da Padereéhj o que é mobilização. Sem muita clareza sobre o conceito disseram que é mobilizar as comunidades para discutir temas importantes. Foi explicado que mobilização vem de movimento, então mobilizar é movimentar as pessoas. Normalmente cada um está em sua casa, cuidando da sua roça e outras atividades. Mobilizar é motivá-las a se reunir, discutir e trabalhar por objetivos comuns.

Ao perguntar o que é articulação, responderam que é discutir determinados temas dentro das comunidades. É juntar as pessoas. Tem o mesmo sentido que mobilizar. Tomando como exemplo o punho, que é uma articulação entre a mão e o antebraço e o cotovelo, que é uma articulação entre o antebraço e o braço, foi explicado que articular é harmonizar, combinar os movimentos e ações de várias partes para atingir um determinado objetivo. Se cada parte do corpo agir de maneira desarticulada, não conseguiremos realizar as atividades que queremos. Da mesma forma, a Padereéhj quando faz articulação política com as comunidades e associações de sua base, deve conversar sobre o que cada uma está fazendo sobre determinada questão, o que pretendem fazer, para que as ações de todas contribuam para um objetivo comum. Deve, de fato articular as discussões e lutas das várias comunidades e organizações para irem na mesma direção e terem maior resultado, tendo sempre em vista também os seus objetivos. Assim não se corre o risco de haver ações divergentes nem a necessidade da associação centralizar todas as decisões e ações, o que acaba sendo uma tendência não muito participativa e democrática, mas bastante comum.

Na mesma semana trabalhamos com a Diretoria e o Conselho Fiscal da Associação Indígena Doá Txatô, uma das organizações dos povos da Terra Indígena Rio Branco. Monitorando o Plano de Ação elaborado de forma participativa e aprovado pela Assembleia Geral em outubro do ano passado, relataram que em uma reunião realizada na aldeia com técnicos de um órgão do governo, não tiveram espaço para debate, praticamente só os técnicos falaram e a comunidade acabou aceitando propostas bem aquém do que as lideranças desejavam.

Lembrando de quando fazíamos “análise de conjuntura e estrutura” com as comunidades nos anos 1970 e 1980, comentei que o lugar em que uma negociação é feita, chamado de cenário, é muito importante. Porque chamaram o governo para conversar na aldeia e não foram na sede deles? Lá é “a casa” deles e eles mandam, dão o rumo e as regras da conversa. A aldeia é “a casa” de vocês e nela vocês mandam, dão as regras e o rumo da conversa. Por que deixaram que eles dominassem a reunião? Vocês deveriam estar preparados, coordenando a reunião e dizendo como seria: quem fala, quando fala, quanto fala. Também seria importante que conversassem entre si antes da reunião para prepararem, discutirem as posições comuns, a estratégia de condução da discussão para, pelo menos, amarrar os encaminhamentos ao final dela. Concluíram que deveriam ter se articulado antes.

Não será verdade que há ferramentas, metodologias, meios populares de comunicação e formação, conteúdos, estratégias de conscientização, mobilização e articulação, utilizados quando o foco eram os movimentos populares e políticos informais, que empurramos para o fundo do baú como se fizessem parte de outro momento político e social do Brasil ou deixamos se esvaziasse seu significado, mas que continuam sendo muito úteis e atuais para dar mais criatividade, vivacidade, garra e resultados no atual ambiente de organizações formais, programas e projetos governamentais e não governamentais?

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