Nos dias 21 a 23 de maio moderei, com o
apoio de Cassiano de Oliveira, assessor de campo do IEB em Humaitá, a primeira
reunião da Coordenação Executiva da Organização Padereéh, eleita em fevereiro
deste ano. Foi realizada na Aldeia São Luis, na Terra Indígena Rio Branco, em
Alta Floresta D’Oeste – RO, para favorecer a aproximação e articulação entre os
coordenadores e as aldeias e associações daquela Terra Indígena. A Padereéhj
congrega aldeias e associações indígenas das Terras Indígenas Rio Branco e
Igarapé Lourdes
A pauta
incluía a apresentação do levantamento feito sobre a situação fiscal e legal da
associação, monitoramento das providências que foram tomadas desde a assembleia
realizada em fevereiro; fazer o Diagnóstico Organizacional; monitorar a realização
das atividades previstas na agenda interna e externa; as atividades atribuídas
a cada coordenador nesse momento de reorganização da associação e atualização
da agenda para os próximos meses.
Segundo o
coordenador geral, “O que queremos hoje é fazer essa articulação dentro das comunidades é
levar o nome da Padereéhj nas comunidades, apresentar a coordenação, seus
objetivos. Essa deve ser uma atividade coletiva da coordenação executiva e não
só do coordenador”. Para isso contam também com os nove membros do
Conselho Geral, sendo três do povo Gavião, três do Arara, da Terra Indígena
Igarapé Lourdes, e três dos povos da TI Rio Branco.
Revisitando os objetivos definidos no Estatuto, que foi
reformado também na assembleia em fevereiro, ficou claro que o objetivo da
Padereéhj vai muito além da mobilização e articulação política, que é apenas um
dos seus objetivos. A associação se propõe também a atuar nas áreas de formação
e informação; garantia dos territórios indígenas; formulação e implementação de
políticas públicas para a gestão territorial e ambiental, educação, saúde;
incentivar atividades econômicas sustentáveis e respeito à cultura.
Tenho ouvido de forma recorrente lideranças de associações
que congregam várias comunidades ou associações micro-regionais sobre a
importância e sua dedicação à “mobilização e articulação política das bases.” Nessas
ocasiões sempre me pergunto se as lideranças têm clareza sobre esses conceitos
e qual é o impacto no desenvolvimento de suas organizações. A mobilização e articulação
são fundamentais para as associações de base comunitária, principalmente se vão
além de seu papel formal e se propõem efetivamente a ser organizações sociais,
mas em geral, se limitam a passar informações sobre eventos que aconteceram e
os que vão acontecer os diretores têm participado.
Perguntei aos coordenadores da Padereéhj o que é
mobilização. Sem muita clareza sobre o conceito disseram que é mobilizar as comunidades para discutir
temas importantes. Foi explicado que mobilização vem
de movimento, então mobilizar é movimentar as pessoas. Normalmente cada um está em sua casa,
cuidando da sua roça e outras atividades. Mobilizar é motivá-las a se reunir,
discutir e trabalhar por objetivos comuns.
Ao perguntar o que é articulação, responderam que é discutir determinados temas dentro das
comunidades. É juntar as pessoas. Tem o mesmo sentido que mobilizar.
Tomando como exemplo o punho, que é uma articulação entre a mão e o antebraço e
o cotovelo, que é uma articulação entre o antebraço e o braço, foi explicado
que articular é harmonizar, combinar os movimentos e ações de várias partes
para atingir um determinado objetivo. Se cada parte do corpo agir de maneira
desarticulada, não conseguiremos realizar as atividades que queremos. Da mesma forma,
a Padereéhj quando faz articulação política com as comunidades e associações de
sua base, deve conversar sobre o que cada uma está fazendo sobre determinada
questão, o que pretendem fazer, para que as ações de todas contribuam para um
objetivo comum. Deve, de fato articular as discussões e lutas das várias
comunidades e organizações para irem na mesma direção e terem maior resultado,
tendo sempre em vista também os seus objetivos. Assim não se corre o risco de haver
ações divergentes nem a necessidade da associação centralizar todas as decisões
e ações, o que acaba sendo uma tendência não muito participativa e democrática,
mas bastante comum.
Na mesma semana trabalhamos com a Diretoria e o Conselho
Fiscal da Associação Indígena Doá Txatô, uma das organizações dos povos da
Terra Indígena Rio Branco. Monitorando o Plano de Ação elaborado de forma
participativa e aprovado pela Assembleia Geral em outubro do ano passado,
relataram que em uma reunião realizada na aldeia com técnicos de um órgão do
governo, não tiveram espaço para debate, praticamente só os técnicos falaram e
a comunidade acabou aceitando propostas bem aquém do que as lideranças
desejavam.
Lembrando de quando fazíamos “análise de conjuntura e
estrutura” com as comunidades nos anos 1970 e 1980, comentei que o lugar em que
uma negociação é feita, chamado de cenário, é muito importante. Porque chamaram
o governo para conversar na aldeia e não foram na sede deles? Lá é “a casa”
deles e eles mandam, dão o rumo e as regras da conversa. A aldeia é “a casa” de
vocês e nela vocês mandam, dão as regras e o rumo da conversa. Por que deixaram
que eles dominassem a reunião? Vocês deveriam estar preparados, coordenando a
reunião e dizendo como seria: quem fala, quando fala, quanto fala. Também seria
importante que conversassem entre si antes da reunião para prepararem,
discutirem as posições comuns, a estratégia de condução da discussão para, pelo
menos, amarrar os encaminhamentos ao final dela. Concluíram que deveriam ter se
articulado antes.
Não será verdade que há ferramentas, metodologias, meios
populares de comunicação e formação, conteúdos, estratégias de conscientização,
mobilização e articulação, utilizados quando o foco eram os movimentos
populares e políticos informais, que empurramos para o fundo do baú como se
fizessem parte de outro momento político e social do Brasil ou deixamos se
esvaziasse seu significado, mas que continuam sendo muito úteis e atuais para
dar mais criatividade, vivacidade, garra e resultados no atual ambiente de
organizações formais, programas e projetos governamentais e não governamentais?
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