Já
comentei aqui que uma das coisas que impõem limite e muitas vezes comprometem o
sucesso de um programa de Desenvolvimento Organizacional, em especial com
associações comunitárias, é a falta de continuidade, provocada pela interrupção
de financiamento, perda de técnicos ou mudança nas linhas de ação da
organização que oferece o serviço. Algumas organizações prevêem em seus
projetos ações pontuais de “capacitação
para o fortalecimento de associações”, que não chegam a desencadear de fato
um processo.
É fundamental
a construção de relações e o estabelecimento de confiança entre o consultor, as
lideranças e os comunitários, o que leva tempo. Além disso, a capacitação de
lideranças e colaboradores (sejam voluntários ou funcionários), o
esclarecimento sobre os papéis de diretores e conselheiros, o aprimoramento de
procedimentos administrativos, a elaboração de diagnósticos e planejamentos
participativos, a captação de recursos, o monitoramento e avaliação da
implementação do planejamento, o fortalecimento do tecido das comunidades e a
estruturação de grupos de trabalho também são processos demorados.
Quando
esse processo é interrompido, muito do que foi conquistado é perdido. A quebra
de confiança é uma perda ainda maior. Muitas vezes ouvi: “Você vai mesmo trabalhar com a gente ou vai só começar e ir embora
como outros já fizeram?” Nós temos o direito de começar um trabalho, ganhar
a confiança de pessoas e famílias, que muitas vezes nos acolhem em suas casas,
e depois ir embora com a justificativa de que “o projeto acabou”?
É preciso
que organizações e financiadores pensem seriamente até onde vai o seu
compromisso antes de iniciar qualquer ação.
Tenho
sempre falado para dirigentes, lideranças e associados que eles não devem
contar que terão sempre apoio externo. Devem aproveitar o que está sendo
oferecido para se prepararem para um dia caminharem sozinhos, continuarem
desenvolvendo suas associações com suas próprias habilidades e capacidades, mas é preciso que as ações de Desenvolvimento Organizacional sejam formatadas nesta perspectiva e que a continuidade seja garantida até que possam caminhar sozinhos. Costumo dizer que "não podemos manter uma criança em nosso colo durante anos e, de repente, dizer a ela que já está bem grandinha e deve andar sozinha". Como podemos cobrar isso dela se não demos as condições necessárias para isso?
Recentemente
iniciei um trabalho com uma associação. Temos um contrato que, até onde é
possível, garante um ano de trabalho. Depois disso será feita uma avaliação dos
avanços conseguidos e da necessidade de um novo período de trabalho. Neste
primeiro ano seguiremos a metodologia descrita na postagem anterior a esta.
Serão intercaladas oficinas para formação sobre associativismo, diagnóstico e
planejamento, elaboração de projetos e captação de recursos, gestão de
associação, projetos e empreendimentos comunitários, com períodos de
capacitação em serviço que ligarão o que foi trabalhado nas oficinas com o
cotidiano da associação, além da construção de um Plano de Vida, que inclui a
Visão de Futuro, Diagnóstico e Planejamento, construídos de forma participativa
em todas as comunidades, seguidos de sistematização e validação com as
lideranças.
Acredito
que só pode haver fortalecimento de uma associação com o empoderamento de cada
associado, suas lideranças e dirigentes, fazendo dela uma organização efetiva
daquelas comunidades para a conquista autônoma e soberana de seus direitos e
qualidade de vida. Se não estivermos dispostos ou com condições para isso, melhor fazemos se nem começarmos.
As colocações do artigo são super pertinentes. Sem a continuidade das ações, o fortalecimento institucional não se concretiza.
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