Já falei
anteriormente do “pecado original” de boa parte das associações comunitárias,
que é serem criadas por estímulo externo para captar recursos. A falta de um
“tecido social” fortalecido e o consenso em torno de objetivos, além do pouco
conhecimento sobre funções e atribuições de diretores, conselheiros e
associados comprometem seu funcionamento. O foco na captação de recursos
externos desconsidera a importância e potencial da contribuição financeira dos
associados, desvaloriza as potencialidades da própria comunidade para a solução
de seus problemas, além de não valorizar outras oportunidades além dos recursos
financeiros que parceiros podem oferecer.
Felizmente
várias associações vêm rediscutindo seu papel e funcionamento.
Na semana
passada participei da Assembleia Geral Extraordinária da Organização Padereéhj,
em Rondônia. Com a participação de cerca de 100 pessoas, de vários povos
indígenas das Terras Indígenas Rio Branco e Igarapé Lourdes, foi aprovada a
reforma do estatuto (Ver postagem de 22 de fevereiro) e eleita uma nova
diretoria. Sem recursos e desmobilizada, a associação ficou praticamente
inativa nos últimos anos. Também neste caso, várias associações foram criadas
por diferentes povos em suas aldeias. No novo estatuto, os objetivos focam a
articulação com o movimento indígena, reivindicação de políticas públicas e
luta por direitos, deixando para as associações locais as atividades mais
específicas. Seu papel também foi redefinido quando se estabeleceu que podem se
associar a ela as organizações formais (associações e cooperativas) e as
aldeias, reconhecendo assim a organização tradicional daqueles povos.
No breve
planejamento, feito no final da assembleia, além da agenda política programaram
para os próximos meses atividades de fortalecimento da associação: visitas dos
membros do Conselho Geral às aldeias para articulação e mobilização e filiação
das aldeias e associações.
Mesmo que
a partir de um duro aprendizado, associações começam a trilhar seu próprio
caminho, valorizando a mobilização de seus associados, a discussão de seus
objetivos e a sua efetiva organização e funcionamento. Que os exemplos
existentes estimulem outras associações comunitárias e micro-regionais a fazer
o mesmo.
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