Enviado por
Cassiano de Oliveira e Aurélio Herraiz
Assessores de Campo do IEB em Humaitá-AM
No dia 5 de março foi realizado o
evento de licitação da merenda escolar na prefeitura de Humaitá-AM. A atividade
consistia basicamente na compra de gêneros alimentícios pela prefeitura de
produtores rurais da agricultura familiar do município para a merenda escolar
dos alunos da rede municipal de ensino. Participaram 11 produtores rurais, além
de dois funcionários da prefeitura, que conduziam o processo, e dois assessores
do IEB como observadores.
Inicialmente os presentes foram
informados pelo responsável pela licitação, que cada agricultor poderia vender
para a prefeitura o valor máximo de R$ 9.000,00. O valor total estimado daquela
chamada pública era de R$ 74.000,00. Em seguida leu a lista de documentos
exigidos (requisitos) para a prefeitura poder comprar produtos: Declaração de
Aptidão ao Pronaf – DAP; Carteira de produtor rural; Certidão Negativa de
Dívidas com a União; Certidão Negativa de Dívidas com a SEFAZ; Cópia do CPF do
produtor; Cópia do RG do produtor.
Em seguida fez a leitura da tabela de
especificação dos produtos, quantidades e preços. Os agricultores familiares
presentes apontaram problemas na lista em questão, por exemplo, no município
não há produtores de laranja ou na época de cheia dos rios (em que se realiza a
licitação) não há produção de melancia em toda a região. A nutricionista da Secretaria
Municipal de Educação - SEMED justificou que a lista de produtos foi elaborada
pelo IDAM, por demanda da prefeitura, e que os problemas mencionados também já
haviam sido identificados por alguns trabalhadores da prefeitura, ou seja, os
problemas constantes na lista não foram gerados pelo governo municipal. Por
outro lado, produtos regionais como açaí, castanha e maracujá não foram
incluídos. A nutricionista explicou que a produção local de açaí não está
certificada pelos órgãos sanitários; a castanha ocasionaria problemas com as
merendeiras, que não aceitam quebrar castanhas e não há produção no município
de castanha descascada com condições de armazenamento e nem todas as escolas
possuem liquidificador para processar o maracujá.
Os produtores presentes esclareceram que
os preços oferecidos pela prefeitura estavam muito abaixo do mercado. O
responsável pela licitação efetuou um levantamento do valor de mercado de cada
produto entre os agricultores presentes e fez as alterações propostas,
aumentando os valores significativamente.
Na etapa seguinte foram definidos os
produtores que venderão cada produto para a prefeitura. Conforme seus cultivos,
os agricultores se apresentavam para fornecer os produtos e as quantidades. Apenas
dois produtos ficaram sem propostas, melancia e maxixe, pois estes produtos não
são desta época e foram equivocadamente incluídos na chamada pública.
Por fim, o responsável pela licitação
flexibilizou a apresentação da documentação exigida para os produtores poderem
efetuar a venda dos produtos para a prefeitura. No primeiro momento, foi
mantida a exigência apenas de três documentos: DAP, Cópia do CPF e Cópia do RG,
documentos que ficaram de ser apresentados no início da semana seguinte. Os outros três documentos (Carteira de
Produtor Rural, Certidão Negativa da União e da SEFAZ) os produtores rurais têm
um prazo de três meses para se regularizar, conseguir e apresentar esta
documentação.
Foi evidenciado que esta licitação se refere ao primeiro semestre
letivo, sendo que para o segundo semestre escolar deverá haver outra licitação
para a merenda escolar, prevista para junho, na qual deverá ser adquirida pela
prefeitura uma variedade maior de produtos da agricultura familiar.
Os agricultores presentes se mostraram razoavelmente satisfeitos com o
evento.
Neste momento não foi muito expressivo o número de
agricultores participantes, nem o valor que cada um pode comercializar. No
entanto, foi maior em relação às licitações anteriores devido à divulgação do
edital feita pelo IEB e o IDAM nas comunidades. Merece destaque o interesse
efetivo da prefeitura em regionalizar a merenda escolar e valorizar a
agricultura familiar. Também chama a atenção a contratação direta dos
produtores rurais, sem burocratizar a relação exigindo a intermediação de
organizações formais, além da flexibilização com relação aos preços e
documentos exigidos.
De acordo com Cassiano, a
proposta é manter e aumentar o contato com o pessoal da prefeitura
(principalmente o responsável do setor de licitação da prefeitura e a
nutricionista da Semed) para influenciar positivamente na próxima chamada
pública da prefeitura para merenda escolar, prevista para junho. Ao mesmo
tempo, articular para que os produtores consigam os documentos exigidos por
estes editais (principalmente a DAP e a carteira de produtor rural).
Se
me perguntarem o que isso tem a ver com o desenvolvimento organizacional de
associações, responderei que talvez nada, mas tem muito a ver com o trabalho de
organização comunitária que vem sendo desenvolvido há anos pelo IEB e outras
organizações na região, com a valorização da agricultura familiar, com a geração
de renda, com a melhoria das condições de vida das famílias nas comunidades e
com o acesso às políticas públicas e negociação de seus produtos. Todas as
formas de organização comunitária, formais ou informais, merecem ser
estimuladas para que esses objetivos sejam alcançados, em especial as menos
onerosas para as comunidades.
Cara! Eu acho que isso tem tudo a ver com o desenvolvimento organizacional de associações! Se aproveitarmos dessa oportunidade para apoiar as associações na gestão administrativa e financeira de organização da produção e da comercialização, não seria DO? A Associação pode comercializar para a merenda escolar, por meio de uma DAP jurídica, acho que isso fortalece sua base social e a credibilidade da institucição perante a comunidade...de quebra valoriza os produtos e a cultura regionais, gera renda para as famílias, dinamiza a economia no local, fortalece o tecido social.
ResponderExcluirEu não sou anônimo nem rôbo...é que não sei como postar comentário me identificando com meu email...rsrsr
ResponderExcluirRuth Corrêa - IEB/Belém
Oi, Ruth
ExcluirVocê tem toda razão no seu comentário. Fica aí a dica para a equipe de Humaitá.
Quanto ao seu "anonimato", você pode continuar se identificando como fez agora ou se inscrever como seguidora do blog para que ele te reconheça quando postar outros comentários.
Abraço,