Nos dias
19 e 20 de fevereiro, participei de uma reunião de trabalho, junto com Henyo
Barretto com pouco mais de dez lideranças da Organização Padereéhj, na sede da
Coordenação Regional do FUNAI, em Ji-Paraná – RO, para a elaboração de uma
proposta de reforma do Estatuto e preparar a Assembléia Geral Extraordinária
que apreciará a proposta e elegerá uma nova Diretoria e Conselho Geral.
A Padereéhj é uma organização dos povos indígenas das
Terras Indígenas Rio Branco e Igarapé Lourdes, em Rondônia. Segundo relato das
lideranças presentes a organização foi criada, como tantas outras, para captar
recursos. “Não foi para fortalecer o movimento indígena.
Depois de criada abraçou o movimento indígena”. Disseram também que “os indígenas não chegaram a conhecer qual é o papel da associação e qual é
o papel dos associados. Esse é o ponto crítico das associações indígenas.
Criaram para captar recursos e não para organizar as comunidades. Qual é o
papel que tem diante das políticas do governo” A
conseqüência, também como em tantas outras associações foi que “os parentes não
ajudavam, não reconheciam a Padereéhj como sua. Parecia que ela tinha sido
criada para mim”, além da atuação ter ficado só com o presidente,
ter faltado articulação das bases, além de assistência técnica, administrativa
e financeira, estrutura física e recursos. Desde 2008 que não é ao menos
realizada assembléia para eleger nova diretoria
No entanto, destacaram que teve uma atuação
importante de representação dos povos indígenas.
O diferencial dessa história tão comum entre as
associações comunitárias e micro-regionais é que as lideranças da Padereéhj,
com apoio do IEB e FUNAI, resolveram repensar a associação, elaborando uma
proposta de reforma de seu Estatuto e convocar uma Assembleia Geral Extraordinária
para apreciar a proposta e eleger uma nova Diretoria e Conselho Geral.
Lembrei a eles que em várias oficinas sobre gestão
de associações quando falávamos do papel e funcionamento das associações, havia
muitos depoimentos como esses e eu propunha que, voltando para suas
organizações, propusessem uma repactuação da associação, rediscutindo seus
objetivos, estrutura e funcionamento, inclusive levando em conta que não é
verdade que a legislação é rígida e todas tem que ser iguais, mas que podem
considerar as formas tradicionais de organização de seus povos.
Fiquei contente que esta reunião foi um primeiro
momento para a “refundação” da Organização Padereéhj. Com auxílio de um
projetor multimídia, as lideranças presentes participaram da discussão de cada
artigo. Foram estimulados a pensar nos objetivos que
querem alcançar daqui para frente, para que
querem continuar organizados na Padereéhj.
Ao definirem quem poderia se associar, concluíram
que serão as aldeias, associações e cooperativas. Dessa forma, reconhecem a
legitimidade de sua organização tradicional para representar os interesses de
seus integrantes, não sendo necessário que criem organizações formais. Afinal, essa é uma organização indígena e não deve exigir
que criem “organizações de branco” para serem representados.
Na avaliação, entre outras coisas, disseram que: O Estatuto ficou bem falado. É
dessa forma que a gente precisa trabalhar. Não pode passar por cima. Ficou
claro. Precisamos trabalhar assim para fortalecer a Padereéhj. A gente queria isso mesmo pra
botar na prática. A gente queria isso há muitos anos. Aprendemos mais sobre
associação. Estamos gostando de aprender com vocês. Foi muito bom. Agora cada um vai saber o seu
papel e a associação vai funcionar. Funcionou bem. Tem
que colocar português para o branco entender. Nós participamos e vocês
ajudaram. Fico agradecido. A gente tem que falar do jeito que quer que o
Estatuto seja feito para não ficar insatisfeito depois.
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