Nos dias 16 a 27 de junho, acompanhei
um grupo de 17 dirigentes e conselheiros de associações indígenas da região do
baixo Rio Teles Pires, na divisa do Mato Grosso com o Pará, em um intercâmbio
com associações dos povos do Parque Indígena Xingu com o objetivo de trocar
experiências sobre o desenvolvimento de associações.
A preparação começou alguns meses
antes fazendo primeiro um levantamento de associações, de preferência
indígenas, que tivessem experiências significativas para partilhar,
contribuindo para o aprendizado dos participantes e para o desenvolvimento das
associações Kawaip, Sawara e Dace, dos povos Kayabi, Apiaká e Munduruku. Em
seguida foi feito um diálogo, por um lado com as lideranças das associações a
serem visitadas e, por outro, com os participantes. Foi feita uma cuidadosa
preparação da logística em conjunto com a empresa que financiou a atividade e
associações do Xingu, para providenciar a alimentação, combustível, veículos e
barcos e hospedagem necessários para a viagem.
Na véspera da viagem nos reunimos para
que os dirigentes e conselheiros das associações definissem em maior detalhe
quais os aspectos do desenvolvimento das associações eles achavam importante
tratar, que seriam mais importantes para ajuda-los a atrabalhar em suas organizações:
- Como é a administração da
associação: atuação da diretoria, controles financeiros e do patrimônio;
- Como é a relação da associação
com a comunidade: associação e organização tradicional, participação da
comunidade nas decisões, atividades e projetos da associação;
- Como é feita a captação de
recursos: projetos que já executaram e estão executando, outras formas de
captação de recursos;
- Parceiros: quem são e como
contribuem para o desenvolvimento da associação;
- Atividades de geração de renda.
Com a Associação Terra Indígena Xingu – ATIX, em
Canarana e no Diauarum, conversaram sobre a sua fundação, organização interna,
gestão, projetos executados, parcerias celebradas e atividades realizadas com
todos os povos indígenas do parquet relacionadas à vigilância e proteção do
território e atividades de geração de renda, especialmente a produção e
comercialização do Mel dos Índios do Xingu.
Com a Associação Indígena
Kisedje, na Aldeia Ngoiwere, conversaram sobre a sua fundação, organização
interna, projetos e outras formas de captação de recursos, parcerias, controles
financeiros, prestação de contas para os associados, participação dos
associados na tomada de decisões e nas atividades desenvolvidas pela
associação, atividades de geração de renda como a produção e comercialização de
artesanato, mel e óleo de pequi, além de políticas públicas de saúde, educação
escolar e a participação de indígenas à frente da Coordenação Técnica Local e
da Coordenação Regional da FUNAI
Na Aldeia Capivara, tomaram conhecimento do projeto
desenvolvido pela aldeia, tendo como proponente a ATIX, para a recuperação de
área degradada e de sementes tradicionais e a experiência com roça sem fogo,
com assessoria técnica do Instituto Socioambiental.
Também houve momentos em que viram, participaram e
retribuíram apresentações de danças tradicionais. Chamou a atenção dos
participantes como aqueles povos conseguem manter e fortalecer a sua
organização tradicional e a sua cultura, ao mesmo tempo em que aprofundam o seu
conhecimento e a prática sobre atividades “do mundo dos brancos”.
Foi uma experiência muito
significativa de aprendizado, como demonstram os depoimentos que fizeram na
avaliação ao final do intercâmbio. Um aprendizado construído a partir de
experiências vividas, conhecimentos assimilados e incorporados, que foram
transmitidos e trocados sem intermediações como muito bem definiu uma liderança
da Aldeia Capivara: “o que vocês aprenderam, nós não aprendemos; o que nós
aprendemos, vocês não aprenderam. Por isso esse intercâmbio é muito importante
para nós.”
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