O intercâmbio entre comunidades e
organizações tem sido bastante utilizado como estratégia de formação através da
observação de experiências que estão sendo executadas com algum grau de sucesso
e da troca de informações e saberes. Vejo também como uma forma de valorizar os
conhecimentos existentes e democratizar a produção de novos. Na Aldeia
Capivara, no Parque Indígena Xingu – PIX, o vice cacique, ao receber um grupo
de 17 dirigentes e conselheiros de associações indígenas do Baixo Rio Teles
Pires que eu acompanhava neste mês de junho disse que “o que vocês aprenderam,
nós não aprendemos; o que nós aprendemos, vocês não aprenderam. Por isso esse
intercâmbio é muito importante para nós.”
Recentemente uma liderança comunitária
que estava querendo organizar um intercâmbio me perguntou o que ele é de fato.
Comecei pela etimologia da palavra: “câmbio” é troca e “inter” é entre, então
intercâmbio é troca de conhecimentos e experiências, por exemplo, entre pessoas
ou grupos.
A democratização da transmissão e
construção de conhecimento através do intercâmbio começa com esta sua
característica básica: todos os participantes têm conhecimentos importantes a
partilhar e a troca se dá em mão dupla ou múltipla, conforme o caso. Lembrei em
um dos momentos desse intercâmbio da Távola Redonda, do mítico Rei Arthur,
quando preparávamos em roda as cadeiras e mesas para iniciar uma das conversas.
Disse também para aquela liderança que
ao preparar um intercâmbio é preciso definir um tema e o objetivo que se quer
alcançar com ele. Esse objetivo deve estar contextualizado em um trabalho que
está sendo desenvolvido e que se sentiu a necessidade de confrontar
conhecimentos teóricos com experiências práticas, complementar informações,
ampliar o leque de possibilidades. O tema pode estar previamente definido na
estratégia de formação, proposta e executada em geral por uma organização
parceira, mas especialmente os objetivos específicos e resultados a serem
alcançados devem ser definidos em conjunto com os participantes. O técnico ou
consultor tem a função de orientar o processo.
Outro passo importante é identificar
pessoas, lugares, organizações que possam ter conhecimentos e experiências
significativas para trocar sobre o tema. A prospecção dos possíveis grupos e
organizações é um momento muito importante, para o qual se deve dar especial
atenção. As diferentes alternativas devem também serem discutidas com o grupo,
levando-se em conta qual oferece maiores condições de alcançar de maneira mais
significativa os resultados, levando-se em conta a logística, tempo disponível
e orçamento.
O grupo, comunidade ou organização a
ser visitada deve ser informado previamente das características dos visitantes,
o contexto do trabalho que está sendo realizado, os objetivos do intercâmbio e
os resultados que se espera alcançar com ele, para que possam se prepara
adequadamente. As necessidades de hospedagem e alimentação, entre outras,
também devem ser informadas claramente. Surpresas nesse sentido podem causar
constrangimentos tanto nos visitantes quanto nos visitados, que em geral fazem
questão de receber bem.
A execução também merece cuidados.
Antes de iniciar a viagem é importante se reunir com o grupo para detalhar ou
lembrar o que já foi detalhado sobre os objetivos e resultados, pactuar algumas
regras de convivência e dar as últimas orientações necessárias. Tenho observado
uma grande possibilidade de intercâmbios facilmente descambarem para um
passeio, se transformando em momento de puro lazer ao invés de atender aos seus
objetivos. Claro que é importante prever momentos de conversas informais, um
joguinho de futebol no final da tarde, apresentações culturais ou diversão à
noite, mas não se pode perder o foco. Avaliações com o grupo durante o
desenvolvimento da atividade ajuda a corrigir rumos quando necessário.
Neste momento é fundamental o técnico
ou consultor não perder de vista qual é o seu papel. Não é o seu conhecimento
técnico que se foi buscar, mas sim os conhecimentos e experiências adquiridas e
desenvolvidas pelo grupo visitado, a troca com os visitantes e a construção
conjunta de novos conhecimentos. Ele é um facilitador desse processo e deve
contribuir para fomentar a troca e a reflexão, lembrar quando necessário de
aspectos que não foram tratados ou podem ser melhor explorados e eventualmente
complementar com alguma informação que for relevante e contextualizada na
conversa que está sendo feita.
Solicitar previamente um relato de
cada um dos participantes ou em grupos contribui para que direcionem sua
atenção durante as atividades e, depois de terminadas, seja um momento para
organizarem e sistematizarem suas informações. É também importante como
registro ou memória de sua realização.
Uma avaliação final é a ferramenta
adequada para checar o alcance dos objetivos e resultados e contribuir para
aprimorar futuros intercâmbios.
Para não alongar muito essa postagem,
deixarei para a próxima o relato do intercâmbio realizado neste mês entre as
organizações indígenas do Baixo Rio Teles Pires e do Parque Indígena Xingu.
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