O texto “Sobre águias, galinhas e associações” tem tido
uma boa repercussão. Postado em abril deste ano é a segundo mais acessado desde
que este blog foi criado, em dezembro de 2011. O primeiro é “Estamos contribuindo para que as associações sejam
soberanas?”, de janeiro. O que chama a atenção é que os dois
textos tratam do mesmo tema: o desenvolvimento das organizações comunitárias
com foco no protagonismo dos associados, contando principalmente com suas
potencialidades e capacidade de gestão para atingirem juntos os objetivos a que
se propuseram.
Tenho
utilizado esses textos em algumas oficinas. Depois da leitura da fábula “A Águia e a Galinha”, pergunto aos participantes
quem é a águia? O que significa uma águia viver como galinha? Quem é o camponês
que criou a águia como se fosse galinha? O que é o galinheiro? Quem é o
naturalista que devolveu à águia a sua autoestima e capacidade de voar
livremente?
Refletem
como a associação foi criada e se ela tem ajudado a abrir novos horizontes para
que “voem cada vez mais alto” ou os tem confinado no “galinheiro” da
formalidade, dos “conhecimentos que só os técnicos têm”, dos recursos que as
organizações parceiras podem oferecer como “o milho que é espalhado pelo chão
para ser ciscado”. Na fábula, a águia relutou em reconquistar sua liberdade
porque ela traz riscos e a faz depender de si própria para conseguir seu
alimento. O galinheiro oferecia segurança e a parca alimentação diária estava
garantida. No entanto, a alma de águia acabou falando
mais alto.
Começam a
diferenciar os “parceiros” que confinam e limitam e aqueles que favorecem o
desenvolvimento soberano, estimulando suas capacidades e recursos. O
naturalista não voou junto com a águia. Seu papel terminou quando ela recuperou
sua confiança e capacidade de voar. Um trabalho de
desenvolvimento comunitário e organizacional passa por aí e tem como
perspectiva não ser mais necessário.
No mês
passado, quando foi feita essa discussão com caciques e diretores de
associações no Oiapoque – AP, algumas lideranças manifestaram a necessidade e o
desejo de “voarem”. Como citei em uma das postagens de maio, uma delas disse
que lembrou de uma história contada pelos antepassados em que, perguntados
sobre o que queriam, os índios disseram que só queriam ser livres. Fiquei muito
contente que a conversa tivesse despertado antigas histórias e um tradicional
jeito de encarar a vida.
Na semana
passada, com diretores, conselheiros e lideranças de uma organização indígena
no Pará, disse que ficaria muito feliz no dia em que eles dissessem que o
trabalho que fizemos foi tão bom que não precisam mais de mim. Ouvi dizerem ao
final da oficina que “nós queremos voar. Não
queremos ficar parados. E quando precisar, nós vamos chamar você para ajudar a
gente a voar ainda melhor.”
Eu acredito que só é possível pensar em desenvolvimento social e
das organizações comunitárias se as pessoas tiverem a devida autoestima, a
consciência de sua cidadania e reconhecerem o verdadeiro valor de suas
potencialidades.
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