Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




domingo, 9 de junho de 2013

Águias não querem ser tratadas como galinhas



O texto “Sobre águias, galinhas e associações” tem tido uma boa repercussão. Postado em abril deste ano é a segundo mais acessado desde que este blog foi criado, em dezembro de 2011. O primeiro é “Estamos contribuindo para que as associações sejam soberanas?”, de janeiro. O que chama a atenção é que os dois textos tratam do mesmo tema: o desenvolvimento das organizações comunitárias com foco no protagonismo dos associados, contando principalmente com suas potencialidades e capacidade de gestão para atingirem juntos os objetivos a que se propuseram.

Tenho utilizado esses textos em algumas oficinas. Depois da leitura da fábula “A Águia e a Galinha”, pergunto aos participantes quem é a águia? O que significa uma águia viver como galinha? Quem é o camponês que criou a águia como se fosse galinha? O que é o galinheiro? Quem é o naturalista que devolveu à águia a sua autoestima e capacidade de voar livremente?

Refletem como a associação foi criada e se ela tem ajudado a abrir novos horizontes para que “voem cada vez mais alto” ou os tem confinado no “galinheiro” da formalidade, dos “conhecimentos que só os técnicos têm”, dos recursos que as organizações parceiras podem oferecer como “o milho que é espalhado pelo chão para ser ciscado”. Na fábula, a águia relutou em reconquistar sua liberdade porque ela traz riscos e a faz depender de si própria para conseguir seu alimento. O galinheiro oferecia segurança e a parca alimentação diária estava garantida. No entanto, a alma de águia acabou falando mais alto.

Começam a diferenciar os “parceiros” que confinam e limitam e aqueles que favorecem o desenvolvimento soberano, estimulando suas capacidades e recursos. O naturalista não voou junto com a águia. Seu papel terminou quando ela recuperou sua confiança e capacidade de voar. Um trabalho de desenvolvimento comunitário e organizacional passa por aí e tem como perspectiva não ser mais necessário.

No mês passado, quando foi feita essa discussão com caciques e diretores de associações no Oiapoque – AP, algumas lideranças manifestaram a necessidade e o desejo de “voarem”. Como citei em uma das postagens de maio, uma delas disse que lembrou de uma história contada pelos antepassados em que, perguntados sobre o que queriam, os índios disseram que só queriam ser livres. Fiquei muito contente que a conversa tivesse despertado antigas histórias e um tradicional jeito de encarar a vida.

Na semana passada, com diretores, conselheiros e lideranças de uma organização indígena no Pará, disse que ficaria muito feliz no dia em que eles dissessem que o trabalho que fizemos foi tão bom que não precisam mais de mim. Ouvi dizerem ao final da oficina que “nós queremos voar. Não queremos ficar parados. E quando precisar, nós vamos chamar você para ajudar a gente a voar ainda melhor.”

Eu acredito que só é possível pensar em desenvolvimento social e das organizações comunitárias se as pessoas tiverem a devida autoestima, a consciência de sua cidadania e reconhecerem o verdadeiro valor de suas potencialidades.

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