Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




sábado, 28 de julho de 2012

Associação não é só para captar recursos


Nos dias 23 a 25 de julho moderei uma reunião para diagnóstico e planejamento da Associação dos Povos Indígenas Wayana e Apalai – APIWA, durante o Encontro de Lideranças Wayana e Aparai, a convite do Iepé Instituto de Pesquisa e Formação Indígena. Participaram 40 caciques e demais lideranças de 16 aldeias.

Inicialmente refletimos um pouco sobre o papel e importância da associação como uma das formas de organização daqueles povos. Reforçamos que a associação é uma ferramenta de trabalho para que todos os associados trabalhem juntos para a conquista de objetivos que avaliem que sejam importantes. Foi perguntado a eles o que normalmente faziam sozinhos, o que faziam coletivamente de acordo com a organização tradicional e o que precisavam fazer juntos tendo uma organização formal. Dessa forma ficou claro que não é preciso ter uma associação para todas as atividades e, muito menos, a existência dela deve anular a organização tradicional. A associação deve contribuir naquilo que a organização tradicional não é suficiente.

Levando em conta que para cada objetivo precisamos de uma ferramenta específica, se o objetivo é conseguir recursos de fora, a associação tem se mostrado ineficiente, já que a grande maioria delas não consegue dinheiro de projetos ou consegue muito pouco. Não é para isso que devemos criar uma associação. A maior força da associação está nas pessoas que fazem parte dela, nas capacidades de cada um e nos recursos existentes. Sua função é mobilizar e articular essas potencialidades, além de, sempre que necessário, aproveitar as oportunidades de parcerias, políticas públicas e financiamentos. Vocês têm uma terra com muitos recursos naturais. O que querem fazer com ela para viverem bem aqui?

Lembramos a frase de Gersem Luciano, índio Baniwa: “O desafio é recuperar a auto-estima e a capacidade de auto-sustentação, a partir dos conhecimentos tradicionais e dos recursos naturais e humanos locais, eventualmente complementados pelos conhecimentos e tecnologias do mundo moderno.”

Associação é para fazer juntos, desde a discussão dos problemas, definição de objetivos e das atividades para atingi-los, até a avaliação dos resultados alcançados. Por isso estávamos fazendo um diagnóstico e planejamento com todos. Para a realização das atividades, devem ser aproveitadas as diferentes capacidades dos associados e dividir tarefas: atividades administrativas, discussão de temas importantes com outras organizações e organização de atividades nas aldeias.

Reunidos em grupos, discutiram: Quais são os problemas que precisamos resolver? Quais são as melhorias queremos conseguir? Depois da exposição dos grupos, os problemas foram transformados em objetivos. Como se tratava de uma lista de grande foram escolhidas prioridades seguindo os critérios de: quais melhoram mais a vida das pessoas, quais beneficiam um maior número de pessoas e quais estão relacionados a um número maior de outros objetivos.

Novamente em grupos, definiram as atividades e recursos necessários para cada objetivo, que foram depois revisados e validados pelo plenário.

Ganhou destaque um dos objetivos que era “melhorar a qualidade do artesanato para a venda”. Planejaram oficinas em que os melhores artesãos ensinariam os demais. Para isso, inicialmente pensaram em financiamento de um projeto para remunerar os professores outros recursos necessários para fazer essas oficinas em duas ou três aldeias centrais. Foi ponderado que essa era uma atividade que eles tinham todos os recursos necessários para fazer em cada aldeia. Dessa forma poderiam fazer quando quisessem. Se preferirem remunerar os artesãos que iam ensinar e centralizar em algumas aldeias necessitando de combustível e alimentação, precisariam esperar até conseguir algum financiamento. Quanto menos precisarem de recursos de fora, mais autonomia têm para fazer o que querem e quando querem. A sugestão foi aceita.

Ao final dessa atividade, voltaram a discutir e aprovaram a criação de um fundo constituído por contribuições dos associados, em especial os assalariados (professores a agentes de saúde), artesãos e aposentados, com valores diferenciados para cada categoria.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Estréia em Novo Aripuanã teatro sobre associativismo


No último dia 15, um grupo de 12 jovens de Novo Aripuanã, no Sul do Amazonas, apresentou pela primeira vez uma peça de teatro amador sobre um dos capítulos do livro Associação é para fazer juntos: Associação é uma forma de se organizar, na comunidade São Francisco do Arauá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma.

Eles fazem parte dos grupos de jovens das comunidades católicas de São José, Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora Aparecida que aceitaram em março a nossa proposta de apresentarem peças de teatro sobre associativismo para as comunidades rurais do município.

Na última das reuniões que fizemos neste mês na RDS do Juma para diagnóstico e planejamento, os trabalhos foram iniciados com a apresentação como forma de estimular o debate sobre o papel e importância da associação.

A dramatização se mostrou a forma mais eficiente para transmitir o conteúdo e estimular a reflexão dos ribeirinhos daquela comunidade, antes de começarem a identificar seus principais problemas e definirem as estratégias de ação para resolvê-los.

Durante os ensaios, os jovens acrescentaram ao texto falas e caracterizações de acordo com a realidade local, que foram vistas com entusiasmo pela comunidade que se identificou com os personagens.

O grupo deverá fazer novas apresentações e criar outras dramatizações a partir do livro.


Diagnóstico e Planejamento nas comunidades: construindo a participação


Nos dias 09 a 15 de julho realizei junto com Francivane Fernandes da Silva, assessora de campo do IEB reuniões em 4 comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, em Novo Aripuanã – AM, para a realização de diagnóstico e planejamento da AMARJUMA – Associação dos Moradores e Amigos da RDS do Juma. Fomos acompanhados por Doracy Correia Paes, até recentemente o presidente da associação.

Depois de termos feito o diagnóstico organizacional da associação, o passo seguinte no trabalho de desenvolvimento foi fazer o diagnóstico e planejamento participativos. Nas comunidades Boa Vista, Limão, Livramento e São Francisco, às margens dos rios Mariepáua e Arauá, se reuniram também representantes de outras 11 comunidades da região.

Em todas elas iniciamos uma reflexão sobre o papel e importância da associação, destacando que ela é uma ferramenta de trabalho e os associados e objetivos são seus elementos fundamentais. Segundo depoimentos, a AMARJUMA foi criada para viabilizar o recebimento de Bolsa Floresta, exigência feita pela gestora desses recursos. Disseram que não sabiam qual era a finalidade e objetivo de uma associação. Assinei como sócio, mas não sabia onde estava entrando.

Doracy já havia se reunido nessas reuniões para fazer leituras dialogadas e debates sobre associativismo usando o livro Associação é para fazer juntos (ver postagem de maio). Em alguns casos optamos apenas por relembrar o que havia sido conversado. Em outros, fizemos novamente a leitura, porque poucos dos presentes haviam participado. Na última, realizada no domingo, na Comunidade São Francisco, o grupo de jovens de Novo Aripuanã apresentou a peça de teatro que vinham ensaiando (ver postagem acima).

O diagnóstico foi feito principalmente a partir da Chuva de Idéias de problemas, que foram em seguida reformulados quando sua redação não estava clara. Foram também abordados os critérios para estabelecer prioridades: problemas mais graves, que atinjam maior número de pessoas e que estejam relacionados a um número maior de outros problemas.

Foram orientados a transformar os problemas em objetivos, definir atividades e recursos necessários para atingi-los. Segundo disseram foi a primeira vez que pensaram a associação não só para captação de recursos, mas como ferramenta para organizar melhor a produção e comercialização de seus produtos e reivindicar melhorias de infraestrutura. Também foi a primeira vez que se reuniram para pensar em seus problemas de forma mais estruturada e planejar juntos como resolvê-los.