Chamada pelo
Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulisses Guimarães, de “Constituição
Cidadã”, a Constituição Brasileira de 1988 estabelece no parágrafo único do
artigo 1º que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
No entanto, não
é o fato de estar claro na nossa constituição que a participação dos cidadãos
na gestão pública das cidades seja real e efetiva.
Winston
Churchill, primeiro ministro da Inglaterra nos tempos da 2ª Guerra Mundial,
teria dito que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as
demais”. Talvez fosse porque é difícil construir um consenso entre
legisladores, poderes executivo e judiciário de forma a representarem de fato
os diferentes setores da sociedade e seus interesses, respeitando as leis pactuadas
entre todos; talvez porque muitas coisas sejam feitas “só para inglês ver”;
talvez porque falte a participação efetiva dos cidadãos.
Há algum tempo,
uma presidente da Câmara Municipal de Itupeva, no interior de São Paulo, onde
eu moro, disse indignada em uma Sessão Ordinária que “algumas pessoas estão querendo
pautar a Câmara Municipal”. Respondi a ela em rede social, que sabia que iria
ler, mas também aos cidadãos de Itupeva que “é claro, vereadora, que queremos
pautar a Câmara Municipal! Os vereadores são nossos representantes e, para nos
representarem de fato, precisam nos ouvir.”
Vereadores,
prefeitos e outros, entendem que ao serem eleitos por nós, damos a eles um “cheque
em branco” para fazerem o que quiserem, mas isso não é verdade!
Ao eleger vereadores,
deputados e senadores, prefeitos, governadores e presidente da república não
abrimos mão da nossa cidadania, não esquecemos que nosso poder é exercido por
meio dos nossos representantes eleitos, mas também diretamente por nós, como define a
nossa Constituição.
Em Itupeva
muita coisa existe só para cumprir a lei, ou "para inglês ver" e não para funcionar. Recentemente, a
pretexto da pandemia de Covid-19, os vereadores mudaram o horário das sessões e
audiências públicas das 19 horas para as 10 da manhã, de forma a impedir que
todas as pessoas que trabalham participem. Também restringiram a Tribuna Livre,
então aberta a todos os cidadãos, apenas para representantes legais de
organizações da sociedade civil e partidos políticos, que são muito poucos na
cidade. Estamos cobrando que esses direitos sejam restaurados.
As audiências
púbicas para debater leis e projetos importantes para a cidade são feitas, mas
nada do que nós dizemos é levado em conta. Tudo permanece como estava antes da
realização da audiência. Eles “nos ouvem, mas não escutam”. A ouvidoria existe,
mas não funciona para nos dar respostas qualificadas. O portal da transparência
está desatualizado há anos...
Quando
prefeito, vereadores e outros detentores de cargos públicos fazem isso,
descumprem a Constituição Brasileira e roubam a nossa cidadania! Consideram que não somos capazes e, então, devemos aceitar a sua tutela, deixar a gestão da nossa cidade, estado e país para eles, que são "profissionais" no assunto. Não podemos aceitar essa usurpação da nossa cidadania!
Diante disso,
muitas pessoas desanimam e desistem, mas isso só piora a situação. Não basta
que a lei garanta. Infelizmente, no Brasil e muitos outros países, temos que
fazer também com que a lei seja cumprida. Então a melhor coisa é
utilizar os espaços existentes e não deixar que eles sejam só “pro forma”, mas
efetivos e a partir daí que sejam ampliados.
Um grupo do
qual eu faço parte estimula a produção e divulgação de informações sobre a
gestão da cidade, porque entendemos que saber o que está acontecendo é
necessário para que os cidadãos de Itupeva formem uma opinião e tomem atitude.
Também estimula a participação nas sessões da Câmara e audiências públicas, a
opinar sobre as leis e programas que estão em debate e a formação de grupos e
organizações dos diversos setores da sociedade civil para mobilizar a população
para a participação na gestão da cidade.
A política é a
arte e a prática da negociação dos interesses dos diferentes grupos da
sociedade e a população precisa estar preparada, organizada e mobilizada para "sentar nesta mesa de negociação".
Neste ano está
sendo debatido o Plano Plurianual – PPA, planejamento da prefeitura para o
desenvolvimento da cidade nos próximos 4 anos, de 2022 a 2025, além da Lei de Diretrizes
Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual – LOA, ambas para o próximo ano.
Estamos esclarecendo a população sobre o que são essas leis e qual é a
importância delas para a cidade. Também estamos estimulando a participar
das audiências públicas que debaterão e as sessões da Câmara que vão aprovar
esses projetos de lei.
Nas últimas
semanas, divulgamos o canal e o prazo e estimulamos que
enviassem para a Prefeitura suas propostas para a elaboração do Plano
Plurianual. Se é o futuro da cidade que está sendo decidido, nós devemos ser
ouvidos. Também enviamos as nossas propostas, inclusive as baseadas nas
promessas que o então candidato e atual prefeito fez durante a sua
campanha, porque entendemos que promessas feitas devem ser cumpridas, além de
outras que avaliamos serem importantes para a boa gestão e o desenvolvimento da
cidade, principalmente para a geração de bem-estar para a população. Vejam na página https://www.facebook.com/Exercendo-a-Cidadania-103183698723686
Mas, elas serão
aceitas?
É muito
provável que nem todas sejam consideradas, mas se nenhuma ou muito poucas forem
levadas em conta, vamos levar esse debate para as audiências públicas e, se
necessário, vamos denunciar que o prefeito e os vereadores,
encarregados de aprovar ou rejeitar o projeto de lei, não ouvem os cidadãos.
O que não
podemos é abrir mão da nossa cidadania!
Vamos utilizar
os espaços disponíveis, fazer com que sejam efetivos e procurar que eles sejam
cada vez maiores para que a gestão da nossa cidade seja de fato democrática.
A muda ainda
nascente da democracia precisa ser adubada e regada por cada um de nós todos os
dias, para o nosso próprio bem-estar.!