Além das associações comunitárias que
são criadas por demanda externa como viabilização de políticas públicas ou
programas de financiamento do governo ou programas e projetos de organizações
privadas, vez ou outra me deparo com motivações para a fundação de associações
comunitárias que na minha avaliação não levarão aos resultados esperados. É
como se uma associação tivesse vida própria e resolvesse por si só os problemas
sem depender daqueles que fazem parte dela:
A comunidade é desorganizada. Com a
associação vai se organizar melhor
Já refletimos aqui que a organização
comunitária é a base para a organização da associação e que a estrutura de
funcionamento desta deve contemplar a forma de organização, de tomada de
decisão e execução de tarefas daquela. Se a comunidade não está bem organizada
é preciso que seja feito um trabalho de fortalecimento comunitário para que se
organize melhor. Só depois disso é possível pensar em fundar uma associação, se
houver a necessidade de uma organização formal para atingir os objetivos a que
a comunidade se propõe. Caso contrário, as fragilidades da organização
comunitária se refletirão também na associação.
Há conflitos e disputa de liderança.
Uma associação ajudará a resolver isso
Sendo uma organização da comunidade,
integrada e dirigida pelas mesmas pessoas, os conflitos e disputas de poder
irão para a associação também. Poderão até mesmo ficar mais acirrados, uma vez
que seus dirigentes terão um “poder” legal, conferido pela organização formal.
Poderão crescer também na proporção da disponibilidade de recursos, que levam à
distribuição de benefícios, além da contratação de pessoas com salários ou
ajuda de custo.
As lideranças da comunidade demandam
muitas coisas do técnico. Com a associação terão mais autonomia para resolver
suas demandas sozinhos
A dependência é alimentada muitas
vezes pelos próprios técnicos que fazem as coisas pelas pessoas ao invés de
fazer com elas para que aprendam. A acomodação das lideranças ao encontrar uma
pessoa que faça as coisas para elas e as livra do trabalho e da
responsabilidade pelo resultado das ações deve ser evitada por quem trabalha
para o desenvolvimento e empoderamento comunitário. Sem uma mudança de postura
uma associação repetirá os mesmos vícios, aumentando ainda mais as demandas
feitas.
Associação é ferramenta e quem dá vida
à ferramenta são as mãos que a manejam. E para que ela seja uma boa ferramenta,
precisa ser soberana:
· Essa organização se esforça para conhecer e trabalhar a partir da
sua própria intenção. Ela funciona “a partir de” e “com” princípios e valores
claros, tendo a coragem de se manter fiel a eles;
· É uma expressão autêntica da vontade e da voz dos seus próprios
constituintes. Ela pode prestar serviços, mas não se presta a servir aos
propósitos de outra organização e, embora possa aceitar financiamento, não é um
veículo de desenvolvimento dos projetos financiados pelas agências de fora;
· Uma organização soberana é culturalmente e estruturalmente única:
não um clone de algumas “melhores práticas” de um modelo externo;
· Uma organização soberana é politicamente consciente, conhece seus
direitos e responsabilidades e compreende as relações de poder de que faz
parte;
· Uma organização soberana é capaz de cooperar e trabalhar com
colegas e parceiros, sem perder sua identidade. Soberania não denota um
comportamento isolado, embora possa haver fases de independência, de desenvolvimento
interno e de busca pela própria identidade, antes de se abrir para a
colaboração;
· Soberania é tanto uma qualidade, quanto um processo de aprendizagem
contínua. A capacidade de aprender e de se adaptar vai determinar a sua
soberania em um mundo mutante e volátil. Portanto, vai determinar o crescimento
de sua eficácia. Uma organização soberana aprende com muitas e variadas fontes,
principalmente a partir de sua própria experiência, mas também por meio de suas
diversas relações horizontais de aprendizagem. (Guia Pés Descalços)
Excelentes reflexoes e orientações!
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