Recentemente fui
convidado a participar da assembleia de uma associação que elegeria a nova
diretoria e conselho deliberativo e fiscal. Fundada em 2004, a primeira
diretoria, em duas gestões, estruturou um escritório na cidade com ajuda de
parceiros e executou alguns projetos; tinha sua agenda voltada mais para
eventos nacionais e internacionais do que nas comunidades. A segunda diretoria,
que terminava agora seu mandato, manteve o escritório na cidade, fortaleceu
algumas parcerias, participa de vários conselhos de políticas públicas, como
saúde e educação, conferência estadual de transparência, faz reivindicações ao
governo e denúncias ao Ministério Público e ainda se aproximou das lideranças,
estimulando e apoiando a sua participação na gestão da associação e discussões por
ela encabeçadas, o que foi um avanço em relação às gestões anteriores.
O estatuto não é muito
claro em seus objetivos com relação às melhorias que a associação se propõe a
viabilizar para as comunidades: “defender
direitos e interesses coletivos e individuais; buscar parcerias para difusão de ideias, elementos da
cultura, hábitos e tradições da comunidade; estimular e propor projetos que
visem buscar alternativas de desenvolvimento sustentável; estimular e promover ações nas áreas de
educação, saúde e meio ambiente; estimular ações que visem a fiscalização e
proteção da terra; monitorar e fiscalizar as ações de organizações públicas e
privadas quando relacionadas aos interesses das comunidades. No entanto,
fica claro em conversas e reuniões que as pessoas esperam benefícios, às vezes
de forma distorcida, em projetos que distribuam bens de consumo que necessitam.
O relacionamento da
diretoria foi mais estreito com as lideranças, encarregadas de repassar as
informações para as comunidades. Não foram esclarecidas suficientemente de que
o papel da associação não é prover bens de consumo. Também não ficou claro o
que a associação traria, então, em termos de benefícios, de melhoria da
qualidade de vida. Não foram mobilizados para priorizar e planejar
coletivamente as ações da associação ou para rever e tornar mais significativos
os seus objetivos. Também não foram mobilizadas e organizadas para trabalharem
juntos para atingir seus objetivos, mantendo a ideia equivocada de que é “a
associação”, ou seja, a diretoria, quem deve fazer tudo.
Em um Diagnóstico
Organizacional, realizado em 2012, foi levantado que os projetos desenvolvidos
pela associação ou em parceria com outras organizações estiveram voltados para
a formação de gestores, construção de casa tradicional, coleta de materiais
tradicionais, implantação de uma estação digital (na cidade), realização de diagnósticos
etnoambientais, fortalecimento político e despesas institucionais. Os diretores
e lideranças presentes disseram que nenhuma atividade tem sido desenvolvida nas
comunidades e com a participação delas.
Para a eleição da
diretoria e conselho apresentaram-se 4 chapas, sendo uma delas a da diretoria
em exercício com algumas alterações. Este foi um sinal interessante. Mais
surpreendente ainda foi que a chapa “da situação” recebeu poucos votos,
enquanto uma “concorrente” foi eleita com grande vantagem. O cabeça da chapa
vencedora presta pequenos serviços à comunidade e, mesmo cobrando, auxilia
muitas pessoas em suas atividades cotidianas.
Depois de eleito,
disse que não pretende morar na cidade. Vai ficar no escritório o tempo
necessário para atender às demandas administrativas e políticas, mas pretende
ficar também uma parte de cada mês nas comunidades, conversando, ouvindo,
planejando, avaliando e trabalhando junto.
Me lembrei do capitulo
“Deu bicho no jequitibá”, do
livro Associação é para fazer juntos, quando é
dito que:
— Esse foi o problema de vocês. Tiraram as raízes da associação
da nossa comunidade e levaram para a cidade. Lá ela não cresceu bem e ficou
doente. Essa é uma lição para todos nós. A Associação Jequitibá pode ter um
tronco alto, que conquiste fama e prestígio. Pode ter galhos que se espalhem
por várias cidades do nosso estado, do Brasil e mesmo de outros países, mas não
pode jamais deixar de ter suas raízes muito bem fincadas na terra fértil da
nossa comunidade. É aqui que tem terra boa para ela crescer, não em outro
lugar.
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