Com esse título, o primeiro capítulo
do livro Associação é para fazer juntos abriu a
reunião com moradores das comunidades Ilha da Fazenda e São Francisco, na Volta
Grande do Xingu, e as três oficinas sobre associativismo nas aldeias da Terra
Indígena Kuruaya, nas margens do Rio Iriri, no interior no Pará, nos dias 24 e
27 a 31 de julho.
Apenas uma das aldeias Kuruaya tem
uma associação formalizada há mais de 10 anos, segundo relataram os
participantes da oficina. Outra teve o estatuto elaborado há dois anos, mas não
foi registrado. Essas aldeias e as demais demonstraram interesse em conhecer
mais o que é uma associação, como funciona e como esse tipo de organização
poderia ser adequada para resolver seus problemas.
Após a leitura do texto, perguntei
como era a organização da comunidade. Em uma delas, disseram que não havia
organização nenhuma, querendo dizer que não tinham nenhuma organização formal. Conversando
sobre a escolha de lideranças, as atividades que faziam juntos, como
compartilhavam o território, foi ficando claro que todas tinham uma forma
própria de se organizar, mesmo que em alguns casos essa organização fosse bastante frágil:
“A nossa organização é só entre nós. Fazemos
a roça juntos, conversamos algumas coisas como o trabalho, os recursos que
precisamos, fazemos reivindicações e outras coisas de interesse como atividades
produtivas, educação, saúde, transporte, moradia, energia, definição fundiária.”
“Nós não somos uma
comunidade porque não trabalhamos juntos, não pensamos juntos. É só o nome. Não
temos nada juntos. É cada um por si.”
Uma comunidade não é definida pelo
espaço geográfico, mas pelas relações existentes. Pessoas que moram no mesmo
lugar nem sempre formam uma comunidade. Pessoas que moram em lugares diferentes
podem formar uma comunidade se compartilharem dos mesmos objetivos e atuarem
coletivamente para atingi-los.
Conversamos sobre a organização
comunitária, cada uma com as suas características, que surge e se desenvolve
junto com a própria comunidade; que as relações construídas por afinidades de
objetivos e trabalho coletivo é fundamental para melhorar suas condições de
vida; como ela é capaz de resolver muitas de suas necessidades com os próprios
meios e como pode aproveitar as oportunidades de parcerias mesmo sem uma
organização formal.
Toda comunidade precisa ter uma
associação? Não. Apenas aquelas que, no desenvolvimento de suas ações
coletivas, sentirem a necessidade de uma organização formal para representá-las
legalmente, assinar contratos, movimentar contas bancárias, emitir notas
fiscais. Por isso, antes de decidir pela fundação de uma associação, a comunidade
deve se perguntar: o que queremos fazer que não conseguimos se não tivermos uma
associação?
Uma associação tem obrigações,
despesas e não devemos “adquirir uma ferramenta” se ela não tiver utilidade
para nós.
Falamos também da associação como
ferramenta de organização coletiva. Foi ressaltado que a organização
comunitária é a base para o funcionamento da associação; que os diretores devem ter ao menos habilidade para desempenhar
suas funções, devem ser mobilizadores e articuladores das potencialidades dos
associados; que o Conselho Fiscal deve ser atuante no seu papel de controle
social do uso dos recursos e que a Assembleia Geral deve reunir de fato os
associados para pensarem juntos nas estratégias de ação e para avaliarem os
resultados alcançados.
Ao final da reunião e cada uma das
oficinas, a conclusão foi de que “sem comunidade não tem
associação.” Concluíram também que precisam conversar mais e
fortalecer a sua organização antes de decidirem pela criação de uma associação.
A aldeia que já possui a sua, que está inoperante há anos, decidiu conversar
sobre o aprimoramento de seu funcionamento.
Se as associações devem ser
devolvidas aos movimentos sociais, fico contente em pensar que há comunidades e
lideranças dispostas a isso.
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