Nos dias 22
de abril a 01 de maio, estive em Aracruz, no Espírito Santo, realizando
oficinas em aldeias Tupinikim e Guarani para elaboração de projetos para serem
encaminhados ao Fundo de Apoio para Iniciativas Comunitárias Indígenas – FAICI,
convidado pela Kambôas Socioambiental, que gere o fundo em parceria com a
Fibria Celulose S/A.
O fundo,
recém criado e em sua primeira chamada de projetos, financia projetos
individuais, de famílias, grupos ou associações no valor de até R$ 5 mil, nas
áreas de geração de trabalho e renda, subsistência, cultura e esportes.
Depois de
participarem de reuniões de divulgação do edital, várias pessoas já chegavam
com uma ideia ou mesmo propostas sendo elaboradas. Outros, acostumados a ouvir
falar em grandes valores, de projetos ou indenizações, reagiam de imediato
dizendo que o valor era insignificante. Alguns começaram a repensar quando
foram informados que várias pessoas estavam procurando ajuda para elaborar
projetos para coisa pequenas, mas muito importantes para elas.
As
propostas eram bastante diversificadas, como reflexo da situação particular
daqueles povos indígenas com fortes ligações com a cidade próxima e aldeias nas
margens ou próximas de estradas. Iam desde atividades tradicionais como
reflorestar a área com frutíferas, fazer casa de farinha até abrir copiadora,
lanchonete ou lava carro.
Uma
família, que cria perus e galinhas soltos na aldeia, tem tido problemas de
carros que atropelam as aves, cachorros que matam ou mesmo os bichos criando
problemas com os vizinhos. Querem fazer um cercado de tamanho suficiente para
continuarem ciscando e uma área coberta para passarem a noite, botarem e
chocarem os ovos. Eles já criam há vários anos e possuem 17 perus, 40 galinhas
e outro tanto de pintinhos. Acreditam que sem a perda de animais que tem hoje,
a criação vai aumentar.
Outro tem
uma pequena oficina de bicicletas e precisa de alguns equipamentos e peças para
continuar seu negócio.
Um produtor
de mandioca não tem como fazer farinha, porque só tem uma casa de farinha na
aldeia, com muitas famílias, e tem vendido sua produção à meia para outra
pessoa. Com uma casa de farinha poderá fazer sua própria produção.
Uma aldeia
Guarani decidiu fazer um projeto coletivo para a construção de uma Casa de
Reza, local tradicional de nomeação das crianças, rituais tradicionais e
reuniões. O pequeno valor será suficiente porque a mão de obra e boa parte do
material será contrapartida da comunidade.
E por aí se
multiplicam as iniciativas comunitárias que poderão ser apoiadas pelo FAICI.
Há muitas
experiências de financiamento ou autofinanciamento de pequenos projetos
espalhadas pelo Brasil, assim como também programas de micro-crédito bem
sucedidas, que acabam provocando um impacto significativo na vida de muitas
pessoas. Por outro lado, vemos muitos projetos grandiosos e indenizações
milionárias naufragarem, principalmente quando são impostos às comunidades.
É muito importante estimular a criatividade e a capacidade produtiva das próprias comunidades. Projetos
maiores e indenizações bem geridas não devem ser descartadas, mas acredito que
experiências como esta devem ser estimuladas e multiplicadas pelo grande
resultado que geralmente dão.
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