Através de um amigo que trabalha com
agroecologia no Espírito Santo, tomei conhecimento do Fundo Rotativo Solidário,
disseminado pela Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB). Como é explicado
no Cordel do Fundo Solidário – gerando riquezas e saberes (http://aspta.org.br/2011/07/cordel-do-fundo-solidario/),
é uma forma de ajuda mútua que resgata e reforça a cultura de partilha e
solidariedade das famílias e comunidades: Quem nunca dividiu a pouca água de
beber, a carne do bode ou do gado abatido com os vizinhos? Quem nunca participou
de um mutirão para limpar o barreiro, para limpar a roça, colher ou debulhar
cereais? Quem nunca participou de uma farinhada ou de uma pamonhada? Quem nunca
pegou ou passou uma receita de planta de remédio? Quem nunca pegou semente
emprestada para pagar no final do inverno?
Os fundos rotativos são “uma
poupança” comunitária, que pode ser de dinheiro, banco de sementes, animais,
mão de obra, que servem para as famílias adquirirem barragens subterrâneas,
canteiros econômicos, produzir cercas de tela de arame, plantar campos de
palma, reformar suas casas ou até pagar alguma emergência na família. Estima-se
que na Paraíba existam mais de 500 fundos rotativos.
Um Fundo Rotativo Solidário é criado
por um grupo de pessoas, interessado no autofinanciamento comunitário. Após várias reuniões de mobilização, sensibilização e construção do
funcionamento do fundo rotativo, é necessário realizar uma grande assembleia na
comunidade com a participação de todos os interessados em integrar o grupo. É
nessa assembleia que ocorrerá o nascimento do fundo e será estabelecida a livre
adesão das famílias. Portanto, é nesse momento que será registrada em ata a
constituição da poupança comunitária que irá atender os diferentes interesses de
seus beneficiários. É feita uma ata e elaborado um regimento
interno. Novos participantes poderão aderir, assinando um Termo de Adesão ao
Fundo Rotativo Solidário.
Há muitas modalidades diferentes de
Fundo Rotativo Solidário, definidas de acordo com os interesses e necessidades
das comunidades que os criam. No entanto, a participação e contribuição de
todos os associados e a transparência na gestão dos recursos são requisitos
fundamentais para todos eles.
O autofinanciamento comunitário se
dá de forma muito simples e criativa, como por exemplo, com as contribuições
financeiras dos participantes são compradas algumas ovelhas, que serão
distribuídas para famílias determinadas pelo grupo. A cada ano a família beneficiada
repassa duas ovelhas para outra família, até completar o número de animais que
recebeu. Uma família que recebeu arame para fazer cerca de tela, devolverá em
arame ou em dinheiro. Alguns aceitam como devolução dias de trabalho,
organizando assim um banco de horas de trabalho em benefício da comunidade. A
criação de canteiros econômicos pode ser paga em sementes produzidas no próprio
canteiro, gerando assim um banco de sementes para beneficiar outras famílias.
Esses são alguns dos inúmeros exemplos praticados.
Segundo um dos participantes desses
fundos:
O mistério está na
contribuição da comunidade. Com o dinheiro do fundo rotativo solidário, nós
compramos uma galinha, compramos um bode, compramos até um cachorro se a gente
quiser. É um dinheiro livre! A gente não é cativo, a gente não é sujeito. Não
estamos sujeitos nem ao banco nem a ninguém. Estamos suando e contribuindo.
Estamos trocando e, nessa troca, todo mundo que está nesse movimento está sendo
beneficiado. É assim que eu brinco que um benefício pare o outro e a gente nem
fica sabendo quem é a mãe.