Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Como a execução de projetos pode contribuir para o desenvolvimento organizacional



Já tratamos aqui como é limitador e equivocado pensar que as associações são criadas para conseguir dinheiro através de projetos. Projetos viabilizam recursos e recursos são meios para desenvolver atividades, necessárias para atingir objetivos. Por outro lado, já tratamos também como a elaboração de projetos pode contribuir para o desenvolvimento organizacional de associações, ao proporcionar oportunidade para refletir sobre seus objetivos, estratégias de trabalho, organização interna e relacionamento com as comunidades. Da mesma forma, a execução de projetos também tem uma grande contribuição a dar, dependendo de como ela é feita e da relação estabelecida com os parceiros.

Nesta semana, de 11 a 14 de novembro, estive reunido com diretores da Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikuyana – APITIKATXI, caciques e outras lideranças, além da equipe do Iepé Instituto de Pesquisa e Formação Indígena em Macapá, que me convidou para esse trabalho, para iniciar a organização da execução de um projeto liderado pela APITIKATXI, que envolve 4 Terras Indígenas e 7 povos, com suas 5 associações.

A execução do projeto “Construindo nossos PGTAs: Mobilização e Diagnóstico Socioambiental na TIs Parque do Tumucumaque, Paru d’Este, Trombetas/Mapuera e Nhamundá/Mapuera”, financiado pelo Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas – PEDPI, do Ministério do Meio Ambiente, é um desafio para a APITIKATXI que, nos seus 9 anos de existência, executou alguns projetos de forma intermitente; tem uma diretoria relativamente nova, não tem funcionários e tem contado com o apoio de parceiros, em especial o Iepé e Equipe de Conservação da Amazônia - ECAM para a sua manutenção e para realizar suas atividades quotidianas.

Inicialmente fizemos uma reunião com algumas pessoas do Iepé e diretores da APITIKATXI, para alinhamento da pauta. Nos outros três dias se juntaram a nós alguns caciques e lideranças.

A primeira atividade foi tornar o projeto conhecido por todos. Com calma, fazendo tradução para os caciques e interrompendo sempre que necessário para aprofundar a discussão, foi feita a leitura do projeto.

Esclarecemos as exigências do financiador para a execução técnica e financeira do projeto, destacando como seriam feitos os desembolsos, que os recursos só podem ser utilizados para despesas que constam no orçamento, a necessidade de fazer licitação e de ter comprovantes de despesas válidos contábil e legalmente.

Comprovando que o contador é também um assessor contábil, contamos com a presença da contadora da associação para esclarecer os procedimentos, encargos e benefícios que devem ser pagos para a contratação do assistente administrativo. Um Termo de Referência foi elaborado coletivamente para receber currículos; uma comissão de seleção foi formada com o Cacique Geral, o presidente da associação e dois da equipe do Iepé. Foi bastante discutida a necessidade de definir bem o perfil profissional e fazer uma boa seleção, não cedendo à tentação de contratar alguém porque é parente ou amigo, para ter um funcionário realmente adequado para desenvolver bem as atividades.

Um projeto sempre tem um impacto em uma associação. Foi feita a divisão de tarefas entre os presidente e o tesoureiro: quem faz a articulação com as organizações parceiras e demais associações indígenas, quem cuida da administração e supervisiona o trabalho do assistente, para que possam também continuar com as outras atividades da associação. Foram definidos o local, equipamentos e materiais necessários para o trabalho do assistente.

Foi preparada a próxima reunião, que contará com a presença também de diretores e lideranças das outras 4 associações indígenas envolvidas com o projeto e organizações parceiras, governamentais e não governamentais, para que o envolvimento delas seja também qualificado e para que a governança seja definida coletivamente.

Muitas vezes uma associação entra só com o nome em um projeto. Na verdade, quem escreveu, negociou com o financiador e irá coordenar a execução é uma organização “apoiadora”. Ao final, a associação tem apenas mais um projeto para incluir nas suas experiências. Resultado bem diferente é conseguido quando participa efetivamente de todas as fases de sua execução. É uma excelente oportunidade para amadurecimento. Nesta mesma reunião foi definido qual é o papel da APITIKATXI e qual é o papel dos parceiros e mesmo o meu como consultor.

O assistente administrativo, mesmo que tenha experiência nesse trabalho, precisará aprender, por exemplo, como se prepara a logística de uma reunião ou oficina com a APITIKATXI, com as associações indígenas e organizações parceiras. É diferente de outros lugares e organizações. Então, principalmente para a reunião de abertura, em fevereiro do ano que vem, vai contar com ajuda de quem já tem experiência, depois que for aprendendo pode ir fazendo sozinho. Vai pedir ajuda só quando precisar. Mesmo que já tenha feito prestação de contas de outros projetos, vai precisar aprender como fazer a prestação de contas deste projeto para o PDPI. Cada projeto e com cada financiador é diferente. Principalmente nas primeiras cotações de preços, compras, pagamentos e prestação de contas, vai ter alguém para fazer junto, para aprender. Depois vai fazendo sozinho. Vai ter alguém à disposição para tirar dúvidas ou ajudar quando for preciso. No final, talvez só seja necessário conferir o que já foi feito. Tanto a APITIKATXI como as demais associações vão contar com a minha assessoria em alguns momentos em que ela for necessária. Isso vai ser definido na próxima reunião.

Não precisar mais da organização parceira para tarefas administrativas, captação de recursos, entre outras, não significa que não precisa mais de parceria com ela. Significa que está deixando de depender e passando a trabalhar junto. Viabilizar recursos, projetos, fazer documentos, organizar atividades é “pegar na mão e ir ajudando a fazer as coisas, como os pais fazem com as crianças”. Parceiro não é como pai e mãe cuidando de filho. É como marido e mulher: são adultos, cada um sabe e pode fazer uma coisa diferente e, juntos, conseguem o que precisam e atingem seus objetivos. Esse é o grande aprendizado que a APITIKATXI pode ter com esse projeto: se organizar melhor, aprender a fazer as coisas, ganhar autonomia e ser um parceiro mais forte, inclusive para o Iepé. Vai ser muito bom para o Iepé ter uma associação indígena forte para trabalhar em parceria em muitas coisas que podem ser feitas aqui na região.

Concordando, o presidente da associação disse que acha muito importante aprender que devem depender menos dos outros: “Um pai que cuida do filho 10 anos, 20 anos, 30 anos, uma hora fica cansado e não quer cuidar mais. Por isso, precisamos ir levantando, andando devagar e, aos poucos, andar sozinhos”.

4 comentários:

  1. Gostei da postagem!!!Penso em utilizar algumas das postagens do blog como material didático na oficina de Organização e gerenciamento das associações. Gosto muito dessa forma simples e clara de texto.

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    1. Fico muito feliz que esse material possa ser utilizado para o desenvolvimento de outras organizações. Fique à vontade para utilizar as postagens. Gostaria que, quando utilizar, envie um relato para continuarmos partilhando e esse conhecimentos e experiências. Abraço,

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  2. Mais uma excelente aula do Professor Strabeli. Valeu!

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  3. Muito obrigado! Mas gostaria de esclarecer que um trabalho assim não é possível de ser feito sozinho. Foi bom, de fato, porque o Iepé e a APITIKATXI, que promoveram a reunião, estiveram muito dispostos a isso e os participantes fizeram o principal. Eu só mostrei o caminho. Todos mandaram muito bem!!! Valeu!!!

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