Apesar do
foco da oficina para as associações do Parque Indígena Xingu – PIX, no Mato
Grosso, ser a administração financeira, o terceiro módulo, realizado nos dias 18 a 23 deste mês, no
Diauarum, foi a elaboração de cartas, relatórios e atas, além do arquivo de
documentos, físicos e digitais. Participaram 28 representantes de 8
associações.
Dado o
relacionamento histórico dos índios e suas organizações com órgãos do governo,
como a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, Instituto Chico Mendes de
Biodiversidade - ICMBio, secretarias de educação, saúde, entre outros,
assimilaram o ofício como forma de correspondência. Foi esclarecido que ofício
é uma correspondência oficial, utilizada apenas por órgãos governamentais.
Pessoas jurídicas privadas como as associações, utilizam cartas para se
comunicar com outras organizações privadas ou públicas.
Exercitaram
primeiro a elaboração de carta pessoal, que não tem um formato padrão, usamos
linguagem informal, na qual tratamos qualquer assunto, inclusive os íntimos. Em
seguida elaboraram uma carta comercial, depois de terem tomado contato com seu
formato padrão, linguagem formal, na qual tratamos apenas assuntos de trabalho.
As cartas foram lidas e comentadas para corrigir eventuais deslizes de
linguagem, formato e para garantir a clareza do que era exposto: um pedido, uma
informação ou um convite.
Um
relatório também tem formato livre, uma linguagem mais coloquial e nele podemos
fornecer mais detalhes de uma reunião, encontro, assembleia, curso, etc. É uma
forma muito importante de registrar o evento para o próprio participante, para
informar as pessoas ausentes e ir construindo a memória das atividades
realizadas pela associação ou em que um ou mais dos seus membros participou. Os
relatórios parciais serão importante fonte para elaborar relatórios de
atividades de projetos para os financiadores ou relatórios institucionais,
divulgando as ações da associação para financiadores, parceiros e público em
geral. Como exercício, fizeram o relatório da oficina, que também foi lido e
comentado para aprimoramento. Refletimos que, quando alguém da associação faz
uma oficina como esta, por exemplo, não faz relatório e não divulga para
ninguém, o que foi aprendido fica só com ele. Com a elaboração e divulgação de
relatórios, mais pessoas terão acesso a essas informações. Mesmo depois de
anos, pessoas que venham a trabalhar na associação poderão ter acesso à sua
história através desses documentos. É uma forma de acumular os conhecimentos e
experiências da associação. Quando esse
conhecimento fica disperso entre várias pessoas acaba muitas vezes se perdendo
quando elas deixam de trabalhar na associação, fazendo com que sempre se
“comece do zero” quando troca diretoria, por exemplo. Elaborar, guardar e
divulgar relatórios ajuda no desenvolvimento da associação.
Depois de
comentados e corrigidos os relatórios, elaboraram uma ata, que é um registro
formal, com formato, início e encerramento padrões, mais conciso, sem uso de
parágrafo ou intervalos de espaço. É utilizada, por exemplo, para relatar
assembleias e devem ser registradas em cartório, principalmente quando houver
eleição de diretoria ou alteração do estatuto.
A
elaboração de cartas, relatórios e atas, além de boletins e publicações são as
formas mais comuns da associação produzir e disseminar informações.
Para
conhecer melhor uma das técnicas e a importância do arquivamento de documentos,
foi feita a leitura dialogada do capítulo 5 do livro Associação é para fazer juntos: Como
guardar e conservar os documentos da associação. Foi comentada a
importância da organização tanto dos documentos legais, trabalhistas e
tributários da associação, relatórios de projetos, como também relatórios,
publicações e outros materiais fornecidos em cursos, encontros, seminários,
reuniões, entre outros eventos que normalmente participam. Isso vale tanto para
arquivo físico (impresso) como para os arquivos digitais. É muito comum que os
impressos fiquem em casas de diferentes diretores e lideranças. Os documentos
digitais ficarem em diferentes computadores, inclusive notebooks pessoais. Em
geral esses documentos não são centralizados pelo secretário ou outra pessoa da
associação e não é raro que venham a se perder, levando consigo boa parte da
história e da experiência da associação que acaba nunca se acumulando. Além de
centralizar os documentos digitais para mantê-los organizados e disponíveis
para todos que precisarem deles, é muito importante fazer uma cópia de
segurança em CDs ou HD externo para garantir que os documentos não se percam em
caso de algum problema com o computador.
É também
nesses eventos, entre outras formas, que a associação coleta informações,
criando um acervo importante para suas consultas sobre temas relacionados ao
seu trabalho.
No
exercício sobre arquivamento utilizamos uma caixa de papelão com documentos que
estava numa sala onde é guardado o arquivo inativo de uma das associações
participantes da oficina. O primeiro passo foi uma triagem dos documentos que
interessava continuarem guardados e o descarte dos que não interessavam. Em
seguida foi feita uma separação por tipo de documentos. Foram encontrados
folders e publicações que deveriam ser distribuídos e que ficaram ali,
esquecidos. Também foram encontrados documentos contábeis, que deveriam estar
sob a guarda do tesoureiro, junto com os demais documentos de projetos e
atividades. Outros documentos encontrados eram relatórios e publicações sobre
diversos temas de interesse da associação. Depois de organizados em pastas por
temas e envelopes plásticos por subtemas, refletimos que um arquivo bem
organizado não só conserva mais os documentos e facilita o manuseio, como
também dá uma idéia mais clara sobre os documentos que a associação tem,
tornando-os disponíveis para consulta e utilização. A partir disso, foi
repensado se aqueles materiais deveriam estar no arquivo inativo ou se deveriam
ser deixados mais à mão de quem precisasse consultá-los.
Para
manter o arquivo bem organizado é importante que uma pessoa seja responsável
por ele. Tendo mais familiaridade com a forma como os documentos estão
organizados, pode arquivar outros da mesma forma e encontrar facilmente
qualquer documento que alguém precise. Daí a importância de escolher também
pessoas com gosto, habilidade e disponibilidade para essa tarefa para ser
secretário da associação.
Ao final,
foi comentado que as grandes associações, governo e empresas chamam de Gestão da Informação
a esse processo
de produzir, coletar, processar, armazenar e disseminar informações.
Para essas grandes organizações esse trabalho é mais complexo e precisa de
especialistas, mas a resposta para a pergunta do título é: sim, as associações comunitárias também fazem gestão da
informação. As informações são fundamentais para a associação desenvolver bem
suas atividades, participar de forma qualificada das discussões do movimento
social, de conselhos, reivindicar políticas públicas, formar novas lideranças e
discutir nas comunidades sobre o que está acontecendo. Se ainda não fazem isso bem,
em geral é porque não foram alertadas e nem preparadas para isso. Cabe às
organizações apoiadoras oferecerem a oportunidade e certamente vão aprender,
crescendo também neste importante aspecto do desenvolvimento organizacional.
Excelente abordagem, Sr. José. A informação é patrimônio de toda organização e métodos simples muitas vezes preservam recursos incalculáveis. Excelente!
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