Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




segunda-feira, 23 de março de 2015

Como fundar uma associação - Parte III

Nos dias 16 a 21 de março foi dado prosseguimento ao processo de fundação das associações dos povos indígenas Apiaká e Munduruku da região do Baixo Rio Teles Pires, no norte do Mato Grosso e Sul do Pará. Digo que foi um processo porque, além dos anos em que eles tem conversado sobre a importância de terem a sua organização formal, desde dezembro de 2014 estamos conversando sobre isso, conforme já relatado nas postagens “Como fundar uma associação – Partes I e II”

A proposta de Estatuto foi elaborada em conjunto com um grupo de lideranças, a partir de um modelo, que foi discutido artigo por artigo para respeitar a vontade, particularidades culturais e sociais de cada povo, aproveitando a reflexão feita anteriormente em uma oficina sobre associativismo sobre os objetivos e estrutura administrativa.

Na Aldeia Mayrowi, do povo Apiaká, a mobilização da comunidade para a Assembleia de Fundação e Eleição da Diretoria, foi reforçada com a ida de casa em casa dos caciques para entregar um convite e estimular a ida para a assembleia “para que essa criança que está para nascer, nasça e cresça forte, com bastante gente trabalhando junto”, como dizia um dos caciques, lembrando a metáfora utilizada nas oficinas. O tempo disponível entre a elaboração da proposta de Estatuto e a realização da Assembleia foi aproveitado também para combinar com o diretor e professores da escola indígena para prepararem com grupos de alunos a apresentação de danças e cantos tradicionais. Os convites pessoais, a mobilização de crianças e jovens para as danças, o que incluiu se pintarem com jenipapo e se vestirem tradicionalmente, foram ajudando a animar e mobilizar a aldeia.

A Aldeia Teles Pires, juntamente com as aldeias próximas, estava bem mobilizada. Sugerimos a apresentação de danças tradicionais na abertura e encerramento da assembleia, que foi aceita. Ensaiaram na noite anterior.


Nas duas aldeias, elaboramos a pauta junto com algumas lideranças e definimos quem conduziria cada um dos itens. A abertura ficou a cargo dos caciques. A apresentação e discussão da proposta do estatuto ficou com o presidente da assembleia, que foi escolhido pelos presentes no início, juntamente com o secretário. Como disse um deles, quando me ofereci para essa tarefa, se precisassem: “Nós podemos apresentar e explicar. Nós participamos da elaboração da proposta e sabemos explicar.” A eleição da diretoria (definida no estatuto como coordenação) e dos conselhos foi conduzida também pelo presidente da assembleia, cada um da maneira que julgaram mais conveniente: na Aldeia Mayrowi já tinham conversado e definido uma chapa, que foi eleita por aclamação; na Aldeia Teles Pires preferiram a apresentação de candidatos e a eleição secreta cargo a cargo. O encerramento foi feito pelo Coodenador Administrativo (representante legal) eleito.

A proposta de estatuto foi apresentada e discutida artigo por artigo. No caso dos Munduruku, que principalmente os mais velhos não entendem ou entendem pouco a língua portuguesa, a presidente da assembleia lia o artigo em português e um jovem traduzia e explicava na língua Munduruku. A minha intervenção se deu apenas a pedido deles quando não entendiam bem uma palavra ou um artigo de conteúdo mais jurídico, de difícil compreensão para eles.

Na Aldeia Mayrowi participaram da assembleia 48 pessoas. Delas 41 assinaram a lista de presença, tornando-se assim associados fundadores. Na Aldeia Teles Pires participaram cerca de 150 pessoas e 118 se associaram como fundadores.


Vejo como bem expressiva do resultado desse processo e da consequente apropriação por eles da fundação de sua associação, a fala de uma liderança no final de uma das assembleias: “Essa associação não veio de fora. Não foi o José que trouxe a associação para a aldeia. Essa é a associação que queremos criar há bastante tempo. Nós discutimos cada artigo do estatuto, para elaborar a proposta e aqui na assembleia e ele ficou do jeito que achamos melhor. O consultor só nos ajudou e orientou no que precisamos. Essa é a nossa associação.”

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