Há anos, quando comecei a dar aulas,
inseguro com o preenchimento dos diários de classe, fazia todas as anotações a
lápis. Quando estava terminando o bimestre, passei um fim de semana inteiro
passando a caneta nas anotações de conteúdo, nas presenças e faltas e nas notas
dos alunos, com caneta azul ou vermelha conforme o caso, além de apagar o que
havia escrito antes a lápis e fazer traços com régua para inutilizar os espaços
em branco.
Fiquei bastante incomodado em gastar
tanto tempo com esse trabalho burocrático, que não tinha nada a ver diretamente
com a minha atuação em sala de aula, de ensino e aprendizagem, mas não poderia
dizer para a secretária ou para a diretora da escola que não tinha que gastar
tempo com isso. “Fazia parte do pacote.”
Aprendi ali duas lições. A primeira é
que não adianta se revoltar contra a burocracia nem discutir com os burocratas.
É uma tarefa inglória. A segunda é que essas tarefas burocráticas, sendo
inevitáveis, devem ser feitas “da forma mais rápida e ‘indolor’ possível” para
depois nos dedicarmos ao nosso objetivo principal. Dali em diante passei a
incorporar essas tarefas no dia a dia: ao iniciar cada aula anotava as
presenças e ausências e o conteúdo já a caneta e quando devolvia as avaliações registrava
as notas com as devidas cores. O fechamento dos diários no final do semestre
ficou bem menos trabalhoso.
As associações, sendo elas
comunitárias ou não, também têm sua carga burocrática: elaboração e registro em
cartório de estatuto e atas, cadastro em órgãos governamentais como Secretaria
da Receita Federal, INSS e Caixa Econômica Federal, entrega periódica de
declarações e informações a esses órgãos, escrituração fiscal, balanço
patrimonial. Já ouvi bastante a reclamação de dirigentes de associações e técnicos
de organizações que os apoiam contra o que avaliam ser um excesso. Argumentam
que “é um absurdo” esperar que lideranças comunitárias tenham conhecimento
técnico e outras condições necessárias para atender a todas essas exigências,
além de todas as outras atribuições que têm. Também sou da opinião de que não
têm condições e nem devem se ocupar diretamente com isso. Esse trabalho deve
ser feito por um contador, que é o profissional adequado, o que pode ser feito
a um custo acessível para as associações, de meio salário mínimo ou menos por
mês, quando o movimento financeiro é pequeno. No entanto, o trabalho do
contador deve ser supervisionado pela diretoria.
Não vou entrar no mérito da questão se
a burocracia poderia ou deveria ser menor. Acredito que é uma boa discussão
para ser levada ao palco da reforma tributária, tão necessária e aguardada pelo
país. Agora, enquanto a legislação não for mudada, não é aconselhável fechar os
olhos para ela. Ressalto, em especial aos técnicos de ONGs e órgãos
governamentais, que dizer para os dirigentes de associações que “é só
burocracia, não precisa dar bola para isso” não ajuda em nada para o
desenvolvimento das associações. Pelo contrário, só as coloca em risco. Seria
bem-vindo também que profissionais de contabilidade não se propusessem, mesmo
que voluntariamente, a fazer apenas declarações de imposto de renda e,
principalmente, fazê-las como se a associação estivesse inativa ou sem
movimento dando a ilusão de que todas as obrigações estão sendo cumpridas. Tem
sido frequente dirigentes de associação pensarem que a organização está “em
dia”, até ser pedido um demonstrativo contábil ou tentarem tirar as certidões
negativas de débito. Contratos e projetos podem ser perdidos pelo fato de ser
descoberto tarde demais que há obrigações não cumpridas.
E não são só as exigências legais e
tributárias. Também faz parte da dimensão gerencial das associações a elaboração,
negociação e gestão de projetos, a gestão dos empreendimentos comunitários, a
negociação com compradores, os procedimentos de compra, a elaboração de
relatórios financeiros, o recebimento e envio de correspondências, o arquivo de
documentos, reuniões com a equipe técnica e administrativa, com os conselhos, e
por aí vai...
Entendo que as associações têm três dimensões fundamentais:
1. Comunitária: a associação é uma organização da comunidade, foi fundada porque a comunidade precisava dessa ferramenta para algumas de suas demandas. A associação precisa da organização comunitária para manter sua capacidade de atuação. Conversar com os velhos, descobrir e valorizar talentos, organizar grupos de trabalho, fazer diagnóstico e planejamento, monitorar e avaliar juntos, atingir os objetivos a que se propôs é o que vai manter e fortalecer a razão da sua existência. É na comunidade que está a sua missão.
2. Política: Fortalecer a articulação e a mobilização da comunidade, lutar por seus direitos, reivindicar e participar do controle social de políticas públicas, fortalecer a sua articulação com organizações similares, contribuindo para o movimento regional, nacional ou internacional é contribuir para a construção de uma cidadania efetiva.
3. Gerencial: Exigências legais cumpridas, procedimentos administrativos bem definidos, as boas práticas de gestão incorporadas e as rotinas administrativas e burocráticas fazendo parte do dia a dia da associação. Não deixando acumular e tornando-as rotineiras, essas tarefas exigirão menos tempo e esforço de uma só vez. Se associação é ferramenta de trabalho, é preciso que esteja “bem afiada e funcionando bem” para que possa nos servir para o trabalho que necessitamos fazer.
1. Comunitária: a associação é uma organização da comunidade, foi fundada porque a comunidade precisava dessa ferramenta para algumas de suas demandas. A associação precisa da organização comunitária para manter sua capacidade de atuação. Conversar com os velhos, descobrir e valorizar talentos, organizar grupos de trabalho, fazer diagnóstico e planejamento, monitorar e avaliar juntos, atingir os objetivos a que se propôs é o que vai manter e fortalecer a razão da sua existência. É na comunidade que está a sua missão.
2. Política: Fortalecer a articulação e a mobilização da comunidade, lutar por seus direitos, reivindicar e participar do controle social de políticas públicas, fortalecer a sua articulação com organizações similares, contribuindo para o movimento regional, nacional ou internacional é contribuir para a construção de uma cidadania efetiva.
3. Gerencial: Exigências legais cumpridas, procedimentos administrativos bem definidos, as boas práticas de gestão incorporadas e as rotinas administrativas e burocráticas fazendo parte do dia a dia da associação. Não deixando acumular e tornando-as rotineiras, essas tarefas exigirão menos tempo e esforço de uma só vez. Se associação é ferramenta de trabalho, é preciso que esteja “bem afiada e funcionando bem” para que possa nos servir para o trabalho que necessitamos fazer.
Nota: Esta é a 100ª postagem do nosso blog, com mais de 18.000 visualizações, a partir de 74 países. Parabéns e obrigado a todos que têm colaborado, lido, comentado e divulgado. Vamos continuar democratizando conhecimentos sobre o desenvolvimento de associações.
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