Nos dias 03 a 06 de fevereiro
trabalhei em Alta Floresta-MT com diretores e lideranças da Associação Indígena
Kawaip Kayabi – AIKK, na elaboração de um Diagnóstico Organizacional, leitura e
entendimento do Estatuto e elaboração de uma proposta de reforma do mesmo.
Lembro que esta atividade faz parte de
um programa e anteriormente fizemos na Aldeia Kururuzinho duas oficinas sobre o
papel e importância e aspectos legais e gerenciais das associações. Depois da
visão geral que essas oficinas puderam oferecer, o passo seguinte foi avaliar a
situação atual da associação em seus diversos aspectos, Regularidade Legal, Regularidade Fiscal e
Trabalhista, Organização Administrativa e Financeira, Participação da
Comunidade, Projetos, parcerias e outras formas de captação de recursos, Outras
atividades analisando documentos, sites de órgãos governamentais como Receita
Federal, INSS e Caixa Econômica Federal e conversando com os diretores e
lideranças.
Nesta mesma atividade nos propusemos a tomar as
providências necessárias para a regularização da documentação da associação.
Outras fragilidades encontradas serão objeto do trabalho em outras atividades
do programa.
Não foi possível emitir as Certidões
Negativas de Débito por falta de informações que deveriam ter sido enviadas
àqueles órgãos. Na Caixa Econômica Federal não havia cadastro da associação.
Relataram que não julgaram necessário, uma vez que a associação não tem funcionários.
Foi ponderado que as certidões serão necessárias para contratos e convênios com
órgãos do governo, que oferecem oportunidade de financiamento de projetos e
comercialização de produtos, em especial da agricultura familiar. Não ter esses
documentos em dia pode inviabilizar contratos, uma vez que os prazos são em
geral curtos, não sendo possível regularizar a documentação assim que a
situação se apresenta. É melhor que as certidões possam ser emitidas
imediatamente, pela internet, sempre que a associação precisar.
As certidões da Receita Federal e do
INSS são agora emitidas de forma conjunta. Acompanhei o presidente e o
tesoureiro até a agência da Receita em Alta Floresta para termos ciência de
quais seriam as pendências. Foi uma oportunidade interessante para os diretores
constatarem concretamente o significado e importância do presidente ser o
representante legal da associação. A primeira pergunta do funcionário foi “em
nome de quem estava a associação” e pedir os documentos pessoais do presidente
antes de fazer a consulta e liberar as informações. Essa é uma das razões para
não fazermos as coisas pelas lideranças comunitárias, mas acompanha-las quando
necessário. Todas essas experiências são aprendizados importantes e de forma
muito mais eficaz do que explanações em salas de oficinas e cursos.
O atendimento foi surpreendentemente
rápido e soubemos que estava tudo certo com a Receita Federal, mas faltavam
declarações para o INSS. Saímos com as informações necessárias e o próximo
passo foi conversar com o contador. Um “assessor” disse que o contador já havia
informado sobre isso, mas não avaliaram como prioritário resolver. Foi repetida
a mesma explicação sobre o cumprimento dos compromissos legais da associação.
Para quem possa pensar que valorizo
demais as tarefas burocráticas, sugiro ler a postagem anterior, “Devemos nos
ocupar com a burocracia? ‘A César o que é de César’”.
A associação tem contado com um
contador apenas para fazer as declarações anuais de imposto de renda. Ilusão
pensar que só isso é suficiente. Das três Certidões Negativas de Débito sempre
exigidas, conseguiria apenas uma delas. Sem falar na falta da escrituração
fiscal, demonstrativos financeiros e balanços patrimoniais, necessários e
exigidos em várias situações.
Conversamos com o contador para tomar
essas providências iniciais de regularização da associação e passar a fazer a
contabilidade “conforme o figurino”.
Encaminhada essa parte, fizemos uma
leitura atenta do estatuto. Já haviam falado que nem os diretores tiveram a
oportunidade de ler e entender o que estava definido nele. Foi ressaltado que
no Estatuto estão os objetivos, a razão pela qual criaram e mantêm a associação
e que devem orientar as suas ações, a sua forma de funcionamento, entre outras
coisas, que precisam saber e concordar ou reformar para adequar aos seus
anseios. O Estatuto “é a Constituição da associação”, definido em Assembleia
Geral dos associados.
Com essa reflexão, decidiram elaborar
uma proposta de reforma, a ser apreciada pela Assembleia Geral, que será
realizada em breve. Com auxílio de um projetor multimídia expusemos o estatuto
em vigor e cada artigo foi analisado se ainda era conveniente ou não e alterado
quando necessário depois de debatido e decidido pelos presentes. Os diretores
questionaram se tinham autonomia e legitimidade para alterar o Estatuto. Foi
esclarecido que estavam apenas formulando uma proposta, que deveria ser
apresentada, explicada e debatida pela Assembleia antes de uma possível
aprovação.
Não podemos falar em empoderamento ser
oferecer de fato oportunidades de decisão para as lideranças comunitárias.
Fiquei satisfeito com a atividade percebendo que os diretores sentiram que
estavam se apropriando devidamente de sua organização e estavam contentes com
isso.
E, o melhor, é que ainda tem mais por
vir...
Nota: Desculpem a falta de fotos. A FUNAI não permite que sejam publicadas fotos dos índios em redes sociais.