Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Estamos contribuindo para que as associações sejam soberanas?



Recentemente tomei conhecimento do conceito de organização soberana através do Guia Pés Descalços - para trabalhar com organizações e mudança social, produzido em 2009 pelo Coletivo Pés Descalços (www.barefootguide.org) e traduzido para o português pelo Instituto Fonte (www.fonte.org.br). Nos dois sites o guia está disponível para download (no primeiro em inglês e no segundo em português) sob a licença Creative Commons Attribution-Non-Commercial- Share Alike 3.0 Unported License: pode ser utilizado, reproduzido e distribuído, desde que não seja com fins comerciais.

Segundo o texto, uma organização soberana é uma expressão autêntica da vontade e da voz dos seus próprios constituintes, possui uma habilidade coletiva de pautar suas ações de acordo com os seus próprios princípios, valores e estratégias, tendo a coragem de se manter fiel a eles.

Passo a reproduzir abaixo alguns trechos para estimular a nossa reflexão, em especial sobre o trabalho de desenvolvimento organizacional que temos desenvolvido:

Quando pessoas comuns são capazes de criar, unir e fortalecer as suas próprias organizações, e por meio delas dar voz e agir em prol do que pensam, sentem e querem, elas adquirem mais poder sobre as escolhas e decisões que afetam suas vidas.

A palavra soberania é bastante utilizada por organizações de pequenos produtores rurais e profissionais do ramo quando eles falam de soberania alimentar ou de soberania de sementes como um direito a autossuficiência, à produção e propriedade local, à tomada de decisões conscientes e de livre escolha, e não sujeitas às vontades e caprichos dos que estão fora e que podem procurar controlar ou explorar seu trabalho.

Soberania é um termo particularmente poderoso quando aplicado às organizações, por trazer para esse âmbito essas mesmas qualidades autênticas, essa resiliência adquirida por si própria, essa identidade construída de dentro para fora, essa ideia de uma organização como a expressão da vontade dos seus próprios constituintes. Deve ficar claro que os direitos, inclusive o da soberania alimentar, só podem existir se estiverem enraizados em organizações fortes e soberanas.

Alguns dos principais aspectos da identidade de uma organização ou de um movimento soberano:

·         Essa organização se esforça para conhecer e trabalhar a partir da sua própria intenção. Ela funciona “a partir de” e “com” princípios e valores claros, tendo a coragem de se manter fiel a eles;

·         É uma expressão autêntica da vontade e da voz dos seus próprios constituintes. Ela pode prestar serviços, mas não se presta a servir aos propósitos de outra organização e, embora possa aceitar financiamento, não é um veículo de desenvolvimento dos projetos financiados pelas agências de fora;

·         Uma organização soberana é culturalmente e estruturalmente única: não um clone de algumas “melhores práticas” de um modelo externo;

·         Uma organização soberana é politicamente consciente, conhece seus direitos e responsabilidades e compreende as relações de poder de que faz parte;

·         Uma organização soberana é capaz de cooperar e trabalhar com colegas e parceiros, sem perder sua identidade. Soberania não denota um comportamento isolado, embora possa haver fases de independência, de desenvolvimento interno e de busca pela própria identidade, antes de se abrir para a colaboração;

·         Soberania é tanto uma qualidade, quanto um processo de aprendizagem contínua. A capacidade de aprender e de se adaptar vai determinar a sua soberania em um mundo mutante e volátil. Portanto, vai determinar o crescimento de sua eficácia. Uma organização soberana aprende com muitas e variadas fontes, principalmente a partir de sua própria experiência, mas também por meio de suas diversas relações horizontais de aprendizagem.

Soberania é tanto uma qualidade organizacional a ser desenvolvida, como um direito a ser respeitado e defendido. Se desenvolvimento diz respeito à mudança ou transformação do poder, deve haver um conceito que defina o lugar em que esse poder possa ser mantido com legitimidade e sustentabilidade. As organizações locais e os movimentos sociais soberanos parecem ser o local óbvio para isso.

As tentativas de importar modelos de organização têm se mostrado propensas a matar as iniciativas locais e a falhar por não conseguir fazer com que as pessoas se apropriem desses modelos.

Testemunhamos organizações comunitárias, movimentos e organizações locais buscando continuamente se realinhar para conseguir financiamento e, nesse esforço, vão adaptando o seu trabalho, a sua linguagem, a sua estrutura, ou seja, toda a sua vida, aos modelos instituídos pelos financiamentos de projetos de curto prazo e seus restritos ciclos de projetos. As organizações locais acabam sendo prestadoras de serviço dos financiadores e do governo, para que estes alcancem os objetivos dos seus projetos que, na realidade, foram externamente formulados, contando com alguns poucos processos participativos que possam trazer um sabor local. E tudo isso, ainda, apoiado por organizações sociais e consultores profissionais, que também estão competindo por financiamento e pela prestação de contas feita a partir dessas medidas externas. Soberania é algo difícil de alcançar.

No entanto, a situação está longe de ser desesperadora. Existem organizações e movimentos de soberania em todos os continentes resistindo a esta tendência, muitas vezes apoiados por financiadores e organizações sociais com uma abordagem de desenvolvimento diferenciada. O setor social precisa procurá-los e aprender com eles. Existem muitas iniciativas, programas e projetos que são muito promissores, desde que possam se ajustar ou se transformar no sentido de integrar uma abordagem mais organizacional.

Os profissionais de desenvolvimento, incluindo os financiadores, devem prestar mais atenção ao conceito de organização em si e também à prática de facilitar o desenvolvimento de organizações locais e de movimentos sociais autênticos e soberanos. Pode haver um crescente corpo de profissionais de desenvolvimento organizacional trazendo essa abordagem de desenvolvimento, mas acreditamos que isso precisa ser aprendido por mais gente e se tornar o foco da prática do setor de desenvolvimento social como um todo e não apenas em uma parte deste segmento.

É necessário olhar com calma para aquilo que está vivo nas comunidades, o que é autêntico, o que tem potencial, acompanhado de um profundo respeito pelo que é local e nativo e de uma prática sutil que possa dar um suporte bem pensado e cuidadoso onde for preciso. Isso também exige a presença de facilitadores e financiadores que estejam trabalhando em sua própria soberania, observando seus propósitos e valores derivados das necessidades e direitos das pessoas e organizações que eles escolheram apoiar.

Se você me der um peixe,
Você terá me alimentado por um dia.
Se você me ensinar a pescar,
Então você terá me alimentado
Até que o rio esteja contaminado
Ou sua margem tenha sido ocupada pelo desenvolvimento.
Mas se você me ensinar a me organizar,
Então, qualquer que seja o desafio,
Eu poderei me unir a meus pares
E, juntos,
Inventaremos nossa própria solução.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Assembleia da AMARJUMA aprova planejamento e elege nova diretoria



Nos dias 12 e 13 de janeiro, participei com Rachel Ribeiro Lange, assessora de campo do IEB da Assembleia Geral Ordinária da Associação dos Moradores e Amigos da RDS do Juma – AMARJUMA. Por volta de 200 associados se reuniram na quadra de esportes da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Novo Aripuanã – AM, para aprovar a prestação de contas da diretoria que estava encerrando seu mandato de 4 anos; aprovar o Plano de Ação, elaborado de forma participativa nas comunidades e eleger a nova diretoria.

Para a prestação de contas foram elaborados relatórios financeiros anuais em planilha eletrônica desde 2008, quando a associação foi fundada, até 2012, com resumos para facilitar a apresentação e a compreensão por parte dos associados. Os documentos contábeis foram organizados em pastas por ano e separados por mês. Com auxílio de projetor multimídia, os resumos dos relatórios foram expostos e explicados pelo então presidente da AMARJUMA. Após a apresentação, foram dados os esclarecimentos solicitados por alguns dos presentes. Questionado sobre dívidas da associação, o presidente afirmou que todos os compromissos foram saldados; a situação diante dos órgãos governamentais será regularizada neste ano com a viabilização de recursos para a contratação de um contador através do Bolsa Floresta Associação; com a avaliação de que a prestação de contas foi muito breve, foi esclarecido que os relatórios financeiros contêm todos os lançamentos, detalhadamente e todos os comprovantes estavam ali à disposição para quem quisesse consultar, porém seria muito demorado e cansativo expor todos os detalhes. Por isso é importante a atuação do Conselho Fiscal para analisar os relatórios e os documentos antecipadamente e emitir parecer para a assembléia. As contas foram aprovadas.

Foi feita uma exposição sobre o que é uma associação e como funciona, destacando que ela é constituída principalmente por pessoas dispostas a trabalhar juntas e com objetivos claros; que dividir tarefas é fundamental para que haja maior participação, maior capacidade de trabalho e formação de novas lideranças. Em seguida foi apresentado o Plano de Ação, elaborado com a participação das comunidades e validado pelas lideranças em 2012, com ações voltadas para Geração de Renda e Segurança Alimentar; Vigilância e Fiscalização da RDS; Atendimento à Saúde; Educação Escolar; Comunicação e Desenvolvimento Organizacional da AMARJUMA. Depois de algumas mudanças propostas pela assembléia, o Plano foi aprovado.

Merece destaque a criação de grupos responsáveis pela execução de cada uma das linhas de ação e o encaminhamento para que sejam escolhidos representantes em cada comunidade e estes, entre si, escolham o representante de cada setor, para serem os articuladores e animadores da associação nas comunidades, viabilizando a capilaridade da associação e estreitando a relação da diretoria com os associados.

Três chapas concorreram à Diretoria e Conselho Fiscal. Depois de cada uma ter exposto sua proposta de trabalho para os próximos 4 anos, foi realizada a votação. Com auxílio de uma planilha eletrônica e projetor multimídia foi feita a apuração dos 162 votos e os presentes puderam acompanhar em tempo real pelo “painel eletrônico”. Assim que terminou a apuração a nova diretoria e o conselho foram aclamados e empossados e o novo presidente encerrou os trabalhos conclamando a todos para trabalharem juntos na gestão que se inicia.