Neste mês de dezembro fui facilitador em Macapá-AP de uma oficina de gestão administrativa e financeira para um grupo de mulheres indígenas, de várias etnias, da Terra Indígena do Parque do Tumucumaque. Promovida pelo Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, a oficina é uma das atividades do projeto Tecendo a Arte, Tecendo a Vida, financiado pela Caixa Econômica Federal.
As Artesãs do Tumucumaque fazem um artesanato belíssimo com miçangas e com maramara (uma semente típica da região), desde peças tradicionais usadas em festas até bolsas, porta-caneta e porta-celular. Ainda não comercializam sistematicamente: fazem pequenas vendas eventuais e, recentemente, venderam dezenas de peças para o acervo do Museu do Índio, do Rio de Janeiro. Querem gerar renda, fortalecer a cultura entre os mais jovens e difundi-la para não indígenas.
A oficina teve como objetivo organizar melhor o grupo, definir preço, controles de compra e venda de artesanato e materiais, de estoque e financeiro e buscar alternativas de mercado para tornar a atividade constante.
O Museu do Índio vai expor as peças adquiridas delas de junho a agosto de 2012. Na ocasião, vai montar um ponto de venda no próprio museu. Ofereceu as miçangas, linhas e agulhas para que possam produzir e vender durante aqueles meses.
A oficina se propôs a prepará-las para esta demanda imediata, o que, ao mesmo tempo, prepararia para a continuidade da atividade depois de terminada a exposição.
Um aspecto importante foi explicar a necessidade de terem um capital de giro para não dependerem sempre de doações de materiais e pagarem à vista as artesãs. Foi proposto aproveitarem a doação do museu: se descontassem do preço da venda o valor dos materiais poderiam ter o retorno do capital para comprar novos materiais e peças para a venda. Também foi ressaltada a importância de preverem o pagamento de despesas administrativas como embalagens, etiquetas, emissão de nota fiscal, etc.
Entenderam bem o que é capital de giro quando foi dito que “é o karakuri (dinheiro) que vai passear e volta” para ser novamente investido na produção, o que vai sendo feito indefinidamente. Para quebrar a resistência inicial ao pagamento dos materiais utilizados, o que não tem sido feito até agora, foi explicado que todas as atividades tem um custo. Um comerciante não fica com todo o dinheiro que consegue com a venda das mercadorias. Precisa comprar novas mercadorias para vender, pagar funcionários, impostos, embalagens, entre várias outras despesas. A produção e comercialização de artesanato também tem custos: miçanga, agulha, linha e algumas despesas administrativas.
Para ficar mais claro, foi simulado todo o processo, desde a aquisição dos materiais até a venda e o pagamento da mão de obra, dos materiais e da administração. Usando dinheiro fictício ficou bem claro “para onde vai o dinheiro da venda”.
Foi feita a composição de preço de várias peças com a participação efetiva delas dizendo quanto gastavam de material e quanto avaliavam ser justo receber pelo seu trabalho.
Treinaram a elaboração manual e com planilha eletrônica dos controles de retirada e pagamento de materiais, entrega e pagamento de artesanato, estoque e financeiro.
Dividiram entre si as tarefas para organizar o trabalho em Macapá e nas aldeias e quais seriam as atribuições de cada grupo.
Foi incluída na programação inicial, a pedido delas, uma simulação de venda para se familiarizarem com a forma de abordar os clientes, oferecer os produtos e vencerem a timidez que têm neste momento.
Apesar de terem muita dificuldade com a língua portuguesa e com a matemática, além de grande parte do grupo estar tomando conhecimento desses temas pela primeira vez, ficaram bem animadas com o que aprenderam e deixaram claro que vão precisar de apoio e mais oportunidades de aprendizado para gerirem de forma autônoma sua atividade.
Outro fator importante é que o Iepé deixou claro desde o início da oficina que dará todo o apoio e assessoria necessário, mas não assumirá tarefas que são delas, já que “O objetivo principal é proporcionar a criação de um espaço de promoção social e econômica, protagonizado e organizado por estas mulheres.”
Strabeli,
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa... vou recomendar para meus contatos...
abraços e Feliz natal e ano novo
Deroní Mendes
Oi Strabeli, muito legal seu blog e todo seu trabalho. Adorei ver as Artesãs do Tumucumaque aqui, e tenho certeza que sua oficina foi iluminadora para elas!
ResponderExcluirUm grande abraço e tudo de bom em 2012.
Denise