Quando eu era professor de geografia, ao ensinar para as turmas de ensino médio o que é um espaço geográfico, aquele que é transformado pela ação humana, costumava ler para os alunos a descrição bíblica do Jardim do Edem em Gênesis, capítulo 1. Pedia que durante a leitura eles fechassem os olhos e imaginassem a paisagem descrita pelo texto.
Ao terminar, pedia que se levantassem, fossem até as janelas
e vissem em que nós havíamos transformado, naquele bairro de São Paulo, a
criação divina:
Depois de alguns minutos para compararem o que haviam
imaginado, que ainda existe em muitos lugares do mundo e do Brasil em estado
natural ou bastante preservado, com o bairro onde moravam e estudavam,
refletíamos se havíamos melhorado a natureza, criando bem-estar e qualidade de
vida com as transformações que havíamos feito no espaço. Invariavelmente a
resposta era que não.
Então, eu perguntava a eles como se sentiam naquele lugar onde os lotes
residenciais eram de 200 ou 250 m2, com as casas
grudadas umas nas outras ou prédios em lotes um pouco maiores e como seria se os lotes
fossem de 500 ou 1.000 m2, com as casas em meio a jardim, árvores e algumas
plantações. É claro que os olhos brilhavam com a segunda opção.
E por que as nossas cidades não são planejadas para nos dar essa
qualidade de vida? Porque o foco no crescimento, na industrialização e a
especulação imobiliária tornam os terrenos cada vez mais caros e a concentração se torna necessária para gerar cada vez mais lucro para os especuladores. É o
desenvolvimento pensado sem o bem viver da população.
Anos depois, fui morar em um lugar como imaginávamos
naquelas aulas, em Itupeva, no interior de São Paulo:
Mas, quando não aprendemos com a história, corremos o risco
de repetir os mesmos erros e é isso que o prefeito de Itupeva está fazendo. Festejou
recentemente que a população da cidade cresceu 60% (na verdade, 57,42%) desde o censo de 2010 até o
mais recente, de 2022 enquanto a população brasileira cresceu 6,5% no mesmo período; festeja cada nova empresa que é instalada na cidade e já
transformou durante os seus quase 7 anos de mandato, com a cumplicidade da
Câmara Municipal, vários milhões de metros quadrados de áreas rurais em urbanas
para novos empreendimentos industriais e residenciais, que estão se espalhando
por vários bairros, inclusive com lotes de 250 m2, como neste loteamento recente perto de onde eu moro:
Não entendo por que cidades pequenas do interior querem ser
grandes como as metrópoles e passar a conviver com a falta de qualidade de vida
que existe nelas.
Não é desenvolvimento de verdade o crescimento de uma cidade
que não priorize o bem viver da sua população.