Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A ESCOLHA DOS ORGANIZADORES, DO CARDÁPIO E AS REFEIÇÕES – Uma alegoria sobre eleições e governos


Os moradores faziam todas as refeições juntos. Para isso, a cada 4 anos, escolhiam as pessoas que iriam coletar o dinheiro que cada um dava de acordo com o que ganhava, cuidar do salão, móveis e utensílios, comprar os ingredientes, contratar cozinheiros e garçons e organizar o café da manhã, almoço e jantar para todos, pelos 4 anos seguintes.

Nunca ninguém entendeu muito bem porque tinha vários grupos que se organizavam para serem os escolhidos para fazer este trabalho. Está certo que o salário era bom, mas eles gastavam uma fortuna para serem escolhidos. Contratavam especialistas para preparar os cardápios, imprimiam com fotos bem atraentes e distribuíam para a população. Cada um queria convencer mais gente de que o seu cardápio era o melhor e que ele era o melhor organizador de refeições.

Alguns diziam que já faziam isso há bastante tempo e tinham muita experiência, por isso deviam ser escolhidos. Outros diziam que eram melhores porque eram novos no ramo e seriam inovadores ao oferecer comida de melhor qualidade, mais variada, saborosa e a um custo mais baixo do que os outros. Assim, com o dinheiro arrecadado ainda iriam reformar e ampliar o salão onde as refeições eram servidas, comprar móveis e utensílios novos e contratar mais pessoas para que todos fossem servidos mais rapidamente e ficassem mais satisfeitos. Um verdadeiro milagre!!

A verdade é que as mesmas pessoas se revezavam entre os grupos como em uma “dança das cadeiras”. Tinha gente que cada vez estava em um grupo diferente. Também apareciam pessoas novas, mas não eram tão novas como diziam e pareciam. Às vezes criavam um grupo novo e, quando se ia ver, eram pessoas que antes estavam em outros grupos... Os cardápios eram basicamente iguais. Mudava um molho, um ingrediente, mas a diferença era mais na aparência do que na substância.

Entrava ano e saía ano e ficava praticamente tudo igual. Muitas pessoas iam desanimando e pensavam que não adiantava ficar escolhendo muito quem ia organizar, porque no final tudo continuaria do mesmo jeito.

Nas refeições, enquanto alguns se empanturravam de comida; outros tentavam comer e não conseguiam, outros nem tentavam, porque sabiam que não iam conseguir comer; vários saiam com a comida “entalada na goela”. A maior parte das pessoas ficava do lado de fora e quando reclamavam:

- Calma, pessoal! Todo mundo vai comer. Quando quem está lá dentro terminar, eu trago aqui para vocês. Assim vão poder comer com calma e tudo o que quiserem, sem pressa. Tenham paciência. É que vocês pagaram só um pouquinho.

- Pagamos pouco porque ganhamos pouco. Por causa disso vamos comer os restos dos outros?

- Tudo aqui é da melhor qualidade, vocês podem ter certeza! Eu mesmo prefiro comer aqui com vocês do que lá dentro.

- E vamos ficar aqui em pé?

- Ao ar livre! Olha, que beleza!!

Os organizadores diziam para os insatisfeitos que eles eram todos uns ingratos, que todo mundo teve várias opções para escolher, inclusive opções novas que são introduzidas toda vez, que foi respeitada a escolha de todos e que dava um trabalhão para preparar e servir aquelas refeições e, ao invés de reconhecer a dedicação deles, ficavam reclamando.

- Vocês são é uma cambada de baderneiros, que nunca estão contentes com nada!

Acontece que, mesmo os pratos que pareciam ser diferentes, não eram diferentes de verdade. E o pior é que sempre usavam o mesmo tempero e cozinhavam da mesma forma, então, por mais que se mudasse os ingredientes, a comida tinha sempre o mesmo gosto e fazia o mesmo efeito indigesto.

Notavam também que a comida servida não era bem o que tinham mostrado nas fotos durante a consulta para a escolha dos organizadores. Com frequência os ingredientes não eram de qualidade. Muitas vezes eram até estragados. A comida era mal cozida e mal servida. As pessoas foram notando que alguns pratos eram servidos só para os organizadores e seus amigos e outros para o restante da mesa. Falava-se até que os organizadores “ganhavam por fora” na hora de reformar o salão, de comprar os ingredientes, mesas, cadeiras, pratos, copos e talheres e até ao contratar cozinheiros e garçons.

A insatisfação foi crescendo, até entre convidados de fora, e cada vez mais pessoas foram deixando de “fazer de conta” e se recusavam a “escolher sempre mais do mesmo”; cada vez mais pessoas reclamavam na hora das refeições; cada vez mais os que ficavam de fora aumentavam em número, organização e reclamações.

Os organizadores foram ficando cada vez mais preocupados e pensando que precisavam mudar o jeito de fazer as coisas...