Cidadania também é para fazer juntos!

CIDADANIA TAMBÉM É PARA FAZER JUNTOS!

Associação é para fazer juntos. O título desta publicação, lançada pelo IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, no início de dezembro de 2011, já exprime o que será tratado em seus capítulos: que a criação de uma associação deve ser resultado de um processo coletivo e sua atuação deve ser marcada também pela participação efetiva de seus associados.


É o resultado de 10 anos de trabalho com organizações comunitárias e regionais indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, agricultores familiares e outros, aprofundando e atualizando o que já foi publicado anteriormente em Gestão de associações no dia-a-dia.

Este blog nasceu como um espaço para troca de conhecimentos e experiências de quem trabalha para o desenvolvimento de organizações comunitárias e outras.

A partir de 2018 passou a ser também um espaço para troca de ideias e experiências de fortalecimento da cidadania exercida no dia-a-dia, partilhando conhecimento e reflexões, produzindo e disseminando informações, participando de debates, dando sugestões, fazendo denúncias, estimulando a participação de mais pessoas na gestão das cidades onde vivem.

Quem se dispuser a publicar aqui suas reflexões e experiências pode enviar para jose.strabeli@gmail.com. Todas as postagens dos materiais enviados serão identificadas com o crédito de seus autores.

É estimulada a reprodução, publicação e uso dos materiais aqui publicados, desde que não seja para fins comerciais, bastando a citação da fonte.

José Strabeli




domingo, 8 de abril de 2018

Associações e desenvolvimento da cidadania


Já tratamos neste blog algumas vezes que uma associação é, fundamentalmente, a união de pessoas em torno de objetivos comuns, de caráter social, como inclusive estabelece o Código Civil Brasileiro. Também já refletimos várias vezes sobre a necessidade ou não de criar uma organização formal, registrada em cartório e com CNPJ para unir pessoas e objetivos para o desenvolvimento comunitário, garantia de direitos legalmente adquiridos, melhoria das condições de vida e maior participação na gestão comunitária, do município, ou mesmo do estado ou país. Além de organizações formais, foram apresentadas experiências de organizações informais que têm conseguido muitos resultados importantes.

Trabalhei durante 16 anos com ONGs e organizações comunitárias indígenas, quilombolas, de ribeirinhos, pescadores artesanais, artesãos e outros em quase metade dos estados do Brasil: 0s nove da Amazônia, inclusive Mato Grosso e Maranhão, Bahia, Espírito Santo e São Paulo. Desde o final de 2011, quando foi publicado o livro Associação é para fazer juntos, partilhei aqui as experiências de trabalho de desenvolvimento organizacional de associações formais e informais, em 118 postagens.

Em meados de 2016 aposentei pelo sistema previdenciário oficial, depois de 38 anos de contribuição e mantive apenas alguns compromissos já assumidos, até final de 2017, quando deixei definitivamente de atuar profissionalmente como consultor para o desenvolvimento de organizações e projetos comunitários. Por isso as postagens em 2016 diminuíram drasticamente e em 2017 foi feita apenas uma e última postagem, em abril, pelo que peço desculpas aos leitores que me acompanharam durante esses anos. É que eu sempre pensei que se não temos nada de novo para dizer, é melhor ficar em silêncio e, uma vez que as atividades práticas estavam cessando, não iria provocar enfado com teorizações. Não tenho dúvidas de que uma teoria só é realmente boa quando tem sua eficácia testada e aprovada na prática.

Bom, desde que mudei para uma pequena chácara em Itupeva, no interior de São Paulo, em 2008, me sentia em dívida com a cidade, por contribuir com o desenvolvimento comunitário pelo Brasil a fora e não fazer nada na cidade que adotei como minha. O que acontecia é que passava três ou quatro semanas por mês viajando a trabalho e não tinha tempo hábil para qualquer ação local.

Uma vez aposentado e em tempo integral na cidade comecei a pensar e conversar com algumas pessoas sobre o que fazer.

Me lembrei que alguns anos antes tinha simpatizado muito com uma ação experimentada em várias cidades do Brasil, que consistia em deixar livros em lugares públicos como rodoviárias, pontos de ônibus, restaurantes, praças, parques, bancos, padarias ou outro lugar qualquer, para que as pessoas interessadas levassem para se distrair e ter acesso à cultura. Um marcador de livro estimulava a quem pegasse o livro, que lesse e depois deixasse para mais alguém. Também poderia da mesma forma, deixar para outras pessoas os livros que tivessem em casa e não fossem mais ler.

Olhei para a minha pequena estante com falta de espaço para novos livros e resolvi desapegar de publicações literárias, de educação, ecologia e outros assuntos para “deixá-los livres para voar” e que outras pessoas pudessem desfrutar deles como eu já tinha feito antes. Desde dezembro de 2017 já foram deixados pela cidade mais de 80 livros. Quem quiser saber mais detalhes, pode ver em https://www.facebook.com/leveestelivro.itupeva. Apesar de uma certa nostalgia de velhos companheiros, estou feliz de estar partilhando meus livros com outras pessoas que talvez tivessem dificuldade de acesso à cultura de outra forma.

Quis conhecer melhor a história de Itupeva e, consultando a bibliografia e arquivos disponíveis na internet, vi que tinha muito pouca coisa e nenhum trabalho sistemático sobre a sua história. Pensei sobre a importância de fazer isso, mas com pouco conhecimentos na cidade, não sabia por onde começar, até que um amigo na minha lista no facebook publicou que fazia parte de um grupo com esse objetivo. Me ofereci para fazer parte e fui aceito. Estamos fazendo a pesquisa bibliográfica e entrevistas para recuperar uma história que remonta aos povos indígenas que viveram na região, bandeirantes, concessionários de sesmarias, barões do café, imigrantes europeus em especial italianos, migrantes de várias cidades do estado de São Paulo e regiões do Brasil, que fizeram da cidade o que ela é hoje.

Neste grupo, conheci uma pessoa que faz mensalmente uma feira, Leva e Traz, de troca e empréstimo de livros. Sua base são alguns milhares de livros que foram disponibilizados para que fizesse essa atividade. Vendo o objetivo comum que une Leva e Traz com Leve este Livro Itupeva, estamos trabalhando em parceria, um divulgando o trabalho do outro e, quando tem feira, recebo livros em doação, que são distribuídos pelo local com o marcador do Leve este Livro Itupeva e um folheto da Leva e Traz.

Alguns conhecidos dessa pessoa tiveram a iniciativa de implantar, em parceria com a prefeitura municipal, um poste da paz em uma das praças da cidade. Para saber mais sobre essa iniciativa, que é internacional, veja http://www.itu.com.br/cotidiano/noticia/simbolo-internacional-poste-da-paz-e-inaugurado-em-itu-20151029 ou qualquer outra das milhões de notícias que pode encontrar através do Google. 

Está sendo viabilizada uma proposta de revitalização da Praça da Bíblia, onde o poste foi instalado, transformando-a em uma praça de cultura e lazer, aberta à toda a população da cidade e turistas.

A atual gestão do município, iniciada em 2017, herdou uma dívida superior à arrecadação anual. O atual prefeito se queixa que essa dívida tem limitado a sua ação para o desenvolvimento da cidade e muitas pessoas se queixam, principalmente no facebook, da falta de qualidade dos serviços prestados pela administração municipal. Seria bem-vindo um Observatório da Sociedade Civil para acompanhar e fiscalizar a elaboração e execução do orçamento, experiência já adotada em várias cidades brasileiras. Isso poderia levar a adoção de um Orçamento Participativo, também uma experiência já feita em vários lugares. Um Fórum Social Municipal, que congregue organizações de bairro e outras da cidade, empresários e poder público, experiência também já adotada em muitas cidades, poderia contribuir para a definição de prioridades de investimento e solução de problemas do município.

Cabe ressaltar que todas essas ações são e poderão continuar a ser feitas por pessoas que têm a sua profissão ou são aposentadas como eu e que queiram disponibilizar parte do seu tempo para ações de interesse coletivo. Não envolvem, necessariamente, trabalho remunerado ou a formalização, com o ônus da burocracia e despesas que acompanham o registro, de uma associação.

Por isso, a partir de agora, esse blog passará a relatar experiências de desenvolvimento da cidadania, que podem inspirar a implementação de experiência similares em qualquer lugar do Brasil ou mesmo de outros países. É preciso nos apropriarmos e nos responsabilizarmos pelo futuro da nossa cidade, estado ou país. Afinal, Associação, formal ou informal; no campo, na cidade ou na floresta; nos sítios, terras indígenas ou quilombolas; na beira-rio ou beira-mar, é para fazer juntos.


Falo também em outros países porque a internet rompeu fronteiras e, nesses sete anos, pessoas de 99 nações têm visualizado as experiências aqui publicadas.