Desde
os primeiros cursos e oficinas que facilitei sobre Diagnóstico e Planejamento
Participativos para lideranças comunitárias, me deparei com o dilema
apresentado por eles ao final: “foi muito bom
aprender as metodologias de diagnóstico, como fazer planejamento, os exercícios
que fizemos para aprender praticando, mas não nos sentimos preparados para fazer
isso na nossa comunidade. Vocês dão assessoria para nós fazermos pelo menos nas
primeiras vezes, até nos sentirmos mais seguros?”
Mesmo
em cursos modulares de elaboração de projetos, nos quais os participantes
deveriam fazer o diagnóstico em suas comunidades após o módulo presencial sobre
o assunto para, depois, elaborarem o projeto no módulo seguinte a partir do
planejamento feito nas comunidades, o resultado sempre foi muito menor do que o
esperado. Isso nos remete a uma reflexão já feita aqui sobre os limites das
atividades formativas ou de capacitação para o desenvolvimento de organizações
comunitárias.
No
ano passado estive à frente de um programa de desenvolvimento de organizações
comunitárias que teve como um de seus resultados a fundação da associação. No
mês seguinte, iniciando outra atividade, perguntei aos diretores eleitos o que
fariam agora que a associação tinha sido fundada. Responderam que não sabiam. Ponderei
com eles que não sabiam porque não tinham planejado junto com os associados o
que fariam com “aquela ferramenta que tinham adquirido” e, para planejar, é
preciso ter claro quais são os principais problemas a serem resolvidos ou
melhorias a serem conquistadas.
Este
foi o mote para introduzir a oficina sobre diagnóstico e planejamento que
realizaríamos naqueles dias, a primeira das três que compunham um Curso de
Elaboração de Projetos. Se não identificamos os problemas e necessidades da
comunidade e não planejamos o trabalho que deve ser feito através da
associação, não sabemos o que fazer e a associação fica paralisada.
Após
esclarecer o conceito e a importância do diagnóstico e da necessidade dele ser
participativo, foram apresentadas e exercitadas algumas metodologias de
Diagnóstico Rápido Participativo e de realização do planejamento, utilizando
uma Matriz. Ficaram de fazer essas atividades nas comunidades antes da oficina
seguinte, de elaboração de projetos. O resultado não foi diferente daqueles
vistos em oficinas anteriores. No máximo, identificaram algumas atividades
potenciais de geração de renda, para as quais precisavam de investimentos.
Neste
ano, outro programa com as mesmas comunidades, também previa capacitação neste
assunto. Optamos pela capacitação em serviço e, ao invés de mais um curso,
facilitei o processo de diagnóstico e planejamento nas comunidades.
Anteriormente
já havia pedido às lideranças que escolhessem um grupo de mais ou menos 10
pessoas, formado pelos diretores da associação e mais algumas pessoas que
avaliavam que poderiam contribuir diretamente com o processo.
Inicialmente
fizemos uma leitura dialogada do capítulo 8 do livro Associação é para fazer juntos:
Conhecendo e priorizando os problemas. Depois de destacados os aspectos
principais e esclarecidas as dúvidas, decidimos que a Chuva de Ideias seria a
metodologia mais adequada para iniciar o diagnóstico.
A
comunidade foi reunida e, depois de explicado o objetivo, foi feita a Chuva de
Ideias. Como os problemas apresentados estavam focados nas necessidades mais
importantes e não eram muito numerosos, não foi preciso fazer a priorização.
Decidiram que era possível e importante que a associação tratasse do seu
conjunto nos próximos 2 anos, período definido para o planejamento, que
coincidia com o restante do mandato da primeira diretoria da associação. Foi
aproveitada a oportunidade para que os presentes dessem mais informações sobre
cada um dos problemas, o que orientaria melhor o uso das demais metodologias.
Com
este primeiro passo dado, o grupo voltou a se reunir e definiu que, para
aprofundar o conhecimento sobre os problemas levantados com a comunidade, o
mais adequado seria fazerem Entrevistas Semiestruturadas. Divididos em grupos
por problema, de acordo com a afinidade de cada um, elaboraram as perguntas básicas
e saíram pela comunidade entrevistando as pessoas, tomando o cuidado de
procurar aqueles que tivessem informações relevantes para dar e sob vários
pontos de vista, por exemplo, os enfermeiros, os agentes de saúde, pacientes,
lideranças sobre o atendimento à saúde.
As
entrevistas foram sistematizadas, algumas por mim, dada a dificuldade de alguns
para escrever. Outros grupos já entregaram as entrevistas sistematizadas. O
grupo avaliou as informações conseguidas e o que mais precisavam saber para
conhecerem bem os problemas para poderem planejar adequadamente como
superá-los.
Sobre
a necessidade de ter ensino médio nas comunidades para os jovens continuarem
seus estudos, verificaram que não tinham muitas informações sobre o processo de
reivindicação das comunidades, iniciado há mais ou menos 10 anos. Decidiram
fazer um Perfil Histórico e, para isso, foram buscar mais informações com um
professor que tem acompanhado de perto esse processo. O perfil foi feito em uma
faixa de papel, tendo sido importante também para visualizarem que teve um
período de alguns anos em que o governo não se pronunciou e a comunidade também
não interferiu para agilizar a conquista. Isso foi refletido depois com a
comunidade e decidiram que “não podem ficar parados”.
Sobre
a rede de distribuição de água, que não atende a todas as casas, fizeram, mesmo
que de forma não muito sistemática, uma Caminhada Transversal para verificar
quais as casas tinham torneira e quais não tinham para fazer um Mapeamento
Participativo. Nele foi verificado que não eram muitas as casas sem acesso à
água e a distância destas para as que tinham não era longa, de forma que não
seria exigido um investimento significativo para que todas fossem atendidas.
Também
foi feito um mapa sobre a invasão de pescadores, identificando os pontos em que
foram vistos recentemente turistas das pousadas próximas pescando em área das
comunidades.
Sobre
outros problemas tratados, avaliaram que as informações eram suficientes e que
outras metodologias não ajudariam a melhorar o conhecimento.
A comunidade
foi novamente reunida para validar o diagnóstico. Novas informações foram
incorporadas, esclarecendo ainda mais as causas e efeitos daqueles problemas.
Concluído
e validado o diagnóstico, foi feito o planejamento. Com uma Matriz de
Planejamento exposta com um projetor multimídia, foram utilizados como
objetivos gerais os objetivos da associação, constantes em seu Estatuto,
demonstrando que as ações de fato contribuiriam para atingir os objetivos que definiram
ao fundá-la. Os objetivos específicos foram formulados a partir dos problemas apresentados,
definindo a situação que desejavam ter no lugar daquela indesejável que estavam
vivendo.
A
partir dos objetivos, foram sendo definidos com a intervenção constante de quem
desejasse, as atividades que seriam realizadas, os resultados que previam
alcançar com elas, os recursos necessários para a sua realização, os
responsáveis pela sua organização e execução e as organizações privadas e
governamentais que poderiam contribuir de alguma forma como parceiros. Foram
escolhidos responsáveis de acordo com o conhecimento, experiência e afinidade
com cada tema, o que pode levar a uma futura formação de grupos de trabalho,
coordenações ou departamentos dentro da associação.
O
Plano de Trabalho será apresentado para apreciação dos associados na próxima
assembleia.