Em vários momentos fui confrontado com
esses conceitos ao planejar ou discutir estratégias e metodologias de troca e
construção de conhecimentos e práticas para o desenvolvimento comunitário e de
suas organizações, assim como o papel do “professor”, “facilitador”,
“formador”, “monitor”, entre outros.
Confesso que nunca tive muita
paciência para esse debate que sempre me pareceu muito mais de natureza
semântica, uma vez que para mim sempre importou a postura que se adota: devemos
nos colocar como quem tem alguns conhecimentos e experiências que podem ser
importantes para aquelas pessoas e elas também têm; trocamos o que temos e
construímos juntos um novo conhecimento.
Já ouvi colegas de trabalho e outros
dizerem que o “verdadeiro” conhecimento é dos indígenas, ribeirinhos,
quilombolas e nós é quem temos que aprender com eles. Será que o conhecimento
empírico e intuitivo adquirido durante décadas ou séculos em suas comunidades
tradicionais é suficiente para atender a todos os desafios que enfrentam? Se assim
for, nós não temos papel e o trabalho que desenvolvemos não tem nenhuma
importância. Neste caso, devemos buscar algo mais produtivo a que se dedicar,
não é?
Implementar o “colonialismo cultural”,
acreditando que só o conhecimento técnico-acadêmico importa e as inúmeras
experiências e os conhecimentos com elas adquiridos não tem valor porque “não
são científicos”, também está longe de ser a melhor opção e já vi experiências
desastrosas que desconsideraram a realidade e o conhecimento local.
Vejamos alguns dos significados para
os conceitos apontados no título:
Formar:
transmitir
conhecimentos e práticas em um processo de ensino/aprendizagem.
Capacitar:
desenvolver
habilidades para que a pessoa esteja apta a desenvolver determinadas
atividades.
Qualificar:
desenvolver
qualidades para o exercício de uma profissão ou atividade.
Tenho me convencido cada vez mais de
que não somos capazes de formar, nem capacitar e nem qualificar ninguém, porque
a aquisição ou construção de conhecimentos não é um ato passivo. Só a própria
pessoa é capaz de aprender.
Acredito que podemos desempenhar um
papel importante se nos propusermos a facilitar
o caminho de quem deseja adquirir novos conhecimentos e construir novas
experiências. Uma metodologia adequada, que parta dos conhecimentos e
experiências locais, confrontada com os desafios a serem enfrentados e que
agregue de forma acessível novos conhecimentos e práticas pode levar à
elaboração de novos conhecimentos próprios daquele grupo e que contribua para
atingir os objetivos a que se propõem.
Não somos inúteis nem “salvadores da
pátria”, não somos senhores do processo e, por isso, não podemos formar,
capacitar ou qualificar lideranças comunitárias, por exemplo, porque aprender
ou apreender não depende principalmente de nós, mas dos sujeitos principais que
são as pessoas com quem trabalhamos.
Como facilitadores, podemos tornar mais fácil esse caminho ao reunir
e transmitir em linguagem mais acessível as diferentes abordagens sobre um
determinado assunto, “traduzir conceitos”, orientar pesquisas, partilhar
experiências realizadas em diferentes lugares e realidades, moderar debates e
auxiliar na síntese entre o conhecimento tradicional e os conhecimentos
técnico-acadêmicos.